Capítulo 5 Primeira Pista

O silêncio dentro do carro era pesado. A tensão entre o que aconteceu no Éden e as palavras de Nicolas ainda reverberava na minha mente. Mas Leonardo parecia mais focado do que nunca. Ele dirigia rápido, com os olhos fixos na estrada, até finalmente parar em um estacionamento deserto.

- Saímos de lá com o que precisávamos. - Ele disse, desligando o motor.

- O quê? - Perguntei, confusa.

Leonardo se virou para mim, seu rosto iluminado apenas pela luz do painel do carro.

- Quando fui ao banheiro, não era apenas uma desculpa. - Ele abriu o bolso interno do paletó e tirou uma folha dobrada. - Encontrei isso no bolso de um dos seguranças.

Peguei a folha, desdobrando-a. Era um pedaço de papel comum, mas o que estava escrito nele era qualquer coisa menos isso.

- Um manifesto? - Murmurei, analisando a lista de números, endereços e siglas que pareciam ser códigos.

- Mais do que isso. - Leonardo apontou para um nome no topo da lista. - Narcóticos. Isso é uma remessa, Isabella.

Senti um arrepio subir pela espinha.

- Remessa de drogas?

- Exatamente. - Ele cruzou os braços, observando minha reação. - E pelo que consegui ouvir enquanto estava lá, o Éden não é só um lugar para prazeres e segredos. É um centro de distribuição.

Olhei para ele, tentando processar o que acabara de ouvir.

- Você ouviu isso de quem?

- Hector. - Ele respondeu, com um sorriso de canto. - Ele estava conversando com um dos seguranças quando entrei. Mencionar que o carregamento principal vai chegar amanhã foi o suficiente para eu saber que estamos no lugar certo.

A sensação de desconforto cresceu. Não era apenas uma questão de descobrir segredos para um artigo de jornal agora. Estávamos lidando com algo muito maior.

- Então, eles estão usando o Éden como fachada para tráfico de drogas?

- Sim. E pelo tamanho da operação, isso vai muito além do que imaginávamos. - Leonardo passou a mão pelos cabelos, como se tentasse organizar os pensamentos. - Esses endereços... São armazéns, provavelmente usados para esconder as mercadorias antes da distribuição.

- E como vamos confirmar isso? - Perguntei, embora já soubesse que a resposta não seria algo simples.

Leonardo suspirou, olhando para o papel em minhas mãos.

- Primeiro, precisamos seguir uma dessas pistas. Amanhã à noite, eles vão movimentar a carga. Se conseguirmos chegar lá antes, podemos descobrir quem está por trás de tudo isso.

- E quanto ao Nicolas? Ele não vai deixar isso barato.

Leonardo me olhou com uma seriedade que eu não estava acostumada a ver.

- Nicolas não é apenas um jogador qualquer, Isabella. Ele é uma peça-chave. Não tenho provas ainda, mas meu palpite é que ele está envolvido diretamente no tráfico. Talvez até liderando parte disso.

Meu coração acelerou.

- E se ele souber que estamos investigando?

- Ele já sabe que você não é quem diz ser. - Leonardo respondeu, sem rodeios. - Mas ainda não sabe o quanto você sabe. Isso nos dá uma vantagem.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando absorver tudo.

- Então, o plano agora é seguir uma dessas pistas?

Leonardo assentiu.

- Sim. Mas, Isabella... - Ele segurou meu olhar. - Isso vai ficar perigoso. Se você quiser sair agora, ninguém vai te culpar.

Eu ri, mas era um riso amargo.

- Você acha que eu vou sair depois de tudo isso? - Olhei para ele, determinada. - Se eles estão traficando drogas, destruindo vidas, eu quero descobrir. E vou escrever sobre isso, Leonardo. Vou expor cada detalhe.

Ele sorriu de canto, um brilho de aprovação nos olhos.

- Sabia que você ia dizer isso.

O silêncio caiu entre nós novamente, mas dessa vez era diferente. Era o tipo de silêncio que precede uma tempestade.

- Amanhã à noite. - Ele disse, finalmente. - Prepare-se.

Enquanto ele ligava o carro novamente, não pude deixar de pensar no que estava por vir. Eu estava entrando em um jogo muito maior do que esperava. Mas, de alguma forma, sabia que não havia mais volta.

O Éden tinha seus segredos, e eu estava determinada a revelá-los.

O rosto de Nicolas da minha mente. Seu olhar carregava algo mais do que simples arrogância - era um aviso, um lembrete de que eu havia entrado em território desconhecido. A cada quilômetro que nos afastávamos, sentia o peso daquela noite crescendo em meus ombros.

Leonardo dirigia em silêncio, seu maxilar tenso, enquanto seus olhos analisavam a estrada e o retrovisor com igual atenção. Finalmente, ele quebrou o silêncio.

- Nicolas não vai desistir facilmente. - Sua voz era grave, quase um sussurro. - Você precisa entender isso.

- Eu percebi. - Respondi, tentando manter minha voz firme. - Mas por que ele é tão perigoso? Quem ele realmente é?

Leonardo suspirou, hesitando por um momento antes de responder.

- Nicolas é um dos investidores ocultos do Éden. Ele não é apenas um jogador nesse clube; ele praticamente o controla. Tudo o que acontece lá passa por ele de alguma forma. E ele tem... um jeito peculiar de lidar com quem o desafia.

- Ótimo. - Murmurei, passando a mão pelos cabelos. - Então eu consegui chamar a atenção do pior homem possível.

Leonardo deu um sorriso amargo.

- Você não chamou atenção dele. Você desafiou ele. E isso, Isabella, é algo que ele não perdoa.

O carro finalmente parou em frente ao meu prédio, mas eu não estava pronta para sair. Havia tantas perguntas, tantas peças desse quebra-cabeça que ainda não faziam sentido.

            
            

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