Valeria revisava os relatórios da empresa na tela do computador, tentando manter a mente ocupada. Os números e percentuais se fundiam em um mar de dados que ela perdia de vista, cada um representando uma faceta do império que Damián havia construído e do qual ela, de forma quase involuntária, seria arrastada a fazer parte. Sabia que sua vida estava prestes a mudar, e não apenas pelo contrato. As novas alianças e conexões que essa união traria implicavam um mundo completamente desconhecido, repleto de intrigas e jogos de poder. Logo, descobriria que os segredos que essa rede escondia poderiam fazer ou desfazer sua vida, e cada revelação a levaria um passo mais perto de um destino que nem mesmo ela havia imaginado.
O som de uma mensagem no celular a tirou de seus devaneios. Era de Damián.
Bom dia, Valeria. Espero que tenha tido tempo para refletir sobre nossa reunião de ontem. Se decidir seguir adiante, gostaria que nos encontrássemos esta tarde para finalizar os detalhes. Estou à sua disposição.
Sem pensar muito, respondeu com um simples "Aceito" e deixou o celular sobre a mesa. Em sua mente, as perguntas continuavam a se acumular. "O que significará viver sob aquele teto? Quais segredos obscuros a Ferreira Corp. esconde?"
Quando a tarde chegou, Valeria estava na mesma sala de reuniões que havia visto na manhã anterior. Desta vez, Damián estava acompanhado por seu assistente pessoal, um homem magro, de olhar afiado, chamado Marco, que se movia pela sala com a confiança de quem controla cada detalhe. O ambiente era denso, como se um furacão de silêncios e olhares calculados envolvesse o espaço.
- Bem-vinda de volta, Valeria, - disse Damián, sua voz profunda ressoando com um eco que, às vezes, era inquietante. - Espero que a decisão que tome hoje seja a certa para ambos.
Valeria assentiu, embora por dentro sentisse que o peso da escolha poderia esmagá-la.
Marco, com um gesto quase imperceptível, entregou a Valeria um pacote de documentos.
- Este é o anexo que precisa assinar para formalizar a parte da vida pública. Contém detalhes sobre os eventos que deverá comparecer e suas responsabilidades como "Elite Social" da família Ferreira, - informou Marco.
Valeria olhou para o documento, notando que os termos eram tão rígidos quanto os do contrato inicial. Esperava-se que ela se comportasse como uma esposa exemplar, uma figura de apoio que jamais falharia em sustentar a imagem de Damián. Aparições públicas, jantares de gala, reuniões de caridade - tudo exigiria sua presença e sua habilidade de manter uma aparência impecável.
- A partir de hoje, você viverá na residência dos Ferreira, onde estará sob vigilância rigorosa. Isso é para proteger nossa imagem e a integridade do acordo, - explicou Damián, com um olhar que parecia lê-la por completo.
Valeria hesitou por um momento, sabendo que aquela não seria uma vida fácil. A residência Ferreira, um palácio de mármore e vidro no topo da colina, representava tudo o que ela havia sonhado e temido. A opulência que vira em fotos agora se tornava tangível e opressora.
- Você tem dúvidas, eu posso ver, - disse Damián, com um lampejo de compreensão nos olhos. - Mas entenda que isso não é apenas um sacrifício para você, é também para mim. Por isso, se em algum momento sentir que é demais, peço que diga.
As palavras pareciam sinceras, mas Valeria não conseguia evitar questionar qual seria sua verdadeira motivação. O homem à sua frente, que governava seu império com a frieza de um autômato, nunca havia mostrado sinais de fraqueza ou emoções humanas genuínas. Era um mistério que a inquietava.
- Aceito, - disse ela, com uma voz mais firme do que realmente se sentia.
Nesse momento, a porta se abriu e uma figura familiar entrou na sala. Era Elena, a irmã mais nova de Damián, vestindo um conjunto branco impecável, com os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo alto. Seus olhos, de um azul cristalino, refletiam a frieza que ela própria emanava.
- Valeria, - disse Elena, sem um sorriso, mas com um tom que pretendia ser acolhedor. - Vim dar as boas-vindas à família.
A tensão na sala aumentou instantaneamente. Valeria sentiu o peso da situação, o perigo latente que emanava de cada um dos Ferreira. Sabia que sua decisão havia começado a tecer uma rede que a prendia sem escapatória. A questão era: até onde ela teria que ir nesse mundo antes de perceber que já era tarde demais?
O silêncio tomou conta da sala, pesado e denso, enquanto Elena se aproximava e se sentava em um canto, observando Valeria como se estivesse avaliando uma peça de xadrez. O jogo havia começado, e Valeria já podia sentir o risco de cada movimento.
Mas desta vez, estava decidida a não jogar sem conhecer as regras. Não estava apenas assinando um contrato; estava entrando em uma batalha onde cada palavra e cada ação teriam consequências imprevisíveis. E, enquanto se preparava para assinar, um calafrio percorreu sua espinha ao pensar no que descobriria sobre a verdadeira natureza dos Ferreira.