Capítulo 4 Primeira Aparição Pública

Capítulo 4 – "Primeira Aparição Pública"

(Narrado por Evan Montenegro)

A noite estava fria, e a cidade parecia envolta em um manto de luzes e sombras enquanto a limusine estacionava em frente ao prédio de Lara. Do meu lugar, ajustei os punhos do meu smoking preto impecável, sentindo o peso do evento que nos aguardava. Era um jogo que eu sabia jogar bem, eventos de caridade eram apenas outra arena para reforçar meu controle e influência.

Mas, desta vez, eu tinha uma parceira inusitada.

Quando Lara apareceu na porta do prédio, por um momento, esqueci como se respirava. Ela usava um vestido vermelho de cetim que moldava suas curvas com precisão. O tecido parecia refletir cada raio de luz, criando uma aura que era ao mesmo tempo deslumbrante e intimidadora. Seu cabelo estava preso em um coque solto, com algumas mechas caindo estrategicamente ao redor do rosto.

E o perfume. Um aroma floral delicado que alcançou minhas narinas antes mesmo de ela entrar na limusine. Eu me forcei a desviar o olhar enquanto ela se aproximava, mas não pude evitar notar o som suave de seus saltos altos ecoando no asfalto.

– Está pronta? – perguntei, mantendo meu tom neutro, enquanto ela se acomodava no assento ao meu lado.

Ela me lançou um olhar que poderia cortar aço.

– Não tenho muita escolha, tenho?

Um sorriso de canto escapou antes que eu pudesse me controlar. Lara tinha um talento especial para desafiar minha paciência, mas isso só tornava o jogo mais interessante.

– Você está deslumbrante – admiti, e vi o olhar dela vacilar por um breve momento antes de recuperar a compostura.

– Não está muito mal para alguém que insiste em me arrastar para essas situações – retrucou, ajeitando a saia do vestido.

A limusine deslizou pelas ruas movimentadas da cidade, o silêncio entre nós preenchido pela tensão latente. Eu sabia que Lara detestava cada segundo disso, mas havia algo nela, uma força subjacente, que me fazia acreditar que ela se sairia muito melhor do que imaginava.

O evento de caridade acontecia em um salão de baile luxuoso no coração da cidade. Lustres de cristal pendiam do teto, espalhando luzes cintilantes que dançavam nas paredes de mármore polido. Tapetes vermelhos cobriam o chão, abafando o som dos passos dos convidados que se moviam com graça ensaiada.

Assim que saímos da limusine, todos os olhares se voltaram para nós. Segurei o braço de Lara, sentindo sua rigidez enquanto atravessávamos a entrada. Ela mantinha a cabeça erguida, o sorriso educado, mas distante, perfeitamente no lugar.

– Relaxe – sussurrei, inclinando-me levemente em sua direção. – Quanto mais tensa você estiver, mais evidente será que estamos fingindo.

Ela não respondeu, mas me lançou um olhar de aviso que fez meu sorriso se alargar.

Dentro do salão, o murmúrio das conversas e o tilintar de taças de champanhe formavam uma melodia quase hipnótica. Reconheci rostos familiares, investidores, empresários, e, é claro, rivais. Cada um deles nos analisava com interesse calculado, como se estivessem tentando decifrar o mistério que era nosso suposto relacionamento.

– Evan, meu caro! – A voz de Gustavo, soou às nossas costas.

Me virei, mantendo o sorriso polido enquanto ele se aproximava. Gustavo era o tipo de homem que adorava provocar, sempre tentando encontrar uma brecha para se sobressair. E, pelo brilho em seus olhos, ele estava especialmente interessado em Lara.

– Boa noite, Lara – ele disse, estendendo a mão para ela. – Tenho muito gosto em revê-la.

– O gosto é todo meu – respondeu Lara, apertando a mão dele com firmeza, o sorriso tão afiado quanto uma faca.

– Oh, que simpática – Gustavo respondeu, mas havia uma nota de sarcasmo em sua voz que não passou despercebida.

Enquanto a conversa continuava, percebi que Lara tinha uma habilidade inata de navegar pelas sutilezas sociais. Ela era afiada, espirituosa e, acima de tudo, não deixava ninguém intimidá-la.

– Vocês formam um casal fascinante – comentou Gustavo, seu tom carregado de insinuações. – Quase bom demais para ser verdade.

– Alguns chamariam isso de destino – retruquei, envolvendo a cintura de Lara com um gesto possessivo.

Ela endureceu sob meu toque, mas não disse nada.

A música suave que preenchia o salão se transformou em algo mais vibrante, e os casais começaram a se mover para a pista de dança. Antes que eu pudesse reagir, Camila apareceu ao nosso lado, um sorriso travesso estampado no rosto.

– Vocês dois precisam dançar – insistiu ela, praticamente empurrando Lara em minha direção.

– Não acho que seja necessário – começou Lara, mas Camila já tinha desaparecido na multidão.

– Parece que não temos escolha – comentei, oferecendo minha mão.

Ela hesitou, mas acabou aceitando. Quando a puxei para mais perto, notei que ela era surpreendentemente leve e graciosa. Diferente da dança no restaurante, desta vez parecia haver uma sincronia entre nós, embora ela nunca admitisse.

– Você dança melhor do que eu esperava – provoquei, sentindo o calor dela contra mim.

– E você é menos insuportável quando está calado – retrucou, mantendo o olhar fixo no meu.

Eu ri, um som baixo que parecia mais um desafio do que um sinal de diversão.

Enquanto girávamos pela pista, percebi que muitos olhares estavam voltados para nós. Eu sabia o que eles viam, um casal perfeito, pelo menos na superfície. Mas o que me intrigava era o que eu sentia, uma conexão inesperada que eu não conseguia ignorar.

Quando a noite finalmente chegou ao fim, conduzi Lara de volta à limusine. No momento em que me inclinei para fechar a porta atrás dela, nossos rostos ficaram perigosamente próximos. Por um instante, considerei ceder ao impulso de reduzir ainda mais aquela distância.

Mas, em vez disso, recuei.

O silêncio no caminho de volta era pesado, quase opressor. Quando finalmente estacionamos em frente ao seu prédio, Lara desceu sem cerimônia.

– Boa noite, Evan – disse ela, a voz seca.

Enquanto a observava desaparecer pela porta, fiquei com uma sensação estranha no peito, algo entre frustração e curiosidade. Lara Torres era um enigma, e eu não conseguia decidir se queria resolvê-lo ou simplesmente apreciar o desafio.