Capítulo 5 Constância

Ela deixou a garrafa ao seu lado, e flexionou os joelhos até seu abdômen abraçando a si mesma, mesmo com toda a sua roupa sentia o frio correr por todo o seu corpo.

"Por que não pensei em um casaco de pele também? Há é, eu não estou acampando!"

Ironizou para si mesma.

Leônidas observou-a atentamente. Seus pensamentos correram soltos em vê-la daquela forma.

"Não posso deixar meu senso de justiça agir nesse momento!"

Seus olhos caíram sobre ela, era como se sua voz interior o estivesse obrigando a ser justo, observou Constância balançar de leve seu corpo num vai e vem constante, talvez numa tentativa vã de aquecer-se.

"Assim ela só vai morrer mais depressa!"

Ele pegou o restante de lenha que estava sobre a pele do animal, e as deixou a um lado da fogueira, estendeu a pele ao seu lado. Lutando com todas as suas forças contra seu senso de justiça, aceitou sua derrota e retirou o casaco.

"Maldito seja!".

Suspirou fundo, e segurando seu casaco um pouco distante de seu corpo, já o estendia em direção a ela.

- Constância!

Ela fixou seus olhos nele quando o ouviu chamar seu nome.

- O que foi?

Ele apontava para o enorme casaco.

Constância entendeu o que ele estava fazendo, mas desejava provocá-lo um pouco mais.

- Vista-o de uma vez! Não quero que digam por aí uma infâmia contra mim!

"Nossa quanta nobreza e impaciência num homem só!"

Ela tentou se erguer,no entanto, era mais difícil do que pensava, estava muito fraca. Ele notou a palidez no rosto dela.

"Mas que raios!!!"

Chateado consigo mesmo, agachou-se até estar a altura dela, que o percebeu de olhos fixos nela.

- Venha! Eu ajudo você!

A voz dele era firme como os olhos que a encaravam com fogo.

Constância segurou a mão que ele estendia para ela a ajudando a erguer-se junto com ele, como seu corpo estava muito tempo na mesma posição, assim que ergueu-se, sentiu o corpo ceder novamente,todavia, Leônidas a segurou pela cintura, ele foi tão rápido que ela só percebeu estar recostada ao peito dele, quando sentiu os músculos firmes e volumosos contra a camisa escura, que ele vestia por debaixo do casaco.

"Não consigo nem pensar direito!"

Os pensamentos dela a torturavam, e como resultado, seus olhos continuavam presos no rosto do caçador, e deste para seu peitoral.

Leônidas a encarou confuso por reparar no quanto ela estava distraída.

- Recomponha-se por favor!E caminhe comigo até a fogueira!

Constância sentiu o braço dele segurando a firme, tentou não pensar no toque em sua cintura, enquanto caminhavam, ele ajudou-a a sentar-se.

Logo depois, sentiu o caçador retirar o braço da sua cintura com intenção de afastar-se dela. No mesmo instante, ela dobrou os braços um por cima do outro, formando um ângulo agudo numa tentativa de manter o calor em seu corpo. Leônidas havia notado a pele do ombro e pescoço eriçada.

"O que mais essa mulher irá tomar de mim?"

Pegou o casaco e deixou sobre ela. Os olhos de ambos cruzaram-se por instantes.

A fogueira crepitando ao lado deles era o único som a ser ouvido.

- Vista! É apenas um empréstimo até sairmos daqui!

Constância segurou o casaco em suas mãos, enquanto continuava a sustentar o olhar.

- Obrigada! Mas ...

"Como vou dizer a ele que não dá para vestir-me sozinha?"

Leônidas esperou ela terminar a frase, contudo não aconteceu. Procurou o que poderia ser, e notou que certamente era o casaco.

- Você também precisa de ajuda para vestir?

Ela acenou confirmando. Leônidas retirou o casaco das mãos dela para ajudá-la.

- Com sua permissão irei abrir o casaco e tentar passar por cada braço seu certo?

Ela confirmou com um movimento de cabeça, ele ficou a frente dela, e tentou passar o casaco por cada braço o menos rude possível.

Os olhos dela estavam grudados em cada pedaço dele, seu corpo sem aquela pele era mais perfeito, cheio de músculos e virilidade, os antebraços cobertos por faixas negras, que parecia mais um charme em todo aquele porte atlético.

Enquanto ele ajudava a colocar seus braços, podia sentir a respiração dele junto de seu rosto.

Ela reclamou um pouco por conta do ferimento, mas logo se recuperou.

Assim que o caçador terminou a ajudou a deitar-se sobre a pele de Leopardo, disposta por ele minutos atrás como um tapete sobre o chão frio, o vendo inclinado por sobre ela, seu corpo acendeu-se em chamas, a fazendo engolir em seco.

Seus olhos estavam presos nos olhos do caçador, ele percebeu, assim como os lábios dela se entre abriram devagar.

O olhar negro acompanhou o seu movimento.

- Espero que esteja confortável agora! -. A voz dele era menos firme.

Constância ainda em transe respondeu lentamente sem tirar os olhos dele.

- Sim! ... Estou bem!

De olhos nela, não pôde deixar de notar o quanto estavam perto de uma loucura. Ele limpou a garganta, e num impulso quase colou seu corpo ao dela, mas não o fez, puxou de debaixo dela uma parte da faixa que trazia em seu braço, e que havia ficado presa no processo de vesti-la.

O que ela esperava não passava de um engano, mas a situação ficou para além disso em sua mente.

Ela sentiu quando ele retirou debaixo dela alguma coisa. No instante seguinte ele estava completamente de pé, e amarrando novamente a parte da faixa que havia se desprendido em algum momento.

Constância, sentiu que seu corpo por um momento estava quase implorando o toque dele. Nem mesmo o conhecia, como poderia se sentir assim em apenas um dia com um estranho?

"Meu Deus! Que vergonha! Eu ... ai não! Pior que no meio dessa bagunça toda nem descobri seu nome!"

Ela cobriu-se por inteiro tentando esconder a vergonha.

"Queria sumir agora! Como vou encará-lo?"

Leônidas andou para o lado oposto da caverna, ali arrumou algumas folhas enormes por sobre o chão frio. Deitou-se por sobre elas, sua arma de um lado, e do outro sua bolsa. Ele deitou sobre as folhas com os braços cruzados por sobre o peito. Seus pensamentos eram uma bagunça.

"Por um momento quase perdi a compostura! Essa mulher não tem nenhum juízo!"

Olhou para as chamas que queimavam lentamente. Sabia que já estava bem tarde da noite e logo amanheceria. Assim que o dia chegasse teriam de voltar para a cidade.

Voltou seu olhar em direção a Constância. Ela parecia ter caído no sono.

"Melhor que eu descanse um par de horas também! Assim poderei acordar antes que o sol alcance o céu!"

Não demorou muito para o caçador também cair nos braços de Morpheus, porém, em algum momento da noite, acordou sentindo o ar frio ultrapassar a entrada da caverna.

Olhou ao redor, Constância continuava a dormir. E as brasas estavam quase findando. Resolveu alimentá-las um pouco mais.

Viu Constância de mãos agarradas em seu casaco, como se sua vida dependesse dele. O caçador permaneceu fitando o rosto dela por um instante mais.

"Tenho que saber por que você está nessa bagunça toda! E quanto mais rápido eu souber, mais rápido sigo meu caminho!"

Seus olhos passaram novamente por sobre o casaco que lhe pertencia, no entanto, pararam presos em uma corrente dourada que Constância trazia no pescoço.

Se aproximou o máximo que pôde. Para seu azar, a parte principal, estava para dentro das roupas dela. Não seria atrevido o suficiente para causar mal-entendidos, além do mais, em algum momento ela revelaria sua identidade, poderia não ser para ele diretamente, no entanto, desde que obtivesse o que queria, tudo seria válido.

Resolveu sair para buscar água à beira do riacho, que havia encontrado mais cedo. Caminhou um pouco, uns 50m para frente, suficiente para esticar as pernas, observou a madrugada chegar.

Toda a floresta era um misto de silêncio e mistério, contudo isso era o de menos para quem tantas vezes havia encarado a morte de perto, e encomendado tantas outras almas para o inferno.

Seus pensamentos voaram novamente para a mulher na caverna.

"Eu vou descobrir quem é você Constância! Tenho certeza de que valerá muito apena!"