Capítulo 4 Sem alergias

A atmosfera na mansão dos Edwards era opressiva, como se o próprio ar carregasse o peso dos segredos e tensões que corriam por seus corredores.

Com a volta repentina de Connor Edwards, marido de Laurie, a casa mergulhara em um silêncio tenso, onde até mesmo os serviçais andavam nas pontas dos pés, temerosos de perturbar o equilíbrio precário do momento.

A cada golpe que Connor desferia na mesa de carvalho maciço, seu rosto assumia uma expressão sombria, e a voz ecoava pelo salão como um trovão prestes a desabar: "Inacreditável! Bater na própria mãe já é uma afronta imperdoável, mas obrigar Delilah a comer pudim de manga também? O que deu em Janice? Ela ficou louca?"

Laurie insistiu: "Connor, você precisa fazer algo pela Delilah. Nós demos abrigo, roupas e comida pra Janice, e é assim que ela retribui? Não podemos permitir que esse tipo de comportamento manche o bom nome da nossa família. Se isso chegar aos ouvidos errados..."

Connor respirou fundo, tentando controlar a fúria que fervilhava em seu peito. "Ela vai voltar e pedir desculpas."

Em seguida, ele se virou para falar com o mordomo: "Onde está Janice agora? Traga ela aqui."

"Aiden Green a levou embora."

Connor ficou surpreso. "O quê? Aiden Green? O que está acontecendo?"

O mordomo balbuciou, sem esconder sua própria confusão: "Não sei dizer, senhor, mas o momento em que ele apareceu foi, no mínimo, suspeito. Foi depois do surto da Janice. Talvez haja algo acontecendo entre eles."

Invadido por uma fria lucidez, Connor assimilou os acontecimentos e chegou à conclusão de que a atitude ousada de Janice tinha raízes na aliança que ela mantinha com Aiden. "Ela acredita estar acima de qualquer punição com Aiden ao seu lado? Ela realmente imagina que o apoio de um homem tão inútil lhe dá carta branca para agir como bem entender?"

A raiva do homem, entretanto, foi temporariamente suspensa quando Bartley Carter, o médico da família, desceu a escada.

A preocupação tomou conta de Connor e Laurie, que se voltaram para ele quase ao mesmo tempo. "Bartley, como está Delilah?"

"A senhorita Edwards só estava assustada, nada sério."

"O quê? Isso não faz sentido!", Laurie exclamou, franzindo a testa em pura incredulidade. "Ela comeu um pudim de manga inteiro."

Bartley hesitou por um instante, visivelmente surpreso. "E o que há de tão grave nisso?"

"Ela tem alergia a manga!"

"Isso não é verdade. A senhorita Edwards não possui alergia a manga."

Connor e Laurie se entreolharam, confusos e atônitos. Delilah não era alérgica a manga? Então ela realmente fez uma acusação infundada contra Janice?

"Bartley, você tem certeza absoluta disso?", Laurie pressionou, buscando confirmação mais uma vez.

"Claro que sim. Se ela fosse realmente alérgica, consumir tal quantidade teria exigido uma visita de emergência ao hospital", Bartley afirmou com confiança profissional.

Com uma expressão serena, ele observou Connor e Laurie assentirem diante de seu diagnóstico.

Connor respirou fundo antes de dizer: "Obrigado, Bartley. Vou providenciar a transferência da taxa de consulta o mais rápido possível."

Bartley acenou levemente, sinalizando compreensão. "Se não houver mais nada, peço licença para me retirar."

Connor chamou o mordomo, que prontamente se aproximou e acompanhou Bartley até a saída. Assim que a porta se fechou, Connor se virou e encontrou Laurie pensativa, perdida em seus próprios pensamentos. "Você acha que Delilah fingiu aquela alergia só para culpar Janice?"

Balançando a cabeça levemente, Laurie respondeu: "Estou apenas aliviada por Delilah não ser realmente alérgica a manga. Mas agora que Janice está com Aiden, o que devemos fazer?"

Connor soltou uma risada curta e cínica. "Acha mesmo que Aiden vai protegê-la sem nosso apoio? Ela vai voltar rastejando, implorando por perdão. Pode apostar!"

Laurie acenou com a cabeça em concordância. Em sua opinião, Janice, apesar de sua crueldade, era apenas uma garota ingrata que não valia o desgaste além de insensata.

Enquanto esses pensamentos fervilhavam em sua mente, Laurie subiu as escadas rumo ao quarto de Delilah.

"Senhora Edwards, você precisa defender Delilah." Uma voz soou.

Ao se aproximar da porta, uma figura familiar surgiu repentinamente em seu caminho, segurando sua mão. Era Daryl Quimby, a dedicada governanta da família Edwards.

Sem conseguir conter a indignação, Daryl disparou: "Eu cuidei da Delilah desde que ela era uma garotinha e tratei ela como se fosse minha própria filha. Ver o que ela passou... isso me destrói. Embora Janice seja sua própria carne e sangue, ela é ingrata. Depois de todo o amor que a família Edwards deu a ela, ela quase matou Delilah. Isso é imperdoável."

"Daryl, por favor, tente se acalmar. Eu prometo que isso não vai ficar impune. Janice pode ser minha filha biológica, mas não vou fechar os olhos para o que ela fez."

"Delilah tem sorte de ter uma mãe como você, tão dedicada."

Laurie sorriu. "Eu é que sou sortuda por ter Delilah como filha."

Ela entrou no quarto e se aproximou de Delilah, que estava deitada na cama, frágil e pálida. Um aperto atravessou seu peito ao ver o estado da filha. "Delilah, querida, como você está se sentindo?"

"Muito melhor agora, mãe. Bartley confirmou que não sou alérgica a manga." Lágrimas discretas escorreram pelo rosto dela, enquanto sua expressão assumia um tom de angústia fingida. "Mãe, você acha que eu armei pra Janice?"

Laurie balançou a cabeça, com a voz baixa e reconfortante. "Não, minha querida. Eu jamais pensaria isso de você. Isso deve ter sido um simples mal-entendido. Além disso, é um alívio saber que você não é alérgica a manga, senão, eu teria ficado muito preocupada."

Um sorriso tênue e carregado de melancolia se desenhou no rosto de Delilah. "Mãe, talvez seja melhor eu ir embora. A loucura repentina da Janice hoje me deixou assustada. Tenho certeza de que ela me odeia profundamente. Se eu me afastar, talvez ela finalmente encontre paz, e a família Edwards também."

Laurie suspirou com pesar, observando a expressão vulnerável de Delilah. "Você tem um coração tão generoso, minha querida. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, ainda pensa nos sentimentos da Janice. Se ao menos ela pudesse enxergar a bondade que vejo em você... Depois de hoje, não consigo mais considerá-la minha filha."

"Mãe, Janice é apenas uma garota infeliz..."

Laurie ergueu a mão, a interrompendo com firmeza. A menção do nome de Janice azedava sua expressão. "Vamos encerrar essa conversa, foque no seu descanso. Não se esqueça de que a competição de design de moda será em três dias. Quando você ganhar o primeiro lugar, vou te promover a vice-presidente da nossa empresa."

"Mãe, você realmente é incrível."

Embora suas palavras soassem sinceras, por dentro, os pensamentos de Delilah eram sombrios e carregados de desprezo. Quão deliciosamente ingênua era a família Edwards, facilmente manipulada por palavras envolventes e sorrisos estrategicamente colocados!

Delilah não apenas forçara Janice a lhe entregar seu precioso design, como também causara sua expulsão do círculo dos Edwards. Agora, bastava esperar ela assumir o controle total da influente família, que era apenas uma questão de tempo.

A competição de design de moda que se aproximava não era um evento qualquer. Organizado pela Routique Fashion, um colosso que ditava as regras do mercado global, o evento atraía atenção internacional.

Entre os grandes nomes que orbitavam esse universo brilhava a misteriosa JE. Cada uma de suas criações era tratada como uma obra-prima, redefinindo padrões e inspirando gerações de estilistas.

Ainda assim, JE permanecia uma anônima que nunca fora vista em público, e o sigilo em torno de sua identidade alimentava especulações intermináveis. Dizia-se que até algumas pessoas ricas ofereciam uma recompensa milionária por um simples encontro com ela.

A família Edwards, porém, não era novata nesse cenário competitivo e, durante décadas, eles lideravam o mundo da moda.

Laurie Edwards, em particular, detinha uma influência monumental sobre as tendências da indústria. Sua opinião tinha peso suficiente para consagrar ou enterrar uma tendência, e sua participação como jurada na próxima competição prometia apenas reforçar o prestígio da família.