Quando chegou a hora da reunião com Damián, Valeria se encontrou novamente diante das portas de vidro da Ferreira Corp. Um assistente a conduziu até uma sala de reuniões no último andar, onde Damián já a esperava. Sua presença, como sempre, dominava o ambiente. A cadeira de rodas estava posicionada em um canto da mesa, com documentos organizados meticulosamente sobre ela.
- Pontual novamente. Estou impressionado, - disse Damián, com um tom que roçava a cordialidade.
- Gosto de saber exatamente no que estou me envolvendo antes de me comprometer, - respondeu ela, sentando-se à sua frente.
Damián assentiu e, deslizando uma caneta em sua direção, indicou o contrato que estava sobre a mesa.
- Vamos falar sobre suas preocupações.
Valeria abriu sua pasta e retirou a lista de anotações. Passou os primeiros minutos discutindo detalhes menores: horários, logística e alguns aspectos técnicos legais. Mas, finalmente, chegou ao ponto que estava esperando.
- Quero discutir a cláusula sobre contato físico, - disse ela, sustentando seu olhar.
Damián arqueou uma sobrancelha, mas não pareceu surpreso. Em vez de responder imediatamente, cruzou as mãos sobre a mesa e a observou, como se avaliasse a melhor forma de proceder.
- Especifique.
Valeria respirou fundo antes de continuar.
- A cláusula estabelece que haverá "limites rigorosos quanto ao contato físico". Quero entender exatamente o que isso significa. Não é apenas uma questão de conforto; quero garantir que estamos na mesma página.
- Significa, - começou Damián, com um tom pausado, mas firme, - que este casamento é puramente funcional. Não haverá contato físico desnecessário e, muito menos, intimidade. Se, em algum momento, a situação social exigir uma demonstração de afeto, como segurar as mãos ou um beijo na bochecha, será feito exclusivamente para manter as aparências. Fora isso, nossas vidas privadas permanecerão separadas.
Valeria assentiu lentamente, deixando as palavras dele se assentarem. Ela já esperava aquela resposta, mas ouvi-la diretamente dele dava uma tranquilidade que não havia previsto.
- E se uma das partes violar essa cláusula, quais serão as consequências? - perguntou, levantando levemente uma sobrancelha.
Damián esboçou um leve sorriso, como se apreciasse sua determinação.
- Falar de consequências em um acordo como este é desnecessário se ambas as partes respeitarem os termos. Mas, para sua tranquilidade, qualquer violação dessa natureza invalidará o contrato e encerrará o acordo imediatamente.
Valeria percebeu a firmeza em sua voz, deixando claro que ele não estava brincando. Ele havia pensado em tudo e não tinha a menor intenção de deixar espaço para mal-entendidos. Com isso esclarecido, passaram para o restante das cláusulas, abordando temas como convivência e expectativas públicas.
- Teremos quartos separados na minha residência. Passaremos tempo juntos em eventos sociais, mas, fora isso, você pode manter sua rotina habitual, desde que informe meu assistente com antecedência, - explicou Damián.
A formalidade de todo o acordo ainda a deixava perplexa. Não havia nenhum traço de romantismo, nenhuma insinuação de algo que pudesse ser mal-interpretado. Para ele, aquilo era um negócio, e Valeria percebeu que precisaria encarar dessa forma também.
Quando finalmente terminaram de revisar o contrato, Damián a olhou com intensidade.
- Há mais alguma coisa que a preocupe?
Valeria balançou a cabeça, embora ainda tivesse muitas perguntas que preferia guardar para outro momento. Por ora, precisava de tempo para processar tudo.
- Acho que cobrimos tudo. Quando esperam que eu assine? - perguntou.
Damián deslizou uma caneta na direção dela, mas não a pressionou.
- Tome o tempo que precisar. Mas quanto antes assinarmos, mais cedo poderemos começar a trabalhar nos detalhes públicos.
Valeria guardou o contrato em sua pasta e se levantou, pronta para sair. No entanto, antes que pudesse alcançar a porta, Damián falou novamente.
- Valeria, uma última coisa. Isto não é apenas um acordo para mim. É uma maneira de proteger o que construí. Se decidir aceitar, quero que saiba que não gosto de falhar. Nem comigo mesmo, nem com aqueles que trabalham comigo.
Havia algo no tom dele que a fez parar. Não era uma ameaça, mas também não era apenas uma declaração. Era um lembrete de que aquele homem estava acostumado a ter o controle e esperava o mesmo de todos ao seu redor.
Valeria assentiu, sem dizer nada, e saiu da sala de reuniões. Enquanto caminhava em direção ao elevador, não pôde evitar sentir-se presa em uma teia de expectativas e segredos que mal começava a compreender.