Endireitei a postura e ergui o queixo, embora precisasse esticar o pescoço para olhá-la nos olhos.
"E ela quem é?" perguntei, minha voz saindo firme, mas cheia de raiva , pois eu já tinha uma ideia de quem ela era.
Os lábios perfeitamente pintados dela se curvaram em um sorriso presunçoso. "Eu sou a noiva."
As palavras pairaram no ar como uma bomba prestes a explodir. Virei-me lentamente para Benício, que estava pálido, como se tivesse levado um soco no estômago.
"Noiva?" Minha voz agora era um sussurro, carregado de incredulidade.
Ela não perdeu tempo em se gabar. "Querida Luana, você chegou justamente no dia do nosso noivado." A ênfase na palavra "nosso" foi como uma faca girando no meu peito. "Na verdade, você atrapalhou nosso noivado." Ela gargalhou, tentou soar como uma brincadeira, mas eu sabia que não era, como se eu tivesse invadido seu território. "Era para ser o meu dia, mas a amiguinha do meu noivo e futuro marido resolveu voltar da Europa e roubar os holofotes."
Fiquei sem palavras por um momento, meu coração martelando no peito. Tentei processar o que ela estava dizendo, mas tudo o que conseguia ouvir eram as palavras "noiva" e "nosso noivado" ecoando na minha mente.
"Noivado, Benício?" perguntei, encarando-o diretamente. O homem com quem eu acabara de transar no carro, entregando não só meu corpo, mas também meu coração.
"Luana, eu posso explicar," ele começou, mas sua voz parecia tão fraca quanto a confiança que eu tinha nele.
"Explicar o quê? Que vocês vão se casar?" Minha voz estava alta agora, e eu sabia que as pessoas ao redor começavam a nos notar.
"Luana, por favor, me deixa..."
Ele foi interrompido pela chegada dos nossos pais. Os rostos deles estavam iluminados de alegria, completamente alheios à tensão que pairava no ar. Meu pai me puxou para um abraço apertado, enquanto minha mãe enxugava os olhos emocionada.
"Filha, que saudades de você!" ela disse, segurando meu rosto entre as mãos.
"Bem-vinda de volta, querida," meu pai completou, sua voz cheia de orgulho.
Os pais de Benício se juntaram à confusão, abraçando-me como se eu fosse parte da família que sempre fui. Era uma cena quase perfeita, se não fosse pelo fato de que eu estava prestes a desmoronar.
Benício estava ao lado, a tensão evidente em seu rosto. A "noiva" permaneceu próxima, com os braços cruzados e uma expressão de pura irritação.
Enquanto todos me cumprimentavam, tudo o que eu conseguia pensar era: *Como ele pôde? Como eu fui tão idiota?*
Quando os abraços terminaram e os cumprimentos cessaram, finalmente consegui um momento de respiro. Minha mãe e minha madrinha me levaram para dentro da casa enquanto meu pai carregava as malas.
"Nós vamos ficar aqui?" perguntei à minha mãe, ainda tentando processar tudo.
"Sim, filha. Você sabe que é o noivado de Benício e Fiona, será alguns dias de festa e quero participar de tudo..." ela parou de falar.
Fiona. Claro que me lembrei do filme, mas a mulher real era uma princesa perfeita, e não uma ogra.
"Está tudo bem? Sabemos que você e o Ben..." minha mãe me puxou para um canto da sala e sussurrou.
"Mãe, por favor, pode parar. Está tudo bem. Benício pode fazer o que quiser da vida dele, eu não tenho nada a ver com isso," menti, tentando soar indiferente. "Estou feliz por ele. E pela tal ogra... Pela tal Fiona. De verdade, eu nem me lembro mais daquela época."
Como eu era patética. Feliz? Meu Deus, eu tinha acabado de transar com ele no carro, como podia fingir que estava tudo bem?
"Preciso de um banho," anunciei, sem esperar resposta.
Subi apressada para o quarto que sempre ficava reservado para mim: o antigo quarto do tio Matheus. O que tinha sido assassinado a anos atrás, ninguém tinha coragem de dormir ali por causa das histórias assustadoras que os empregados contavam, de coisas caindo durante a noite, de ouvirem passos ou até mesmo de ver o homem, mas eu sempre amei aquele espaço. Ao entrar, as memórias me atingiram como uma avalanche, tio Bruno sempre deixava tudo como estava, e eu gostava dali, mas as empurrei para um canto da minha mente, guardando tudo do meu passado numa caixinha e fui direto para o banheiro.
Aquele lugar era exatamente como eu me lembrava. Azulejos antigos, um deles com a assinatura dos Alcântara e Leão, um espelho desgastado, mas que ainda refletia as marcas do tempo. Abri o chuveiro e deixei a água quente cair sobre meu corpo, como se pudesse lavar as sensações do toque de Benício, dos seus beijos, e a humilhação de ouvir Fiona chamá-lo de noivo.
Saí do banho rapidamente, enrolada em uma toalha. Mas assim que abri a porta, meu coração quase saiu pela boca.
Benício estava lá, parado no meio do quarto, com as mãos nos bolsos.
"Você só pode estar brincando comigo," murmurei, paralisada. "Como você teve a audácia de vir até aqui?"
Ele não respondeu de imediato, apenas me olhou com aqueles olhos intensos que sempre me desarmavam.
"Precisamos conversar, Luana."
"Conversar?" Ri amargamente, tentando me recompor. "Depois de tudo, você quer conversar?"
Ele deu um passo à frente, mas não esperei. Peguei o porta-retrato do criado-mudo e atirei nele com toda a força.
"Seu filho da puta!"
Benício reagiu rápido, desviando, mas o objeto acertou seu braço. Um pequeno corte surgiu, e ele olhou para o machucado antes de me encarar.
"Luana, você tá louca?"
"Louca?" soltei uma gargalhada amarga. "Você ainda não viu nada, Benício."