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O som baixo da televisão preencheu o silêncio sufocante do quarto. Eu estava terminando de trocar o curativo de Tomazio quando a voz do noticiário chamou minha atenção.
- As autoridades ainda investigam o ataque na periferia de Roma. Fontes indicam que um conhecido empresário, Tomazio Messina, pode estar entre os desaparecidos após a violenta emboscada...
Meu corpo congelou.
Levantei os olhos devagar, sentindo um peso incômodo no estômago. Ele também escutou. Seu maxilar se contraiu, os olhos escuros analisando cada palavra na tela com uma intensidade perigosa.
Tomazio Messina. Eu já sabia quem ele era, mas ouvir seu nome dito em rede nacional tornava tudo mais real. Mais ameaçador.
Respirei fundo, tentando ignorar o arrepio que subiu pela minha espinha. Esconder um homem como ele não era apenas um erro. Era uma sentença de morte.
Aumentei o volume. A repórter continuou:
- A polícia encontrou vários corpos na cena do crime. Investiga-se se o ocorrido estaria ligado a disputas territoriais entre facções criminosas. A qualquer momento, novas informações...
Desliguei a TV.
O silêncio se instalou novamente. Meu coração pulsava forte nos ouvidos. Quando me virei, Tomazio ainda me observava.
- Vai me entregar? - Sua voz era baixa, mas carregada de algo que não consegui identificar de imediato.
Raiva? Cansaço? Resignação?
Engoli em seco.
- Eu deveria? - rebati, cruzando os braços.
Seus olhos se estreitaram, avaliando minha resposta. Ele era um homem perigoso, disso eu sabia. Mas não havia medo em mim agora. Apenas uma certeza incômoda de que eu estava envolvida nisso muito mais do que queria admitir.
- Se quisesse, já teria feito - ele respondeu, com um sorriso que não chegou aos olhos. - O que significa que algo em você ainda acredita que eu valho o risco.
Bufei, desviando o olhar.
- Eu acredito que estou ferrada, isso sim.
Ele soltou um riso baixo. Um som rouco, que fez algo dentro de mim se contrair.
Não. Eu não podia me permitir esse tipo de distração.
Passei a mão pelo cabelo, frustrada.
- Ouça, Tomazio. Eu não sou criminosa. Eu não vivo nesse mundo. Eu não sei como funciona essa sua guerra, mas sei que, se te encontrarem aqui, eu morro junto.
Ele assentiu devagar, como se ponderasse minhas palavras.
- Se quiser que eu saia, é só dizer. Eu posso encontrar outro lugar para me esconder.
Suspirei, sentindo a exaustão pesar sobre mim.
- Você mal consegue ficar de pé sem cambalear. Se sair agora, é um homem morto.
Ele arqueou a sobrancelha.
- E então?
Cruzei os braços, irritada.
- Então, eu preciso ser esperta. Preciso saber o que fazer se as coisas saírem do controle.
Ele me encarou por um longo momento, como se tentasse decifrar algo em mim. Então, inclinou a cabeça levemente.
- Eu posso te ensinar.
Franzi o cenho.
- Ensinar o quê?
- Como sobreviver a um mundo como o meu.
Meus lábios se entreabriram, mas nenhuma palavra saiu. Eu deveria recusar. Deveria dizer que não precisava desse tipo de ensinamento.
Mas a verdade era que eu já tinha matado antes. E sabia que talvez precisasse fazer isso de novo.
A guerra não estava terminada. E agora, eu fazia parte dela.