Capítulo 5 O Jogo Começa

A luz suave da manhã filtrava-se pelas cortinas finas do apartamento de Juliete Dubois, desenhando sombras delicadas nas paredes pálidas. Ela despertou lentamente, piscando algumas vezes antes de focar no teto acima de si. Sua respiração era pausada, mas sua mente já estava em movimento.

A lembrança da noite anterior ainda pairava sobre ela, mas não havia tempo para se render à dor. A vingança exigia foco, e Juliete não se desviaria do caminho. Hoje, daria mais um passo em direção ao seu objetivo. Ela não apenas se infiltraria na empresa de Adrien, mas também garantiria que sua presença se tornasse indispensável.

Ela deslizou para fora da cama, sentindo o frio do chão contra a pele. Caminhou até o banheiro e observou seu reflexo no espelho. Seu rosto parecia mais endurecido, os olhos carregando uma determinação que não estava ali meses atrás. Abriu a torneira e lavou o rosto, permitindo que a água gelada dissipasse qualquer traço de fragilidade que pudesse restar.

Vestir-se para aquele dia exigia precisão. Escolheu um blazer e uma calça de alfaiataria em azul-marinho, que exalavam profissionalismo e sofisticação. A blusa de seda branca acrescentava um toque de suavidade, equilibrando sua postura firme. Nos pés, sapatos de salto médio, confortáveis, mas elegantes. Seu cabelo foi preso em um coque impecável, e a maquiagem neutra destacou sua beleza sem exageros. Cada detalhe contava. Ela não estava apenas se preparando para uma entrevista; estava se preparando para assumir o controle.

Antes de sair, pegou sua bolsa e revisou mentalmente as informações que havia coletado sobre a empresa. Conhecia a estrutura, os projetos em andamento e, principalmente, sabia que a vaga de tradutora a colocaria em uma posição privilegiada. Estar perto de Adrien significava estudar seus movimentos, compreender sua estratégia e, no momento certo, dar o golpe que ele nunca veria chegar.

Respirou fundo antes de sair, fechando a porta do apartamento atrás de si. Cada passo que dava era calculado, cada movimento feito com a frieza necessária para vencer aquele jogo.

A sede da Delacroix Enterprises erguia-se imponente à sua frente, um prédio de vidro e aço que refletia o céu da manhã. Juliete atravessou a recepção sem hesitação, sendo recebida por uma jovem educada que a encaminhou para o andar onde aconteceria a entrevista.

Assim que as portas do elevador se abriram, ela se deparou com Camille Durand. A diretora de Recursos Humanos a esperava com um olhar afiado, sua postura rígida transmitindo autoridade e um ar de posse. Juliete percebeu no mesmo instante: Camille via Adrien como algo mais do que apenas seu chefe. E qualquer mulher que se aproximasse dele seria tratada como uma ameaça.

- Juliete Dubois? - A voz de Camille soou fria e calculada.

- Sim. É um prazer conhecê-la. - Juliete manteve um sorriso educado, oferecendo a mão. Camille, no entanto, ignorou o gesto.

- Acompanhe-me. - A diretora virou-se, levando-a para uma sala de reuniões envidraçada, onde apenas as paredes finas separavam as duas do resto do escritório. Um jogo psicológico. Juliete entendeu de imediato.

Assim que se sentaram, Camille começou o interrogatório.

- Seu currículo é interessante, mas me diga, por que quer trabalhar aqui? - Seu tom era afiado, quase desdenhoso.

Juliete manteve a compostura e respondeu com confiança, detalhando sua experiência e suas habilidades como tradutora. No entanto, Camille a interrompia a cada resposta, lançando perguntas desnecessárias e comentários cortantes.

- Francês e inglês fluentes? Impressionante... Mas aqui buscamos alguém com um perfil mais... alinhado à nossa cultura corporativa. - O olhar dela percorreu Juliete de cima a baixo, insinuando que ela não se encaixava.

Juliete percebeu que a entrevista não era apenas uma avaliação de suas competências, mas uma tentativa de intimidá-la. Camille queria deixá-la desconfortável, fazê-la falhar. Mas Juliete não era alguém que se dobrava facilmente.

- Acredito que minha experiência e meu profissionalismo possam agregar à equipe - disse Juliete, mantendo a voz firme.

Camille soltou uma risada baixa e inclinou-se ligeiramente para frente.

- Temos muitas candidatas qualificadas. Mas, claro, levaremos sua aplicação em consideração. - Sua voz carregava um tom de desdém mal disfarçado.

Juliete apenas sorriu, inclinando a cabeça levemente. Ela sabia que Camille faria o possível para barrá-la, mas isso apenas tornava o desafio mais interessante.

Ao sair do prédio, Juliete respirou fundo. Seu olhar voltou-se para o relógio. Contava com a pontualidade impecável de Adrien. E, como esperado, o carro preto de luxo estacionou exatamente no horário previsto. O motorista desceu e abriu a porta traseira. Juliete continuou andando, seus passos calculados para que seus caminhos se cruzassem no instante certo. E então, Adrien surgiu.

O terno impecável moldava sua figura imponente, e seu olhar carregava aquela intensidade que Juliete já conhecia. Atrás dele, Shaw, seu assistente pessoal, se esforçava para acompanhar seu ritmo, segurando uma pasta de documentos.

Os olhos de Adrien encontraram os dela, e desta vez não havia dúvida. O olhar intenso percorreu cada detalhe dela, como se analisasse uma informação inesperada. Um segundo de silêncio se estendeu entre eles, carregado de algo não dito.

Juliete sorriu levemente, o suficiente para instigar, mas sem revelar nada. Adrien arqueou uma sobrancelha, como se estivesse intrigado com sua presença, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Shaw quebrou o momento.

- Senhor, temos uma reunião em dez minutos. - A voz firme do assistente trouxe Adrien de volta ao momento. Ele hesitou por uma fração de segundo antes de assentir, desviando o olhar e seguindo para a entrada do prédio. Mas Juliete percebeu. Algo nele havia mudado naquele breve encontro. E ela sabia que ele pensaria nela mais do que gostaria.

Ela continuou seu caminho, satisfeita. O primeiro movimento tinha sido feito. Agora, era só esperar pela próxima jogada.

                         

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