Capítulo 6 Você fala demais

Quando William entrou na sala de estar, com Renee ainda nos braços, ele gritou uma ordem para a empregada: "Ligue para o doutor Newton agora mesmo."

A empregada, visivelmente assustada, mexeu no celular enquanto sua voz tremia: "O que aconteceu, senhor? A senhora Mitchell está doente?"

Renee, igualmente confusa e um pouco desgrenhada pela forma que o marido a carregara, perguntou: "William, o que diabos você está fazendo?"

Ele a ignorou completamente, a largou de qualquer jeito no sofá macio e, sem pressa, acendeu um cigarro.

Ele inalou profundamente, a fumaça envolvendo sua cabeça enquanto seus olhos penetrantes se fixavam nela.

"Você precisa fazer um check-up."

Furiosa e perplexa, a voz de Renee aumentou enquanto ela questionava: "Um check-up para quê?"

Os olhos de William se estreitaram e um sorriso frio enfeitou seus lábios. "Por que você iria se esgueirar para o hospital tão cedo?"

Renee piscou, surpresa com a menção ao hospital, e revirou os olhos, frustrada. "Fui lá para pegar você em flagrante com sua amante, é claro!"

O clima na sala mudou instantaneamente, como se o ar estivesse carregado de eletricidade.

Com o olhar duro, ela o acusou: "William, concordamos em manter nossa farsa enquanto levamos vidas separadas. Mas agora com Sylvia grávida? E se as pessoas descobrirem? É uma vergonha para mim e minha família!"

William estava tranquilo, quase imperturbável, enquanto o cigarro entre seus dedos se consumia lentamente.

O tempo parecia suspenso ao redor deles, e, ao fim de alguns segundos que se arrastaram, ele esmagou a ponta do cigarro, o jogando no cinzeiro.

Num murmúrio, ele disse: "Não se preocupe. Eu cuido disso."

Ele não negou a paternidade do filho de Sylvia, e o silêncio que se seguiu pairava denso no ar, como uma sombra.

Renee sentiu um nó se apertar em seu estômago, pois uma parte dela ainda se agarrava à esperança de que William não fosse o pai. No fundo, no entanto, ela sabia que estava se enganando.

Apesar da dor que se acumulava dentro dela, sua voz permaneceu firme, sem vacilar: "Se você insistir em ficar com o filho dela, então eu não vou mais tolerar. Eu quero o divórcio."

Os olhos da mulher brilhavam com a mesma determinação feroz que a motivou em sua busca incansável por ele ao longo daqueles cinco anos.

Os olhos de William encontraram os dela e, por um momento, ele entendeu a gravidade do que sua esposa estava dizendo - não era apenas uma briga passageira, pois ela estava falando sério.

Ele a olhou por um tempo, mas sua resposta foi fria, sem qualquer vestígio de emoção: "Entendi."

Renee, que já não nutria mais nenhum afeto por ele, sentiu uma necessidade avassaladora de cortar todos os laços, como se fosse a única maneira de se libertar de algo que a havia consumido por tempo demais.

Quando, finalmente, William saiu, ela ligou para Ryland.

Dramático como sempre, ele disse: "Oh, querida, me conte! Você pegou aqueles dois?"

Deixando o assunto de lado, a jovem foi direto ao ponto: "Ligue para o acompanhante de ontem à noite. Quero vê-lo no mesmo lugar de sempre. Estou decidida a engravidar esta noite, pois não deve ser tão difícil."

Ryland engasgou, sua voz subindo uma oitava em um misto de surpresa e descrença: "Você só pode estar brincando! Quer se vingar do William assim? Mas ter um filho de um homem qualquer... não acha que isso é ir longe demais?"

"Quem disse que é vingança? De repente, a ideia de ser mãe me pareceu interessante. E já que é para ser, que sejam óctuplos."

A declaração era tão absurda que Ryland não conseguiu conter a gargalhada, convencido de que Renee estava brincando com ele.

Mas, mais tarde à noite, quando menos esperava, a mulher apareceu no bar.

Ryland estava lá, acompanhado por dois homens corpulentos, exatamente o tipo de companhia que ele gostava.

Ao levantar o olhar, ele viu Renee parada perto da entrada. Ela estava sem maquiagem, vestindo roupas simples, mas sua beleza natural brilhava de uma forma que poucas pessoas conseguiam igualar.

"Cadê o cara?", ela perguntou, indo direto ao ponto.

Com um gesto impaciente, Ryland dispensou os dois homens e pegou um cigarro, oferecendo a ela com um sorriso provocador.

"Você está falando sério mesmo? Pensei que estivesse me zoando."

Renee pegou o cigarro e revirou os olhos, claramente exasperada. "E por que diabos eu brincaria com uma coisa dessas?"

Ryland zombou, sua voz cheia de descrença: "Sei lá... você nunca parece levar nada a sério. Todo mundo acha que você está sempre cercada de gigolôs, mas o que nenhum deles percebe é que você nunca esteve, de fato, com nenhum. Tenho que perguntar, isso é algum tipo de fetiche estranho seu ou você está apenas fingindo na frente de William?"

Renee soltou uma longa baforada de fumaça, os olhos fixos em Ryland enquanto respondia sem pressa: "Por que eu faria isso? Só não quero que ele pense que fosse louca por ele."

"Então o que te impede de se divertir com outros?"

"Você fala demais, Ryland. Agora pare de me fazer perder tempo e chame o cara da noite passada. Rápido!"

Sem esperar resposta, Renee girou sobre os calcanhares e desferiu um chute rápido na bunda dele.

Ryland engoliu um palavrão, sentindo a dor subir pela espinha, mas não ousou protestar, apenas resmungou algo inaudível antes de pegar o celular para fazer a ligação.

Pouco tempo depois, o acompanhante entrou no bar, com um traje de camuflagem impressionante.

Renee e Ryland congelaram de espanto.

"Po-porra! William?", Ryland gaguejou, descrente.

O homem se aproximou com calma, e acenou com a cabeça cortesmente. Com sua voz suave e controlada, ele saudou: "Senhorita Carter, senhor Flynn."

Ryland, ainda atordoado, se inclinou na direção de Renee, murmurando em um tom conspiratório: "Foi por isso que você escolheu ele? Ele é a cara do William!"

Pega de surpresa, Renee piscou, seus pensamentos embaralhados.

Na noite anterior, ela não havia notado a semelhança, e tudo o que lhe restara fora uma impressão vaga e favorável, nada mais do que isso.

Mas agora, com o cabelo curto e bem penteado, vestido com roupas de inspiração militar, a semelhança dele com William era quase perturbadora.

"Qual é o seu nome?", ela conseguiu perguntar, a voz pouco mais que um sussurro.

"Sou Michael Swain. Por favor, me chame de Michael. Posso chamá-la de Nene?", ele respondeu.

A escolha do apelido causou um arrepio inesperado em Renee. O coração dela deu um salto, pois William costumava chamá-la assim nos momentos mais íntimos, mas nunca à luz fria do dia.

O som do seu nome numa outra voz despertou algo dentro dela: um misto de nostalgia e um interesse inesperado.

A jovem fitou Michael, tentando decifrar se isso era uma provocação deliberada ou apenas um acaso intrigante.

Respirando fundo para conter a tempestade interna, Renee disse com um tom firme, embora sua voz estivesse levemente trêmula: "De agora em diante, você está comigo."