Com um suspiro, deslizou o dedo pela tela e começou a escrever uma mensagem breve e casual:
"Oi, Samuel. Gostaria de se encontrar comigo esta noite?"
Ela ficou olhando para a mensagem antes de enviá-la, tentando ignorar o nervosismo. Não era típico dela sentir-se assim, mas com Samuel se sentia estranhamente diferente, como se aquela parte fria e calculista desaparecesse sempre que pensava nele.
Minutos depois, seu telefone vibrou com uma resposta.
"Oi, Camila. Claro, eu adoraria. Diga onde e estarei lá."
Camila sorriu. Nos minutos seguintes, organizou os detalhes para se encontrarem em um café discreto, afastado do centro. Queria evitar lugares públicos onde pudesse ser reconhecida; preferia manter esse lado de sua vida longe dos olhares familiares e corporativos.
Ao anoitecer, Camila chegou ao café e encontrou Samuel já sentado, olhando pela janela como se estivesse imerso em seus pensamentos. Sua aparência era simples, com uma jaqueta de couro marrom e uma camisa cinza. Assim que a viu, ele se levantou e sorriu.
- Camila - disse ele em um tom caloroso. - Fico feliz em te ver de novo.
- Igualmente, Samuel - respondeu ela, sentando-se à sua frente. Havia algo na presença dele que a acalmava, como se todo o peso de sua vida desaparecesse.
Pediram café e começaram a falar sobre suas semanas, suas atividades, evitando cuidadosamente os temas de trabalho e negócios, como se ambos entendessem que aquele encontro era uma fuga de tudo isso.
No entanto, a curiosidade crescia dentro de Camila. Ela sentia que sabia pouco sobre Samuel, e uma parte dela queria descobrir mais.
- Nunca pensou em trabalhar em uma empresa maior, Samuel? - perguntou, depois de um gole de café. - Alguém com seus conhecimentos poderia ir longe em uma grande companhia.
Samuel a olhou atentamente, como se ponderasse sua resposta.
- Não busco uma posição de destaque, Camila - respondeu com um sorriso tranquilo. - Gosto do meu trabalho porque posso ajudar outras pessoas sem ficar preso aos jogos de poder.
Camila assentiu, admirando a clareza com que ele falava sobre suas escolhas.
- E o que acha de nós, que jogamos esses jogos? - perguntou ela, um pouco na defensiva. No fundo, queria saber como ele a via, embora uma parte dela temesse a resposta.
Samuel a olhou com serenidade e, após uma pausa, respondeu com uma voz suave:
- Acho que cada um encontra seu lugar no mundo, Camila. Você é uma mulher forte, que sabe o que quer e não tem medo de lutar por isso. Isso é admirável, independentemente do jogo em que esteja.
As palavras dele a impactaram. Ele via sua força sem se intimidar ou sentir necessidade de desafiá-la. Com Samuel, pela primeira vez em muito tempo, ela se sentia realmente valorizada.
A conversa fluiu naturalmente, passando de um assunto para outro, até que Samuel sugeriu:
- Quer dar uma volta?
Ela concordou. Logo estavam caminhando pelas ruas iluminadas pelos postes, entre as pessoas que aproveitavam a noite sem se preocupar com títulos ou pressões familiares.
Samuel parou em frente a uma pequena loja de antiguidades. Dentro, havia joias e relógios de época, objetos que pareciam carregar histórias de outros tempos.
Camila se aproximou e observou um velho relógio de bolso na vitrine. Samuel notou seu interesse e sorriu.
- Gosta de antiguidades? - perguntou ele.
- Não muito, mas sinto que esses objetos têm algo que nós não temos - respondeu, olhando fixamente o relógio. - A capacidade de resistir ao tempo. Não importa o que aconteça ao seu redor, eles continuam existindo. É... como se o tempo lhes pertencesse.
Samuel assentiu, observando o relógio através do vidro.
- Dizem que o tempo é a única coisa que realmente temos. Todo o resto é emprestado - murmurou, como se falasse mais para si mesmo do que para ela.
Camila se virou para ele, intrigada.
- Por que diz isso?
Ele a olhou com um toque de tristeza nos olhos, mas logo voltou a sorrir suavemente.
- Porque aprendi que o tempo nos define. - Depois desviou o olhar. - Às vezes, acho que passamos tempo demais nos preocupando com coisas que não são tão importantes, quando poderíamos simplesmente viver.
A maneira como ele falava e sua visão sobre a vida eram tão diferentes das pessoas ao redor dela, que Camila não pôde evitar sentir-se cada vez mais fascinada. Samuel parecia ter uma calma que ela invejava, mas ao mesmo tempo, parecia esconder um mistério que ela não conseguia decifrar completamente.
-Diga-me, Samuel -disse ela, quebrando o silêncio com um sorriso leve-. O que mais você esconde por trás dessa calma tão... diferente?
Ele soltou uma risada baixa e balançou a cabeça.
-Acho que todos temos segredos, Camila. -Fez uma pausa antes de acrescentar-. Embora, às vezes, esses segredos só importem para quem realmente deseja conhecê-los.
Suas palavras pairaram no ar, e Camila sentiu um leve arrepio. Perguntava-se que tipo de segredos poderia ter um homem como Samuel, alguém que parecia tão simples e descomplicado, mas ao mesmo tempo tão enigmático.
-Sabe... -disse ele, quebrando o silêncio-. Não costumo falar sobre minha vida com muitas pessoas. Mas com você, sinto que posso ser sincero, e isso não acontece com frequência.
Camila o olhou, surpresa. Não esperava aquela confissão.
-Agradeço por confiar em mim -respondeu, sentindo-se, sem saber exatamente como, profundamente conectada a ele-. É raro encontrar pessoas assim neste mundo, sabia?
Ele assentiu, e ambos continuaram caminhando, como se as palavras já não fossem necessárias. Naquele instante, Camila sentiu que estava no lugar certo, no momento certo. Pela primeira vez em anos, não estava pensando em sua família, na empresa, nem nas expectativas que pesavam sobre ela. Estava apenas ali, ao lado de Samuel, desfrutando de uma noite qualquer em uma cidade que, pela primeira vez, parecia realmente sua.
Camila não sabia que, naquele exato momento, alguém os observava à distância, seguindo seus passos de maneira discreta. Não era um paparazzi nem um curioso, mas sim um dos homens de confiança de Samuel, que, de longe, zelava por sua segurança sem interferir.
Ao final da noite, ao se despedirem, Camila não pôde evitar se perguntar quem realmente era Samuel e o que mais ele escondia por trás daquele olhar sereno.