Capítulo 3 Segredos à Beira do Abismo

A sala da casa dos Mancini estava tomada por uma tensão quase sufocante. Os pais de Sophia e Enrico discutiam acaloradamente, tentando entender o que havia acontecido.

Luca cruzou os braços, o semblante duro. - Isso foi um ataque direto. Não é coincidência dois membros da nossa família serem encurralados assim.

Antônio bateu a mão na mesa com força. - Precisamos saber quem foram esses homens. Se estão tentando atingir nossos filhos, é um recado claro.

Enrico andava de um lado para o outro, com a mandíbula travada. - Já mandei o pessoal investigar. Quero relatórios até o final da noite. - Ele parou e encarou Enzo com olhos afiados. - E você... vai me explicar direitinho que história é essa de treino.

Enzo abriu a boca para responder, mas Sophia, sentada no sofá, se levantou rapidamente.

- Já disse que não é nada demais! A gente só estava... testando umas armas novas.

Enrico se aproximou dela, os olhos frios como gelo. - Testando armas? Sozinhos? Sem segurança? Que tipo de idiota você acha que eu sou?

Amélia levou a mão ao peito, aflita. - Sophia, por favor... me diga que isso não é verdade.

Sophia abaixou a cabeça, o coração disparado, e Enrico soltou um suspiro pesado, massageando as têmporas.

- Se vocês tivessem morrido, isso poderia ter desencadeado uma guerra. Vocês têm noção disso?

Antônio bateu novamente na mesa, a voz carregada de raiva. - Quero saber o que está acontecendo de verdade!

Enzo tentou aliviar a tensão. - Não foi nada grave. Eles nos atacaram, mas conseguimos fugir e estamos bem. O que importa é que ninguém se feriu.

Enrico olhou para os irmãos como se quisesse atravessá-los com o olhar. - Vocês estão escondendo alguma coisa... e eu vou descobrir o que é.

Ele saiu da sala, pegando o celular para fazer mais ligações, com os olhos carregados de fúria.

Mais tarde, Sophia estava no quarto, encarando o teto quando sua mãe entrou.

Amélia fechou a porta devagar. - Você quase contou tudo, não foi?

Sophia falou baixinho, quase como um sussurro. - Sim...

Amélia sentou-se ao lado da filha, pegando suas mãos. - Por que você não fala logo a verdade? Se Enrico descobrir sozinho, ele vai ficar ainda mais furioso. E seu pai... e o tio Luca... você sabe que eles não vão perdoar.

Sophia engoliu seco, sentindo a pressão pesar sobre os ombros. - Eu não posso. Eles nunca aceitariam que eu sei lutar... que eu sei atirar. Eles me afastariam disso.

Antes que Amélia pudesse responder, Enzo entrou no quarto, fechando a porta atrás dele.

- O Enrico tá louco da vida. Ele vai cavar até o inferno pra descobrir o que aconteceu.

Sophia esfregou o rosto com as mãos, sentindo a pele arder de nervoso. - Eu sei...

Enzo se jogou na poltrona, cansado. - A gente precisa pensar num plano... ou você vai ter que encarar a verdade.

Enquanto isso, Enrico estava no galpão da máfia, cercado por seus capangas. Ele olhou para as fotos que haviam conseguido das câmeras de vigilância próximas ao local do ataque.

- Descubram quem são esses homens. Quero saber quem os mandou, de onde vieram, e se eles respiram até amanhã. - Ele jogou as fotos na mesa com força. - E se eles acharem que vão encostar um dedo na Sophia de novo... vão conhecer o verdadeiro inferno.

Enrico apertou o maxilar, os pensamentos fervendo. Ele sabia que Sophia estava escondendo algo, e não ia parar até arrancar a verdade dela - custasse o que custasse.

Na manhã seguinte, Enrico apareceu na casa dos Moretti com os olhos carregados de fúria. Bateu à porta com força, e Sophia foi quem abriu.

- O que você quer? - ela perguntou, cruzando os braços.

Enrico entrou sem ser convidado, os músculos tensos. - Por que as câmeras do galpão foram desativadas?

Sophia sentiu o estômago afundar, mas tentou manter a expressão neutra. - Deve ter sido algum problema técnico.

Ele riu sem humor. - Problema técnico? Logo no dia em que vocês foram atacados? Que coincidência conveniente.

Ela ergueu o queixo. - Isso não é da sua conta.

Enrico se aproximou, a voz carregada de veneno. - É da minha conta, sim. Você é filha de um dos meus melhores homens e, quer você goste ou não, está sob minha proteção.

- Eu não preciso da sua proteção! - Sophia rebateu, os olhos faiscando de raiva.

Ele cerrou os punhos, respirando fundo para não explodir. - A partir de agora, você está proibida de sair dessa casa sem segurança.

Sophia deu um passo à frente, desafiadora. - Você não manda em mim.

Enrico se inclinou, quase colando o rosto ao dela. - Eu não estou pedindo.

Sentindo o sangue ferver, ele virou as costas e saiu, batendo a porta com força. Naquela noite, ele foi para as lutas clandestinas, descarregando a raiva a cada soco que dava.

Mas mesmo com os punhos ensanguentados, a imagem de Sophia o encarando com aqueles olhos desafiadores não saía da sua mente.

                         

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