Os saltos altos eram um toque arriscado, mas ela queria transmitir confiança. Afinal, não estava lidando com um homem comum.
Ao sair de casa, o ar fresco da madrugada a acalmou um pouco. As ruas de Nápoles estavam desertas, e o som de seus passos ecoava nas calçadas de pedra. Vittorio havia enviado um carro para buscá-la, um sedan preto e discreto, com vidros escuros e um motorista igualmente silencioso. Ela entrou no carro, sentindo o cheiro de couro novo e um leve aroma de tabaco. O motorista não disse uma palavra, apenas acenou com a cabeça e partiu.
O destino não era o escritório imponente no centro da cidade, como ela esperava. Em vez disso, o carro seguiu para os arredores de Nápoles, onde as luzes da cidade davam lugar a estradas estreitas e paisagens rurais. Finalmente, eles chegaram a uma propriedade isolada, protegida por altos muros de pedra e portões de ferro. A mansão era antiga, mas imponente, com uma arquitetura clássica que falava de séculos de história. Os jardins eram exuberantes, cheios de flores e árvores que pareciam sussurrar segredos ao vento.
Quando o carro parou na frente da entrada principal, Isabella sentiu um frio na espinha. A porta da mansão se abriu, e lá estava ele: Vittorio Moretti, de terno cinza escuro, impecável como sempre, seus olhos escuros fixos nela como se já soubesse cada pensamento que passava por sua mente.
- Pontual - ele comentou, com um tom de aprovação. - Eu gosto disso.
- Eu não quero decepcionar - ela respondeu, mantendo a voz firme, apesar do coração acelerado.
Ele sorriu, um sorriso que era ao mesmo tempo sedutor e enigmático.
- Bom saber. Porque, como eu já disse, eu não tolero decepções.
Ele a conduziu para dentro da mansão, e Isabella sentiu-se como se estivesse entrando em outro mundo. O interior era luxuoso, mas não excessivo. As paredes eram revestidas de madeira escura, e o chão de mármore brilhava sob a luz dos candelabros. Obras de arte valiosas decoravam as paredes, e o ar estava impregnado com um leve aroma de madeira envernizada e flores frescas.
- Esta será sua base de operações - ele explicou, enquanto caminhavam por um corredor amplo. - Aqui, você terá acesso a tudo o que precisa. Mas lembre-se: o que você vê e ouve aqui não deve ser compartilhado com ninguém. A discrição é essencial.
Isabella concordou com a cabeça, sentindo o peso da responsabilidade. Ela sabia que estava entrando em um mundo perigoso, mas também sentia uma empolgação que não conseguia explicar.
O Primeiro Desafio
O dia começou com uma série de reuniões. Vittorio apresentou Isabella a alguns de seus homens de confiança, incluindo Luca, que a cumprimentou com um aceno de cabeça respeitoso, mas sem sorrir. Ele era alto, musculoso, e tinha uma cicatriz que ia da têmpora até o queixo, dando-lhe um ar intimidador. Isabella percebeu que ganhar a confiança deles não seria fácil.
- Luca é meu braço direito - Vittorio explicou, enquanto o homem a observava com olhos desconfiados. - Se precisar de algo e eu não estiver disponível, ele será seu ponto de contato.
Luca não disse nada, apenas acenou com a cabeça novamente. Isabella sentiu um arrepio, mas manteve a postura.
A primeira tarefa de Isabella foi organizar uma série de documentos confidenciais. Vittorio a levou até uma sala de reuniões, onde uma pilha de papéis estava espalhada sobre uma mesa de madeira maciça.
- Esses documentos precisam ser organizados por prioridade - ele explicou, apontando para as pilhas. - Informações sensíveis, Isabella. Trate-as com cuidado.
Ela assentiu e começou a trabalhar, sentindo o peso do olhar de Vittorio sobre ela. Ele a observava em silêncio, avaliando cada movimento, cada decisão. Isabella tentou ignorar a presença dele, concentrando-se na tarefa. Ela era meticulosa por natureza, e logo os documentos estavam organizados em pilhas ordenadas, cada uma etiquetada com uma nota explicativa.
- Você é mais competente do que eu esperava - ele comentou, enquanto ela terminava.
- Eu não quero decepcionar - ela respondeu, mantendo o olhar firme.
Vittorio sorriu, um sorriso que era ao mesmo tempo sedutor e enigmático.
- Bom saber. Porque, como eu já disse, eu não tolero decepções.
O Passado que Assombra
Enquanto Isabella trabalhava, Vittorio observava-a de longe, seus pensamentos mergulhando em memórias que ele preferia manter enterradas. Ele se lembrava de Giovanni Rossi, o avô de Isabella, um homem leal e honrado que havia servido à família Moretti com devoção. Vittorio era apenas um garoto na época, mas se lembrava das histórias que o pai contava sobre Giovanni. Ele havia sido um dos poucos homens em quem Don Carlo confiava completamente.
Agora, vendo Isabella, Vittorio sentia uma conexão com o passado que ele não conseguia ignorar. Havia algo nela que o intrigava, algo que ia além da beleza e da determinação. Era como se ela carregasse um pedaço da história dele, uma história que ele havia tentado esquecer.
O Fascínio de Vittorio
À medida que o dia avançava, Vittorio percebeu que Isabella era diferente de qualquer outra mulher que ele havia conhecido. Ela não se intimidava facilmente, e havia uma força nela que ele não conseguia explicar. Quando ela olhava para ele, ele sentia algo que há muito tempo não experimentava: uma faísca de curiosidade, talvez até de desejo.
Mas Vittorio sabia que emoções eram perigosas em seu mundo. Ele havia aprendido isso da maneira mais difícil, e não podia se dar ao luxo de cometer o mesmo erro duas vezes. Ainda assim, enquanto observava Isabella trabalhar, ele não conseguia evitar a pergunta que ecoava em sua mente: o que ela estava disposta a fazer para proteger aqueles que amava? E, mais importante, o que ele estava disposto a arriscar por ela?