Hoje eu acordei bem cedo com o coração apertado e uma imensa vontade de chorar até não sobrar mais lágrimas em meus olhos, mas eu não podia desmoronar na frente do Vitor, se não outra vez ele iria me bater por achar que eu estava pensando no Gustavo, e na verdade todas as vezes que eu chorei foi por pensar nele realmente, mas eu sempre tive que esconder isso desde que eu fui obrigada a morar com o Vitor aqui no complexo do alemão, a minha vida virou um verdadeiro inferno... Eu me levantei da cama e ele já estava acordado se arrumando para ir pra boca, eu entrei no banheiro, fiz as minhas higienes e voltei para o quarto, o Vitor estava parado me olhando na entrada do closet.
VT : Tá com essa cara porque ? - Ele perguntou me encarando.
Eu olhei para ele com um sorriso forçado.
Duda : Ah não é nada, eu estou muito cansada, só isso - Menti e tentei passar por ele.
VT: Você não tá pensando naquele otario não né, ou ta ? - Ele segurou os meus braços com muita força.
Duda : N. não, eu não estou - Olhei pro chão.
Ele agarrou o meu cabelo e levantou a minha cabeça me fazendo olhar nos seus olhos, eu sentia cada fio do meu cabelo sendo puxado com força.
VT : Quando eu tiver falando contigo tu olha nos meus olhos, tá ouvindo filha da puta ? - Seus dedos apertavam meus cabelos.
Eu segurei as minhas lágrimas e concordei com ele.
VT : Não esqueça do nosso acordo, você não quer que eu cumpra as minhas ameaças, quer ?
Duda : N.. não por favor, eu prometo melhorar - Falei desesperada.
VT : É assim que eu gosto - Ele me soltou e arrumou sua blusa.
Eu fiquei parada perdida em tantos pensamentos que quando me dei conta o monstro do Vitor já tinha saído do quarto, minhas lágrimas caíram molhando o meu rosto, eu já não estava mais conseguindo prender o choro, aproveitei que eu estava sozinha e desmoronei, após longos minutos colocando a minha tristeza pra fora, eu fui para o banheiro e lavei o meu rosto, sequei na toalha e me olhei no espelho, os meus olhos estavam vermelhos e inchados, corri para o closet e peguei a minha maleta de maquiagem, passei uma base no rosto e um pouco de corretivo perto dos olhos para disfarçar a cara de quem chorou, logo fui me vestir para levar o meu filho na escola, coloquei uma calça jeans, uma blusa preta de alça fina e calcei a minha rasteirinha, fui até o quarto do meu menino pra acordar o dorminhoco que habita dentro dele, sentei na beirada de sua cama e dei vários beijos em seu rosto.
Duda : Filho, acorda já está na hora - Falei mexendo no cabelo dele.
O Gabriel foi se mexendo enquanto resmungava.
Gabriel : Fala sério mãe, eu não posso dormir nem mais cinco minutos ? - Ele perguntou e colocou um travesseiro no rosto.
Duda : Nada disso, você precisa ir pra escola, vamos, levanta.
Gabriel : Tá, tá bom - Ele sentou na cama muito bravo.
Duda : Você fica tão fofinho com essa carinha fechada, parece até o seu pai quando ficava com ciúmes de mim - Falei sem pensar e me perdi em pensamentos novamente.
Gabriel : De novo essa conversa mãe ? Eu não tenho pai - Ele se levantou rápido e foi pro banheiro.
Eu me levantei me sentindo culpada e fui tentar falar com o meu filho, mas a porta do banheiro estava trancada, ele nunca gostou de tocar no assunto sobre o seu pai, o Gabriel sofria muito na sua antiga escola, tinha uns meninos que ficavam zoando ele por não ter um pai presente, todas as vezes ele chegava em casa chorando, e eu tive até que mudar ele de escola, eu não queria que o meu filho sofresse desse jeito, pensei e esperei até que ele saiu do banheiro, eu peguei o seu uniforme e entreguei pra ele.
Duda : Aqui filho, esse tá limpinho - Dei um sorriso amoroso.
Ele pegou o uniforme da minha mão sem dizer nada e voltou pro banheiro pra se vestir, após um tempo ele terminou e nós descemos as escadas, eu fui pra cozinha preparar o café da manhã pra nós dois, o meu filho estava quieto no sofá mexendo no seu celular.
Duda : Suas provas já acabaram ? - Perguntei enquanto fazia os ovos mexidos.
Gabriel : Não mãe, ainda faltam duas - Ele largou o celular no sofá e se levantou se aproximando do balcão da cozinha.
Duda : Filho, me desculpa - Olhei pra ele arrependida por ter falado sobre o seu pai.
Gabriel : Esquece isso mãe, eu já me conformei que eu não tenho pai mesmo - Ele deu de ombros.
Eu respirei fundo e preferi ficar calada pra não deixar ele magoado, continuei preparando o nosso café, arrumei a mesa e comi em silêncio com o meu filho, o Gabriel mudou muito depois que eu tive que obrigá-lo a morar aqui comigo e o monstro do Vitor, eu entendo o meu filho, ele gostava de viver perto dos seus padrinhos e conviver somente comigo, mas infelizmente eu precisei fazer isso pra não colocar o meu menino em perigo, eu só queria que ele continuasse sendo o mesmo menino amoroso comigo como éramos antes, me perdi em pensamentos, após um tempo terminamos de comer e nos levantamos, ele pegou a sua mochila e colocou nas costas, logo saímos de casa e fomos caminhando devagar, o bom é que a escola dele fica uns dez minutos de distância...
Minutos depois chegamos no portão do colégio, eu puxei ele e dei um abraço apertado em meu filho.
Duda : Se concentra bem nos estudos tá, eu te amo - Disse segurando os ombros dele e olhando em seus olhos.
Gabriel : Tá bom mãe, tchau.
Esperei até ele entrar e sumir da minha visão, meu coração estava apertando por saber que ele estava chateado pelo assunto de mais cedo, virei as costas e comecei a andar pra voltar pra casa, andei rápido e logo cheguei, mas o meu coração acelerou quando eu vi a moto do Vitor parada em frente o portão de casa, oque era bem estranho ele ter voltado tão rápido, entrei encontrando ele na sala revirando tudo, ele parecia furioso.
VT : FILHO DA PUTA, ESSE DESGRAÇADO TINHA QUE APARECER AGORA - Ele gritou andando de um lado pro outro muito nervoso.
Eu estava parada olhando a situação sem entender nada, o Vitor ainda nem tinha notado a minha presença, eu me aproximei devagar e com muito medo.
Duda : O quê aconteceu ?
Ele virou rapidamente pra me olhar, seu rosto estava vermelho de raiva, e seu olhar era sombrio.
Vitor : Você chegou né sua vagabunda - Ele pegou meu braço com força.
Duda : O. oque foi que eu fiz ? - Olhei pra ele assustada.
Vitor : Você ja tá sabendo que o arrombado do teu ex marido tá aqui ? você já encontrou ele sua piranha ?
Eu arregalei os olhos e senti as batidas do meu coração acelerar, eu não estava acreditando que o Gustavo estava de volta.
Vitor : RESPONDE SUA VAGABUNDA, VOCÊ VIU ESSE OTARIO ? - Ele gritou bem perto do meu rosto.
Eu estava paralisada pelo medo e confusa por tudo, minha mente estava uma grande confusão.
Duda : N... não. e.. eu não vi ele - Meu corpo tremia.
Vitor : Então agora você vai encontrar esse desgraçado cara a cara, mas tu vai fazer tudo que eu mandar tu dizer tá ligada ? ou eu vou ter que meter uma bala na cara daquele pirralho do teu filho - Ele tirou a arma da cintura e passou no meu pescoço também me ameaçando.
Minhas lágrimas estavam caindo sozinhas, eu não conseguia controlar a angústia que eu sentia naquele momento, eu faria qualquer coisa pra não perder o meu filho.
Duda : T.. tá bom e... eu faço tudo que você quiser - Minha voz saiu num sussurro.
VT : Tu vai encontrar esse desgraçado e vai falar que tu que me procurou e quis ficar comigo, você vai falar coisas horríveis pra ele ficar com ódio de você, tu vai ter que fazer ele te esquecer nem que seja no ódio, porque se ele voltar outra vez aqui, eu mato o teu filho e sumo com o corpo do moleque. Entendeu ? - Ele apontou o dedo na minha cara.
Eu engolir o nó na minha garganta e concordei rápido.
VT : Ele tá lá na barreira tentando passar, eu não vou liberar a entrada desse pau no cu, tu vai descer e vai falar tudo que eu mandei, e se os vapor me passar algum bagulho diferente, tu vai se arrepender.
Duda : E.. eu vou.. falar tudo que você mandou - O choro estava engasgado na garganta.
VT : Vai logo e faz esse comédia meter o pé, vou tá te esperando aqui - Ele disse mostrando a sua arma.
Eu rapidamente caminhei e saí de casa, eu não queria ter que magoar o Gustavo a ponto de fazer ele me odiar, mas pra salvar o meu filho de um psicopata como o Vitor eu estava disposta a fazer qualquer coisa, eu nunca imaginei que o nosso reencontro fosse ser desse maldito jeito, foram tantos anos esperando por ele e agora eu estou a um passo de perder o amor da minha vida pra sempre, enquanto eu caminhava e pensava eu tive que segurar muito as lágrimas, chegando perto da entrada do morro eu vi ele discutindo com os vapores e tentando passar por todos eles, meu coração disparou e a minha boca ficou seca ao ver ele depois de nove anos e saber que ele não mudou em nada, me faltou coragem por um segundo de dizer palavras duras pra ele, mas eu tinha que proteger o nosso filho, e talvez se um dia ele descobrisse o real motivo por trás disso tudo, ele poderia me perdoar, me aproximei sentindo as minhas pernas falhas, as minhas mãos suando e o meu peito apertado.
Duda : Me deixem falar com ele, isso é um ordem do Vitor - Eu disse com os vapores.
No mesmo instante o Gustavo parou de gritar e me encarou com ódio e um profunda tristeza em seu olhar, tudo ao nosso redor parecia ser insignificante, estávamos nos olhando com desespero de sermos tocados um pelo outro com um abraço forte de saudade, mas era impossível acontecer oque só eu estava pensando, eu tinha que ser forte e fazê-lo me esquecer, por mais que isso me causasse uma grande infelicidade, respirei fundo e mudei o meu olhar, eu encarei ele como se ele fosse a pior pessoa do mundo, eu tinha que fingir ter desprezo por ele, enquanto ele me olhava de uma forma como se me pedisse pra dizer que tudo não passava de uma mentira, aquela seria a coisa mais difícil que eu iria fazer na minha vida, destruir o amor do homem pelo qual eu me apaixonei perdidamente.....