Capítulo 4 Tranquilidade

Antonio caminhou com passos firmes pelo corredor que levava ao quarto de Sofia. Desde que a havia encontrado, sua mente não tinha tido descanso. Passara seis anos sem saber nada dela e, agora que a tinha de volta, seu estado o preocupava mais do que queria admitir.

Parou diante da porta e bateu suavemente.

- Sofia... posso entrar?

Não houve resposta.

Bateu de novo, desta vez um pouco mais forte.

- Sofia, preciso falar com você.

Silêncio.

Antonio sentiu um aperto no peito. Estaria dormindo? Teria desmaiado?

Girou a maçaneta, mas a porta não se moveu. Estava trancada por dentro.

Isso não era um bom sinal.

Apoiou a testa contra a madeira, exalando com frustração. Não queria assustá-la. Sofia já estava muito abalada desde que a trouxeram, e depois do que havia vivido, arrombar a porta só pioraria seu estado.

Mas também não podia ignorar a possibilidade de que algo estivesse errado.

- Sofia... por favor. Apenas me diga que está bem.

Nada.

O silêncio tornou-se insuportável.

Antonio olhou para a fechadura, considerando suas opções. Se arrombasse a porta e a encontrasse em crise, poderia assustá-la ainda mais.

Mas se não entrasse... e algo ruim tivesse acontecido... jamais se perdoaria.

Respirou fundo e bateu na porta com mais insistência.

- Vou entrar - advertiu com voz firme. - Não quero assustá-la, mas preciso saber se está bem.

Esperou alguns segundos, mas não houve reação. Nem um único ruído.

E isso o inquietou ainda mais.

Decidiu não esperar mais. Recuou alguns passos, tomou impulso e golpeou a porta com força.

A madeira rangeu, mas não cedeu completamente.

Golpeou de novo.

E mais uma vez.

Até que a fechadura se partiu e a porta se abriu de súbito.

Antonio entrou imediatamente, seu olhar percorrendo o quarto com o coração acelerado.

Sofia estava em um canto, abraçando os joelhos, tremendo.

Seus olhos estavam perdidos, como se estivesse presa em alguma lembrança distante... e aterrorizante.

- Sofia...

Ela não reagiu.

Antonio sentiu um nó na garganta. Aquela não era a mulher que ele lembrava.

Aproximou-se lentamente, cuidando de cada movimento.

- Sofia, sou eu... Antonio. Você está segura.

Finalmente, ela ergueu o olhar. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.

- Não... eu não entendo - murmurou, a voz quebrada. - Por que ainda sinto que isso não é real?

Antonio sentiu algo dentro dele se despedaçar.

Mas não tinha tempo para se deixar abalar.

Ajoelhou-se diante dela e, sem tocá-la, falou com a maior suavidade que pôde.

- Eu prometo que é real. E vou ajudá-la a lembrar de tudo.

Ela o olhou, mas seu rosto carregava algo que Antonio não esperava ver.

Medo.

E aquele olhar doeu mais do que qualquer golpe.

Antonio permaneceu ajoelhado diante de Sofia, observando-a com o coração batendo forte. Aquele medo em seus olhos o destruía.

- Sofia... sou eu - repetiu em voz baixa. - Não quero machucá-la.

Ela não respondia. Sua respiração era irregular, seus ombros tremiam. Estava apavorada.

Antonio fechou os olhos por um instante, tentando conter a fúria que o consumia. O que haviam feito com ela?

Finalmente, com movimentos lentos, Sofia cobriu o rosto com as mãos. Sua voz saiu abafada, quase um sussurro.

- Não... eu não posso...

- Não pode o quê? - Antonio inclinou-se um pouco mais, sem tocá-la, sem pressioná-la.

Sofia demorou a responder. Sua voz era frágil.

- Não posso confiar em você... Eu não sei quem você é...

Antonio sentiu um golpe seco no peito. Era como se uma lâmina tivesse perfurado sua alma.

Ela não se lembrava.

Não lembrava da história deles. Não lembrava do amor que compartilharam. Não lembrava que haviam sido felizes juntos.

O silêncio entre os dois era sufocante.

Antonio apertou a mandíbula e desviou o olhar por um segundo, tentando encontrar as palavras certas. Mas, antes que pudesse dizer algo, Martín apareceu na porta, com uma expressão tensa.

- Senhor... temos algo.

Antonio se pôs de pé no mesmo instante. Ainda precisava encontrar sua filha.

Voltou a olhar para Sofia, mas ela se encolheu ainda mais, como se sua presença a sufocasse.

Aquele não era o momento para pressioná-la.

Suspirou e falou com a maior calma que conseguiu.

- Vou encontrar as respostas, Sofia. E vou encontrar você, mesmo que agora não saiba quem eu sou.

Sem esperar resposta, saiu do quarto.

Ao fechar a porta atrás de si, sua expressão mudou completamente.

- Diga-me que temos algo útil - exigiu a Martín.

- Localizamos um homem que esteve em contato com o carro preto mais de uma vez. E ele está nesta cidade.

Os olhos de Antonio brilharam com intensidade.

- Traga-o. Agora.

Se aquele homem sabia algo sobre o paradeiro de sua filha, faria o que fosse necessário para arrancar a verdade dele.

E desta vez, não teria piedade.

Antonio não podia partir sem tentar mais uma vez.

Antes de enfrentar outro interrogatório, antes de mergulhar na brutalidade da caçada em que sua vida havia se transformado, precisava ver Sofia novamente.

Voltou ao quarto. Desta vez, não bateu na porta nem anunciou sua presença. Entrou com cautela, sem fazer barulho.

Sofia ainda estava no mesmo canto, com o olhar perdido e a respiração acelerada. Parecia um pássaro frágil, prestes a se partir com o menor toque.

Antonio sentou-se no chão, não muito perto, mas também não muito longe. Não olhou diretamente para ela, não queria sufocá-la.

Em vez disso, fez algo que nunca havia tentado antes em toda a sua vida.

Tarareou.

Era um som baixo, profundo... um eco de algo esquecido.

A melodia era simples, mas especial para eles.

Uma canção que costumava cantar para ela quando eram namorados, nos dias em que seu amor era um refúgio e não uma tempestade. Quando ainda não sabiam que o destino lhes tiraria tudo.

A princípio, Sofia não reagiu.

Mas, pouco a pouco, sua respiração se acalmou.

Seus ombros pararam de tremer.

E então, o mais inesperado aconteceu.

Uma lágrima deslizou por sua bochecha.

- Essa música... - sussurrou Sofia, a voz trêmula.

Antonio prendeu a respiração.

Ela não o olhou, mas franziu a testa, como se estivesse tentando se lembrar de algo que sua mente se recusava a devolver.

Era um avanço.

Pequeno. Frágil. Mas real.

Antonio não disse nada. Apenas continuou tarareando.

Se houvesse qualquer chance de trazê-la de volta, faria isso no tempo dela.

Mesmo que precisasse esperar a vida inteira.

            
            

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