Capítulo 3 Interrogatório

As luzes piscavam, projetando sombras trêmulas nas paredes de concreto. No centro da sala, dois homens amarrados a cadeiras mantinham o olhar baixo, seus rostos marcados pelo medo e pela incerteza. Antonio parou diante deles, seus olhos escuros carregados de uma fúria contida.

Martín estava ao seu lado, de braços cruzados, observando em silêncio.

- Vou tornar isso muito simples - disse Antonio com a voz grave. - Vocês me contam tudo o que sabem ou eu descubro do meu jeito.

Os dois sujeitos trocaram olhares nervosos, mas nenhum disse nada. Um deles, de cabelo curto e uma cicatriz na bochecha, tentou se mostrar desafiador.

- Não sabemos de nada, cara. Só estávamos fazendo nosso trabalho.

Antonio se inclinou, colocando uma mão no encosto da cadeira do homem, aproximando-se o suficiente para que ele sentisse sua respiração.

- O trabalho de vocês? - repetiu friamente. - Vigiar um armazém abandonado sem saber o que tinha dentro? Isso não pareceu estranho?

O homem engoliu seco, mas não respondeu.

Antonio se endireitou e caminhou até uma mesa próxima. Sobre ela, havia uma bandeja com alguns instrumentos... ferramentas que podiam ser usadas para muitas coisas. Pegou uma pequena faca e começou a girá-la entre os dedos, sem pressa.

O outro homem, mais magro e de pele pálida, engoliu em seco, visivelmente nervoso.

- Olha, chefe... - sua voz tremeu um pouco. - Não sabemos muito. Só nos mandaram vigiar o lugar e garantir que ninguém entrasse.

Antonio parou de girar a faca e a pousou suavemente na mesa.

- Continuem.

O homem respirou fundo e prosseguiu:

- Nos contrataram há seis meses. Pagavam em dinheiro, sem perguntas. Todo dia, ao meio-dia, alguém chegava, deixava um pacote e ia embora.

Antonio sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha.

- Quem era? - perguntou entre os dentes cerrados.

- Não sabemos... nunca vimos de perto. Só víamos um carro preto estacionar, alguém descia, deixava o pacote dentro e ia embora.

Antonio semicerrou os olhos.

- E vocês nunca ouviram nada dentro do armazém?

O sujeito balançou a cabeça rapidamente.

- Nada. Nunca. Achávamos que estava vazio...

Antonio socou a mesa, fazendo os dois homens saltarem em suas cadeiras.

- Como diabos não ouviram nada?! Ela estava lá! Presa como um animal!

O silêncio caiu sobre a sala. Os homens tremiam, e Martín permanecia impassível, esperando a reação de Antonio.

O da cicatriz molhou os lábios antes de falar:

- Senhor, eu juro... tínhamos ordens para não entrar nas instalações. Pagavam bem para que não fizéssemos perguntas.

Antonio apertou a mandíbula com tanta força que sentiu uma dor aguda na têmpora.

- Quem contratou vocês? - exigiu.

Ambos os homens trocaram um olhar temeroso. O magro abaixou a cabeça, enquanto o outro, com a voz trêmula, soltou a bomba:

- Não sabemos o nome... mas quem nos contratou disse que ficaríamos ali por apenas um ano... e que, se tentássemos descobrir mais, acabaríamos como "a garota".

O estômago de Antonio se revirou.

- Como ela?

O homem engoliu em seco, tremendo.

- Sim... morta de medo, presa naquele lugar.

O sangue de Antonio ferveu. Seus dedos se crisparam e, sem pensar, ele arremessou a cadeira do homem da cicatriz contra a parede com força brutal.

O sujeito gritou ao cair no chão, enquanto o outro arfava de terror.

Antonio respirava pesadamente, os punhos cerrados, a visão turva de raiva.

Ele não podia desistir.

- Consiga qualquer vídeo, qualquer rastro desse carro. Mesmo que seja informação manipulada, quero ver com meus próprios olhos.

Martín assentiu e, sem perder tempo, fez várias ligações. Antonio sabia que o inimigo era astuto e havia tido anos para encobrir seus rastros, mas ainda assim, ele não deixaria nenhuma pista sem investigar.

Minutos depois, na enorme tela de seu escritório, começaram a ser projetadas imagens obtidas de câmeras de trânsito e de segurança privada.

Antonio observava a tela com uma mistura de tensão e desespero. Qualquer pista, por menor que fosse, poderia ser a chave para encontrar sua filha.

- Revise as câmeras das últimas semanas. Qualquer vídeo em que esse carro apareça, quero ver.

Martín assentiu e começou a filtrar as gravações obtidas das câmeras de trânsito e segurança privada. Antonio inclinou-se para frente, os olhos fixos na tela, sentindo que cada segundo era uma oportunidade perdida se não agissem rápido.

Várias imagens começaram a surgir. O mesmo carro preto. Lugares diferentes. Horários diferentes.

- Aqui está, senhor - disse Martín. - Ele apareceu perto de uma escola particular em Greentown há duas semanas... e depois em um shopping quatro dias depois.

Antonio observou cada cena atentamente. O veículo se movia pela cidade sem um padrão claro, mas o que mais o frustrava era que nada relevante aparecia nas imagens.

Nunca se via quem entrava ou saía do carro. As placas estavam alteradas em cada gravação. A única constante era que o veículo desaparecia em zonas sem câmeras de vigilância, como se soubessem exatamente onde estavam os pontos cegos.

- E os registros do carro? - perguntou Antonio, com o cenho franzido.

- Falsos - respondeu Martín, apertando os lábios. - Mudou de dono seis vezes nos últimos meses, sempre com documentos de identidade que não existem.

Antonio bateu o punho na mesa, frustrado. Alguém havia planejado isso com precisão demais.

- Quem quer que esteja por trás disso, sabe o que está fazendo - murmurou.

- O que fazemos, senhor?

Antonio fechou os olhos por um instante, contendo a ira que queimava seu peito. Então, sua expressão se endureceu.

- Se o carro é uma distração, devemos focar nas pessoas. Encontre alguém que tenha trabalhado nos locais onde esse carro apareceu. Um segurança, um funcionário da limpeza, qualquer um que tenha visto algo.

Martín assentiu e saiu do escritório sem perder tempo.

Antonio permaneceu olhando para a tela, sentindo uma pressão insuportável no peito.

Sua filha estava em algum lugar.

E ele ia encontrá-la.

Não importava quantas portas tivesse que derrubar para isso.

            
            

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