- Como Ana descobriu? - A pergunta de Valéria quebrou o silêncio com uma clareza cortante. Sua voz, embora calma, escondia uma ameaça latente que se tornava cada vez mais evidente à medida que as palavras se deslizavam entre eles. O desconforto entre os dois era palpável, um abismo de mentiras e segredos que parecia engolir cada vez mais ambos.
Sebastián girou lentamente em direção a ela, um flash de culpabilidade cruzando seus olhos antes que ele conseguisse se controlar. Ele não respondeu de imediato, como se as palavras tivessem ficado presas, como se temesse que qualquer resposta piorasse a situação.
- Como Ana descobriu? - Valéria repetiu, dessa vez com um tom mais urgente, mais insistente. Havia algo em seus olhos que refletia não apenas frustração, mas também medo. Como se o fato de Ana ter descoberto a verdade colocasse em risco tudo o que haviam construído em segredo.
Sebastián apertou os lábios, deu um passo em direção a ela. Sua mente parecia prestes a explodir. O que poderia dizer? Não podia contar a Valéria que era sua própria culpa, que ele mesmo havia alimentado essa mentira por tanto tempo. Que havia deixado o fogo do seu engano crescer até se tornar incontrolável.
- Eu não sei... Não sei como ela descobriu. - Sua voz soou mais quebrada do que ele queria. Mas estava claro que, embora não entendesse todos os detalhes, sabia que o dano já estava feito. E, o pior de tudo, não havia como consertá-lo.
Valéria olhou-o fixamente, um brilho de desdém atravessando seu rosto. Ela se aproximou um passo mais, suas palavras carregadas de raiva fria.
- Sério? Depois de tudo o que passamos juntos, você não sabe como ela descobriu? - Suas palavras eram venenosas, carregadas de uma ira contida, uma raiva por ter sido colocada em uma situação tão comprometida. Valéria nunca foi boba. Sempre desconfiara que o controle de Sebastián sobre a situação estava se desmoronando, mas nunca imaginou que Ana, sua esposa, acabaria descobrindo.
Uma explosão de frustração surgiu dentro de Sebastián. Ele passou uma mão pelos cabelos, visivelmente agitado, como se estivesse tentando encontrar uma solução mágica que não existia.
- Eu não sei! Mas agora tudo está fora de controle... Tudo está fora das minhas mãos. Eu não sei o que fazer. - As palavras saíam de sua boca como uma avalanche, sua voz cheia de desespero. A situação havia saído completamente do seu controle. O amor por Ana, a atração por Valéria, e a mentira que ele teceu durante tanto tempo estavam se apertando como uma corda em seu pescoço.
Valéria não parecia impressionada. Ela se aproximou ainda mais, de forma que seus rostos agora estavam tão próximos que a respiração de ambos se misturava no ar carregado de tensão.
- Você acha que ela vai te perdoar, Sebastián? - A pergunta foi tão direta quanto uma faca. As palavras ecoaram no ar, cheias de dureza, fazendo o coração de Sebastián parar por um segundo. Havia algo no olhar de Valéria, uma mistura de arrogância e medo, como se também estivesse à beira de perder tudo.
- Eu não sei... - Sebastián suspirou, derrotado. A verdade o atingiu com força, e pela primeira vez em muito tempo, ele se sentiu completamente vulnerável. Ele mentiu, traiu, mas nunca pensou nas consequências de seus atos.
O som de um telefone interrompeu a conversa, o toque estridente preenchendo o ambiente. Sebastián olhou para o celular, como se aquele som fosse um sinal de seu destino iminente. Não sabia o que ela queria, mas não podia evitar se sentir preso, como se o peso da culpa o estivesse esmagando. O que ele responderia? Seria capaz de mentir novamente?
Olhou para Valéria e depois voltou seu olhar para o telefone. Sua respiração ficou mais pesada. Finalmente, suspirou e atendeu a chamada.
- Ana? - Disse com a voz tensa, temendo o pior.
Do outro lado da linha, a voz de Ana soou clara, mas havia algo nela que o deixou gelado. Um tom frio, firme, como se ela já não fosse mais a mesma mulher de antes.
- Sebastián, precisamos conversar. - Ana fez uma pausa breve antes de continuar. - Eu te vi hoje de manhã. Sei o que você tem feito. E não vou permitir que continue me mentindo.
A ligação foi cortada abruptamente. Sebastián ficou olhando para o celular, completamente congelado, enquanto uma onda de pavor o invadia. Ana sabia. A mentira havia chegado ao fim. Não havia mais como voltar atrás.
Valéria observava em silêncio, seus olhos brilhando com uma mistura de raiva e satisfação, como se o destino de Sebastián já não fosse mais tão importante para ela.
- Isso é só o começo, Sebastián. - Murmurou, com um sorriso sombrio, enquanto se afastava do quarto.