Seus lábios eram quentes e exigentes, e o jeito como ele segurava minha cintura, como se temesse que eu pudesse fugir, dizia mais do que qualquer palavra. As mãos dele eram firmes, quase possessivas, enquanto os dedos pressionavam levemente minhas costas, me trazendo ainda mais para perto. A distância entre nós era inexistente, como se o universo tivesse decidido naquele momento que precisávamos nos fundir, nem que fosse por alguns segundos.
Minha mente gritava para eu parar aquilo. Ele não podia significar nada mais para mim. Não depois de tudo. Mas meu coração? Esse traidor insistia em relembrar o quanto eu já havia amado Benício Alcântara e Leão.
O beijo era uma dança. Nossas bocas se moviam como se fossem feitas para se encontrar, em um ritmo intenso, mas cheio de urgência. O gosto dele era familiar e ao mesmo tempo desconhecido, um paradoxo que me deixava ainda mais perdida. Meus dedos, sem que eu percebesse, subiram até seus ombros, agarrando o tecido impecável do seu terno.
Do canto dos olhos, percebi que algumas pessoas nos observavam, mas eu não me importava. Naquele momento, éramos apenas nós dois, envolvidos em uma bolha de sentimentos que há muito tempo não permitíamos sentir.
O céu, tingido de laranja pelo pôr do sol, parecia uma cena tirada diretamente de um filme de romance. Qualquer pessoa que nos visse pensaria estar diante de um casal apaixonado que finalmente havia se reencontrado. Mas a realidade era bem diferente. Não éramos duas pessoas celebrando o amor. Éramos duas almas machucadas, tentando, talvez inconscientemente, encontrar algum tipo de salvação uma na outra.
Eu sentia meu peito doer de tantas emoções misturadas. Havia raiva, saudade, mágoa... e algo mais. Algo que eu não queria admitir, mas que ainda estava ali, escondido em algum canto do meu coração.
Então, como se o universo quisesse nos lembrar da realidade, o som estridente de uma buzina de carro rasgou o ar. O barulho nos arrancou daquele momento.
Benício afastou a boca da minha, mas não se moveu. Seu rosto ainda estava tão perto que eu podia sentir sua respiração quente contra minha pele. Seus olhos continuavam fixos nos meus, mas agora estavam diferentes. Ainda intensos, mas havia algo mais. Talvez fosse arrependimento. Talvez fosse confusão. Ou talvez fosse algo que nem ele sabia explicar.
"Benicio..." Eu começou a falar, mas ele me interrompeu, segurando meu rosto com as duas mãos.
"Não diga nada, Luana. Não estrague isso." A voz dele saiu suave, quase como um sussurro.
O ar entre nós parecia carregado, como se o universo inteiro estivesse segurando a respiração, esperando para ver o que aconteceria a seguir.
Quando a buzina do carro atrás de nós soou como uma sirene, a magia do momento foi despedaçada. Eu ainda sentia os lábios de Benício nos meus, como se estivessem marcados ali, e, por um segundo, só conseguia encará-lo. Mas ele não me deu tempo para pensar.
"Vamos sair daqui." Sua voz era firme, autoritária.
Antes que eu pudesse reagir, ele segurou minha mão e me puxou em direção ao carro. Aquele toque era eletrizante, como se uma corrente percorresse meu corpo. Entrei no veículo, tentando recuperar o controle sobre mim mesma, mas o olhar que ele lançou antes de fechar a porta fez meu estômago revirar.
Benício deu a volta no carro, entrou e acelerou, deixando o aeroporto para trás. Eu fixei meus olhos na estrada, o silêncio entre nós quase tão ensurdecedor quanto a buzina de minutos atrás. Meu coração ainda batia descompassado, e eu não sabia se era por causa do beijo ou da presença dele, tão esmagadora.
Eu não sabia o que dizer. Como agir. Era como se eu estivesse pisando em terreno minado. Tudo o que eu queria era chegar à casa da minha madrinha, onde poderia me recompor e, talvez, fingir que nada disso tinha acontecido.
Mas algo estava errado. Não reconhecia o caminho que ele tomava.
"Para onde estamos indo?" Perguntei, finalmente quebrando o silêncio.
"Minha mãe está nos esperando no sítio."
Meu estômago deu um nó. Ele estava estendendo esse tempo juntos, e tudo em mim gritava que isso era uma péssima ideia. O cheiro amadeirado do perfume dele preenchia o carro, cada inspiração trazendo memórias que eu preferia deixar enterradas.
Olhei pela janela enquanto o cenário urbano dava lugar à serra, e a estrada começou a se estreitar. Reconheci o caminho de terra que levava ao sítio da família dele, um lugar que eu conhecia bem. Havia passado tantas tardes ali na minha adolescência, rindo, sonhando... e também sofrendo.
Mas algo mudou quando nos aproximamos de uma lagoa. Ele desviou para um caminho diferente, mais ermo, cercado por árvores que lançavam sombras longas sobre o carro.
"Por que você parou?" Perguntei, a voz mais firme do que eu esperava.
"Está com medo de mim, Luana?" Ele perguntou, a voz grave, mas quase provocadora.
Eu ri nervosamente, mais para me convencer do que por qualquer outra coisa. "Não, só quero chegar logo na casa da minha madrinha."
Ele desligou o carro e virou-se para mim, os olhos verdes perfurando os meus. "Luana..."
"É melhor a gente não falar sobre isso," cortei, tentando me proteger do turbilhão que ele estava prestes a desencadear.
Ele se inclinou, tão próximo que pude sentir a respiração dele contra minha pele. "Eu vou te beijar de novo."
E então, sem me dar tempo para protestar ou sequer pensar, ele fez exatamente isso.
O beijo foi intenso, rápido e inegavelmente arrebatador. Seus dedos encontraram meus cabelos, puxando-me para mais perto, como se ele quisesse apagar todos os anos de distância e mágoa com aquele toque. Eu estava perdida, completamente entregue a um sentimento que havia jurado deixar para trás.
Não sei como aconteceu, mas antes que eu percebesse, estava no colo dele, minhas mãos agarrando o tecido da camisa impecável que ele vestia. A racionalidade havia sido jogada pela janela. Não havia certo ou errado. Apenas nós dois, uma busca desesperada por algo que nem sabíamos nomear.
O gosto dele era familiar e ao mesmo tempo novo, uma combinação que fazia minha cabeça girar. Ele me segurava com firmeza, mas com um cuidado que parecia contradizer a urgência do momento.
A respiração dele se misturava à minha, criando um ritmo único, quase como uma melodia. O mundo lá fora deixou de existir. Não havia árvores, lagoa ou sequer o tempo. Só havia nós dois, tentando desesperadamente preencher os vazios que carregávamos.
Eu não sabia o que estávamos buscando um no outro. Não sabia como isso terminaria. Mas sabia que esse momento mudaria tudo.
"Luana. Eu..." ele sussurrou. "Quero fazer amor com você."