Capítulo 2 Isabella

Isabella Narrando

Meu pai me olhou sério, como se pudesse sentir minha curiosidade queimando dentro de mim. Ele me mandou sair da sala antes que eu pudesse ouvir qualquer coisa.

- Vai pro seu quarto, Isabella. Isso não é conversa pra você.

Minha vontade era de protestar, mas conhecia aquele tom. Quando ele falava daquele jeito, não adiantava insistir. Cruzei os braços, irritada, mas fiz o que ele mandou. Ainda assim, parei perto da porta, tentando escutar alguma coisa. O homem que estava com ele se apresentou de um jeito estranho. "Diabo", ele disse. Um arrepio subiu pela minha espinha. Quem se apresenta assim? E por que esse homem queria falar com o meu pai? Eu precisava descobrir.

Encostei na porta, prendendo a respiração para ouvir melhor. As vozes estavam abafadas, mas ainda assim consegui captar algumas palavras soltas. O homem tinha uma voz rouca, carregada de algo que eu não sabia dizer se era cansaço ou ameaça.

- Tu ta ligado por que eu tô aqui. A gente tem um acerto pendente.

Acerto? Meu pai não respondeu de imediato. Senti um frio na barriga. Ele sempre foi um homem firme, seguro de si, mas agora havia um silêncio estranho no ar. Quando finalmente falou, sua voz estava mais baixa do que o normal.

- Isso ficou no passado.

- O passado sempre volta, meu amigo - o tal "Diabo" respondeu, com um tom quase divertido.

Meu coração batia tão forte que temi que eles escutassem. O que diabos meu pai tinha a ver com esse homem? Me afastei um pouco da porta quando ouvi passos pesados. Se me pegassem ali, seria pior. Mas minha curiosidade estava acesa, queimando dentro de mim. Eu precisava descobrir o que estava acontecendo. E, mais do que isso, eu precisava saber quem era esse homem que se autodenominava "Diabo"- e o que ele queria com meu pai.

Me afastei um pouco da porta, mas não conseguia me afastar completamente do que estava acontecendo. Meus pés pareciam grudados no chão, a curiosidade me puxava de volta. Eu sabia que devia ir para o meu quarto, mas não conseguia. Algo me dizia que aquilo era importante, algo que eu não poderia ignorar.

De repente, ouvi os passos do homem se afastando. Ele estava indo embora, mas a tensão ainda pairava no ar. Meu pai ficou em silêncio por um bom tempo, o tipo de silêncio que me deixava nervosa, como se ele estivesse processando algo que eu não entendia.

Então, quase em um suspiro, ele falou, mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa:

- Isso vai acabar mal.

Minha mente estava a mil. "Isso vai acabar mal?" O que ele queria dizer com aquilo? Quem era esse homem, e o que ele queria com meu pai? Eu não sabia, mas sentia que era algo grande, algo que ia mudar tudo. Quando o homem saiu da casa, eu espiei pela janela, vendo-o desaparecer na rua. Meu pai entrou no escritório, e eu fiquei ali, parada, imaginando o que mais eu não sabia. Mas eu sabia de uma coisa: isso não tinha acabado. Eu não ia descansar até descobrir a verdade.

Mais tarde, naquele mesmo dia, a casa estava mais silenciosa do que o normal. Eu sabia que meu pai e minha mãe tinham algo importante para resolver, mas não imaginava que fosse sobre algo tão... pesado.

Eu estava no meu quarto, tentando me distrair, quando ouvi vozes baixas vindo do corredor. Não era o suficiente para entender direito, mas o tom deles me chamou a atenção. Fui até a porta e, de forma discreta, me encostei nela, ouvindo melhor.

- Não sei quanto mais conseguimos adiar isso, Maria. Cada vez mais a conta fica no zero... Não podemos mais fingir que está tudo bem.

Era meu pai, sua voz sempre tão firme, agora carregada de um tipo de preocupação que eu nunca tinha ouvido antes. Minha mãe, normalmente calma e controlada, parecia estar em um estado de tensão que eu nunca tinha visto nela.

- Eu sei, Antonio, mas o que você quer que a gente faça? Não podemos simplesmente ir até ele e pedir mais... O que ele vai querer dessa vez?

Eu prendi a respiração, sentindo um nó se formar no meu estômago. O que eles estavam falando? Quem era esse "ele"? E o que era esse "mais" que meu pai estava se referindo?

- Não sei. Mas se a gente não pagar, vai ser muito pior - respondeu meu pai, e eu ouvi o som de uma cadeira rangendo, como se ele estivesse se levantando.

O silêncio que se seguiu foi pesado, e foi minha mãe quem quebrou.

- Então vamos pagar, mas como? Cada vez mais estamos apertados. Já não sei mais o que fazer.

Aquelas palavras ficaram comigo. O que estava acontecendo? Quem era esse "ele", e o que meu pai e minha mãe estavam envolvidos? Era como se o mundo deles, que sempre me pareceu tão seguro, estivesse se desintegrando aos poucos. Eu precisava saber mais, muito mais. Fiquei ali, encostada na porta, o coração acelerado. O que eu ouvi me deixou com uma sensação estranha, como se um peso tivesse se instalado dentro de mim. Cada vez mais, as palavras dos meus pais ecoavam na minha mente, se entrelaçando com tudo o que eu já suspeitava, mas que ainda não conseguia entender completamente.

Quem era esse "ele"? O que significava "mais"? E por que a conta bancária estava sempre no zero? Eu não conseguia mais ignorar a urgência em suas vozes. Algo estava acontecendo, algo grande e perigoso, e eu estava no centro disso sem saber. Mas uma coisa eu sabia: eu precisava descobrir a verdade. No dia seguinte, tentei agir como se nada tivesse acontecido, mas dentro de mim, a dúvida queimava, me consumia. Vi meu pai saindo cedo, como sempre, e minha mãe parecia estar mais distante do que o normal. O clima dentro de casa estava tenso, como se uma tempestade estivesse prestes a estourar, e ninguém estivesse disposto a falar sobre ela.

Depois de um tempo, não aguentei mais. Fui até o escritório de meu pai, onde ele guardava algumas coisas importantes, incluindo documentos. Eu sabia que era arriscado, mas não consegui evitar. O peso da dúvida estava me esmagando, e eu precisava de respostas. Quando entrei no escritório, me senti culpada, como se estivesse invadindo algo que não era meu. Mas o que eu faria? Eu não podia viver com essa incerteza. Eu vasculhei rapidamente as gavetas, sem saber exatamente o que estava procurando. Mas algo em um pedaço de papel, parcialmente escondido, chamou minha atenção. Era uma conta, uma dívida enorme, e um nome estava ali: Diabo. Meu estômago virou. Aquele nome... o mesmo que o homem tinha dito mais cedo. Como ele se conectava com essa dívida? E o que mais meu pai estava escondendo de mim?

            
            

COPYRIGHT(©) 2022