Acordei com o som suave da respiração de Leo ao meu lado. Abri os olhos lentamente, a luz do sol filtrando-se pelas frestas da janela quebrada. O quarto estava silencioso, exceto pelo som do vento que passava pelas cortinas puídas. A casa, se é que podíamos chamar assim, era pequena, apertada, e eu sabia que o que tínhamos ali era tudo o que conseguiríamos manter. Um quarto, um banheiro compartilhado, e uma cozinha onde o cheiro de café sempre parecia disfarçar o cheiro de abandono.
Leo estava dormindo profundamente, a testa franzida como se estivesse tendo um pesadelo, mas seu rosto tranquilo logo voltou à normalidade. Eu o observava, pensando em como ele ainda era tão jovem para carregar o peso do mundo nas costas. Era por ele que eu me levantava todas as manhãs, enfrentava a exaustão, e continuava a lutar. Ele não sabia, mas eu me recusava a deixar que o que aconteceu com nossos pais o destruísse. Era isso que nos mantinha de pé, apesar de tudo.
O silêncio da casa era confortável, mas também sufocante. Não havia luxo aqui. Não havia espaços grandes, sofás macios ou paredes coloridas. A pobreza estava em cada canto, mas o que mais doía não era o pouco dinheiro ou as contas que nunca paramos de acumular, mas o vazio da saudade. Saudades dos meus pais, de uma vida que, eu sabia, não voltaria.
Muitas vezes me perguntava como seria se tivéssemos tido uma chance de viver de outra forma. Se as coisas tivessem sido diferentes. Mas o que seria da minha vida, afinal? Uma vida sem Leo não teria sentido. Ele era tudo o que me restava.
Suspirei e me espreguicei, tentando afastar os pensamentos pesados. Levantei-me com cuidado, para não acordar Leo, e fui até a pequena pia da cozinha improvisada. Enchi uma panela com água e coloquei no fogão, ligando o gás. O café me ajudaria a começar o dia, mas, sinceramente, o que eu mais precisava era de algo mais. De algo que me fizesse acreditar que as coisas podiam melhorar.
Mas, naquele momento, as palavras de meu pai ecoaram na minha mente, como um lembrete doloroso do que havia acontecido. Ele sempre dizia que o destino era algo que não podíamos controlar. E agora, aqui estava, tentando encontrar alguma forma de controlar o meu, mesmo sabendo que ele já estava completamente fora das minhas mãos.
O cheiro do café começou a se espalhar pela casa, mas antes que eu pudesse servir a primeira xícara, senti um movimento ao meu lado. Leo se mexia na cama, ainda meio atordoado com o sono. Ele sempre acordava tarde, mas nunca reclamava, sempre dizia que a noite era o momento em que ele conseguia descansar de tudo.
Com um suspiro, ele se virou para o lado e me abraçou, como fazia desde que éramos crianças. Eu sorri baixinho, tentando segurar a emoção. Leo sempre foi meu porto seguro, mas ao mesmo tempo, me lembrava constantemente da responsabilidade que eu carregava.
- Bom dia, Alessa - disse ele, a voz rouca de sono, enquanto encostava a cabeça em meu ombro.
- Bom dia, Leo - respondi suavemente, acariciando seus cabelos. - Dormiu bem?
Ele assentiu, mas o olhar pensativo logo tomou conta de seu rosto. Leo era muito mais introspectivo do que eu gostaria. Às vezes, me perguntava o que se passava em sua cabeça.
- Eu estava pensando - começou ele, soltando-me lentamente para se sentar na cama. - Não sei se vale a pena continuar com a escola, Alessa. Talvez eu devesse começar a trabalhar. A gente precisa de dinheiro, e você não pode fazer tudo sozinha.
Eu me endireitei, preocupada, tentando entender o que ele queria dizer. Ele tinha apenas 16 anos, ainda estava na escola, mas sabia o quanto a situação estava difícil.
- Não fala isso, Leo - disse, com firmeza, embora uma sensação de preocupação me invadisse. - Você tem um futuro. Estudar é importante. Não podemos abrir mão disso. Eu vou te ajudar no que for preciso.
Ele suspirou, levantando-se e indo até a janela. A luz do sol batia em seu rosto, mas não escondia a frustração que ele tentava esconder.
- Eu sei, mas... - Ele se virou para mim, com uma expressão que eu não gostava de ver em seu rosto. - A escola não está nos ajudando a sobreviver, Alessa. O que vale mais agora? Estudar ou trabalhar para ajudar aqui em casa? O que você ganha sendo bartender não é nada, não é?
Eu senti uma pontada no peito. Leo sempre foi direto e, às vezes, suas palavras eram mais duras do que eu queria admitir.
- Não é fácil, eu sei - falei, tentando manter a calma. - Mas a gente não pode desistir. Você tem que terminar a escola, Leo. Isso vai ser importante para o seu futuro. Trabalhar agora é só uma solução temporária. Não podemos abrir mão dos nossos sonhos por causa disso.
Ele balançou a cabeça, irritado.
- Eu sei que você quer me proteger, mas eu também quero ajudar. Você não pode carregar tudo sozinha. Eu posso fazer alguma coisa, qualquer coisa. Só não posso ficar parado aqui, vendo você se sacrificando.
Senti o coração apertar. Leo estava crescendo rápido demais, e eu não sabia o que fazer para convencê-lo de que o que eu mais queria era que ele tivesse um futuro melhor. Um futuro que nós dois merecíamos, longe da luta diária pela sobrevivência.
- Não é sobre você ficar parado, Leo. É sobre você ter oportunidades. O trabalho é só uma parte do que podemos alcançar. Você tem que continuar estudando, e eu vou fazer o possível para que a gente tenha mais chances - disse, tentando ser firme.
Ele ficou em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando o que eu havia dito. Mas a expressão no seu rosto não desapareceu. Ele estava determinado, e isso me preocupava.
Eu sabia que ele estava certo em parte. O trabalho no bar mal dava para pagar as contas. Mas para mim, a educação dele era a única chance de mudarmos nosso destino. Não podia deixar que ele desistisse agora.
- Vou dar mais aulas para você, Leo - falei, com um sorriso forçado. - A gente vai conseguir. Eu prometo.
Eu olhei para Leo e respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas. Ele ainda estava na janela, pensativo, mas eu sabia que ele precisava entender algo mais.
- Leo, eu sei que você não vê muita utilidade nos estudos agora, mas a verdade é que o que a gente tem... é o conhecimento - comecei, com calma, enquanto me aproximava dele. - Eu dei aulas para você porque sei que a única maneira de a gente mudar de vida é estudando. Eu não tenho muito para te oferecer, mas a educação... isso ninguém pode tirar da gente. Isso é nosso.
Leo me olhou por cima do ombro, os olhos ainda nublados pela dúvida, mas algo na minha voz parecia chamá-lo de volta ao que realmente importava.
- Você sabe que quando a gente perdeu nossos pais, não foi só a casa e o dinheiro que desapareceram - continuei, tentando ser honesta, sem que as palavras do desespero transbordassem. - Foi também a chance de aprender mais, de ter um futuro diferente. O que eu estou tentando fazer, mesmo que pareça difícil, é te dar o melhor caminho. Eu não quero que você seja como eu, Leo. Eu não quero que você trabalhe no que eu trabalho, em um lugar onde cada dia é só para sobreviver. Quero que você seja mais do que isso.
Eu o vi encarar o chão, pensativo. Ele nunca gostava quando eu tocava nesse assunto. Ele sentia, assim como eu, que não éramos como outras pessoas. Que o mundo parecia ter tirado de nós a chance de viver como "normais". Mas ele ainda era jovem, e eu tinha que acreditar que ele poderia ter mais.
- Eu sei que o dinheiro é um problema, e eu vejo como você fica preocupado - continuei, agora caminhando em direção à mesa onde tinha alguns livros. - Eu nunca quis que você parasse de estudar. Eu não sou professora, mas, por algum motivo, tenho que ensinar a você o que aprendi. Cada manhã, antes de ir trabalhar, tento te dar o máximo que posso. São poucas horas, eu sei, mas o que importa é o que a gente consegue fazer com o que tem.
Leo ainda estava quieto, mas suas mãos estavam fechadas em punhos ao lado do corpo, como se tivesse algo a mais para dizer. Ele se virava para mim, uma expressão de conflito estampada em seu rosto.
- Você tem razão, Alessa... - Ele se virou para a mesa e pegou os livros que eu havia deixado ali, começando a folheá-los. - Eu sei que não é o melhor caminho, mas sinto que estou tão longe do que eu deveria estar. Você sempre tenta me dar as respostas, mas e você? O que está fazendo para sair dessa vida, Alessa?
Sua pergunta me pegou de surpresa. Eu nunca havia falado sobre meus próprios planos, porque eu não tinha um. O que eu fazia era trabalhar, trabalhar e trabalhar mais, para garantir que ele tivesse uma chance. Mas a verdade é que eu sentia que minha vida já estava definida. O bar, os turnos longos, a luta diária para pagar as contas - parecia que era só o que restava para mim.
Fui interrompida pela minha própria voz, que saiu sem querer, meio sem pensar:
- Eu não sei, Leo... Eu não sei o que fazer. Só sei que, por você, eu vou continuar tentando. Mas, por favor, não faça isso... Não pare de estudar. Eu não quero que você seja como eu. Você merece mais.
Ele permaneceu em silêncio por um momento, o peso da nossa conversa pairando no ar. Então, finalmente, ele se aproximou de mim, colocando a mão no meu ombro, como se quisesse me lembrar de que, no fundo, éramos uma equipe.
- Eu vou tentar, Alessa. Eu sei que você tem razão... Eu só não quero te ver sozinha nisso. Vou continuar com os estudos, prometo.
Eu sorri, aliviada. Não era a solução perfeita, mas era o melhor que podíamos fazer com o que tínhamos.
- Obrigada, Leo. Agora, vamos lá, você tem muita lição para fazer - disse, tentando suavizar o clima.
E assim, continuamos nossa rotina. Eu, tentando ser professora em casa, e ele, tentando não desistir dos seus sonhos, mesmo com a dura realidade que enfrentávamos.
A tarde se arrastava lenta. Leo saiu de casa mais cedo do que o habitual, aproveitando a leve camada de neve que havia caído durante a noite. Ele costumava ajudar os vizinhos quando a neve se acumulava, oferecendo seu tempo e força em troca de uns trocados. Eu sempre ficava um pouco preocupada, mas ele dizia que preferia fazer isso a ficar parado, esperando que o dia passasse.
Eu observei pela janela enquanto ele empurrava a neve, com os braços gelados e o rosto vermelho. Ele era jovem demais para já estar fazendo esse tipo de trabalho, mas eu sabia que ele só queria ajudar. Ele queria contribuir, ainda que fosse com algo simples como limpar a calçada do vizinho. Para ele, cada centavo contava.
Eu voltei para dentro de casa, onde o silêncio logo me envolveu novamente. O lugar estava frio, sem calor, além das lâmpadas tremendo devido ao vento lá fora. Ouvia os passos de Leo se afastando e logo o som das suas botas na neve desapareceu. Ficaria sozinha até ele voltar.
Me forcei a continuar com as tarefas diárias, mas tudo parecia sem vida. A casa era pequena demais para esconder o vazio, e o cheiro de café frio me lembrou que ainda não havia sido capaz de beber um gole quente. As horas passavam, e a sensação de que a vida ali dentro era uma repetição sem fim só aumentava.
Eu varria o chão da cozinha novamente, como se isso fosse fazer alguma diferença. Os móveis, gastos e cobertos por uma camada fina de poeira, pareciam se derreter em sua própria decadência. Enquanto passava o pano, meus pensamentos vagavam para longe, tentando encontrar algo que me distraísse.
O tédio era como uma sombra, sempre ali. O dia se arrastava lentamente, como se o tempo tivesse decidido andar mais devagar quando eu não tinha nada para fazer. Eu mal podia esperar até a noite chegar, quando finalmente seria hora de trabalhar na boate. No entanto, até lá, restava-me apenas esperar, e isso me deixava inquieta. Estava cansada de esperar. Cansada de me sentir invisível.
Claro, o trabalho no bar não era o que eu queria. Eu sabia que minha vida ali não tinha muito futuro, mas o que mais eu poderia fazer? Eu sobrevivia. Isso era o suficiente, pelo menos por agora. A boate me pagava o suficiente para cobrir as contas, mas a exaustão dos turnos longos me pesava mais do que qualquer valor que eles me pagavam. O tempo parecia se arrastar nas horas vazias, mas sempre que eu pensava em desistir, uma parte de mim me lembrava que ainda havia Leo.
Eu parei de limpar e me recostei na cadeira velha, olhando o teto, tentando afastar os pensamentos pesados. O que eu esperava da vida? O que mais poderia acontecer para mudar nossa situação? O que eu estava fazendo, além de viver de um dia para o outro? Mas eu não sabia responder a essas perguntas. Tudo o que eu sabia era que eu tinha que continuar. Para Leo. Para nós.
As horas se arrastaram e, finalmente, o dia escureceu. Eu sabia que estava na hora de me preparar para mais uma noite na boate, e a sensação de cansaço já me dominava antes mesmo de eu sair de casa. O uniforme sujo e os saltos desconfortáveis eram sempre os mesmos. Eu já estava acostumada com o cheiro de tabaco misturado ao álcool, o som abafado da música, as risadas disfarçadas de risos e as conversas forçadas entre clientes entediados.
Mas o que mais pesava em meu peito eram os olhares. Eu os sentia antes mesmo de vê-los. Os homens que chegavam à boate não estavam ali para apreciar a música ou o ambiente. Estavam ali por um único motivo, e esse motivo sempre me fazia sentir como um objeto, uma mercadoria à venda. Eles achavam que tinham direito ao meu corpo, à minha atenção, como se eu fosse só mais uma daquelas garotas que se importavam com o que eles pensavam. Alguns eram mais discretos, outros mais ousados. Mas todos eles me viam da mesma forma: uma peça de reposição, sem identidade, sem valor, além do que eu poderia oferecer a eles.
Era cansativo, doloroso, e ainda assim eu precisava continuar. Quando um cliente se aproximava mais do que o desejado, quando a mão deslizava por minha cintura de forma insistente, eu tentava manter a compostura. Eu sabia o que fazer. Conhecia o jogo. Sorri, evitei o contato visual, e, quando necessário, afastei-me, sempre com a desculpa de que precisava atender a outra mesa. Às vezes, eles ficavam irritados, mas eu sabia que não tinha escolha. Se eu não fizesse o trabalho, outro faria.
Tive que aprender a rir de coisas que não tinham graça, a aceitar comentários indesejados como se fossem apenas parte do cenário. O pior era quando as palavras eram ditas em tom de brincadeira, mas você sabia que havia algo muito mais profundo, algo escuro por trás delas. Alguns homens, especialmente os mais velhos, acreditavam que podiam me tratar como quisessem só porque me viam como parte do cenário. Já me vi perdida em conversas desconfortáveis, tentando escapar, com as palavras se entrelaçando em mentiras que eu já estava cansada de contar. Não, eu não estava ali por prazer. Não, eu não gostava do que acontecia no backstage da boate. Mas ninguém queria saber disso.
O pior de tudo era a sensação de que eu estava sendo moldada por aquele ambiente. Às vezes, sentia como se tivesse deixado de ser Alessa e virado apenas uma figura, uma sombra que passava entre os homens enquanto eles faziam suas apostas, competiam entre si e tentavam fazer de mim mais uma vitória na noite.
Eu sabia que nada daquilo era para mim. Mas o que mais eu poderia fazer? Eu já tinha desistido de tantas coisas. Deixei de sonhar com algo melhor, com uma vida diferente. Leo precisava de mim, e, por mais doloroso que fosse, eu ainda sentia que, de alguma forma, eu estava cumprindo meu papel. Eu sobrevivia. E isso, por agora, era o suficiente.
Eu olhei para o espelho quebrado que estava pendurado na parede da cozinha. Era sempre assim. Quando me arrumava, o reflexo que eu via parecia um pedaço de alguém que eu não reconhecia. O cabelo preso em um coque improvisado, o rosto sem maquiagem, mas com os olhos cansados que me denunciavam. Eu sempre pensava que, se ao menos pudesse sair da rotina, sentir o toque de algo mais bonito, mais confortável, talvez pudesse me esquecer por um momento de tudo o que a vida me impôs. Mas tudo o que eu tinha era aquele reflexo, aquele olhar vazio que estava tão acostumado à luta diária que já não sabia mais como ser outra coisa.
Eu me vesti, puxando o uniforme de bartender, mais uma vez ignorando a sensação de desconforto que ele me causava. O material era áspero, e o corte não favorecia em nada, mas era o que eu podia pagar. O cheiro de álcool e a fumaça do dia já se instalavam na minha pele, como se eu já estivesse preparada para o que estava por vir. O salto alto foi a última peça que coloquei. Eu ainda sentia dor em cada passo, mas não podia me dar o luxo de parecer frágil.
Quando terminei, olhei para Leo, que ainda não tinha voltado. O silêncio da casa agora estava mais pesado, talvez por causa da tensão do que viria mais tarde. O pensamento de deixar Leo sozinho à noite me angustiava, mas não havia alternativa. Eu sabia que ele preferia não saber de nada. Sabia que, de alguma forma, eu o protegia desse mundo, ou pelo menos tentava. Mas era difícil proteger alguém de algo que você mesma não sabia como lidar.
Foi quando a porta se abriu. Leo entrou, com as bochechas rosadas pelo frio e os olhos brilhando de um entusiasmo juvenil que eu adorava ver. Ele havia se esforçado mais do que o necessário para ajudar os vizinhos a limpar a neve. Seu esforço me trouxe uma onda de alívio e um sorriso involuntário. Eu sabia que ele estava fazendo tudo aquilo por mim, para aliviar um pouco a carga.
- Já está pronta para sair? - ele perguntou, deixando os casacos pesados na porta e se aproximando de mim. Ele olhou para meu uniforme com uma expressão que era mistura de preocupação e um tipo de desapontamento, como se ele soubesse que isso não era o que eu merecia.
- Sim, mais uma noite - respondi, tentando dar um sorriso que não fosse tão forçado. O sorriso dele era sempre a luz em um dia nublado. Ele acreditava em mim, acreditava que aquilo não era tudo o que a vida tinha a oferecer. E, de certa forma, eu ainda tentava acreditar também.
Leo olhou para os seus sapatos sujos de neve e fez uma pausa antes de falar.
- Alessa, eu estava pensando... Eu posso trabalhar mais. Ajudar mais com o que a gente precisa. Talvez eu consiga arrumar algo, sei lá... Para não depender de você o tempo todo.
Eu suspirei, sentindo o peso da conversa se arrastar pelo ar, e me aproximei dele. Segurei seus ombros com mais firmeza do que pretendia.
- Leo, você não vai trabalhar. Não vai parar de estudar. - Tentei não parecer tão rígida, mas a ideia dele desistir da escola era como um soco no estômago. - A vida já está sendo dura demais para nós dois. Eu vou dar aulas para você até o fim. Só não me peça para parar com isso, porque eu não vou. Entendeu?
Leo parecia hesitar por um momento, mas logo me deu um sorriso suave, como se estivesse me protegendo de algo que eu sabia que ele não entendia completamente. Ele não sabia o quanto aquilo me consumia, mas eu queria que ele tivesse alguma esperança, algo para se agarrar. Ele não podia abrir mão da sua infância, do que ainda restava de uma vida normal.
- Tá, Alessa. Eu só... não gosto de ver você se esforçando tanto. Você merece mais do que isso.
Eu não soube o que responder. Porque, de alguma forma, ele estava certo. Eu merecia mais. Mas o que eu podia fazer? A realidade era como uma parede fria que me impedia de ver além. Eu respirei fundo.
- E você vai ter mais, Leo. Um dia, você vai. Agora vai para o quarto e tenta descansar, porque essa noite vai ser longa para os dois.
Ele me deu um beijo na bochecha e foi embora, indo para o pequeno quarto, enquanto eu sentava na mesa, me forçando a olhar para o relógio. O tempo parecia se arrastar, mas a noite, essa sim, chegaria rápido demais.