Capítulo 5 Rompendo Barreiras

Os dias na ilha se arrastavam com uma lentidão desconcertante, mas, de alguma forma, cada um deles parecia aproximar Sofia e Victor. O calor do dia era insuportável, e as noites eram estranhamente frias, como se a ilha estivesse sempre em conflito com o que realmente era.

Durante o dia, a vegetação espessa os cercava, e, à noite, o silêncio era profundo, quase opressor. Não havia civilização, não havia sons que os conectassem ao mundo que eles conheciam. Estavam ali, no meio de um nada que, paradoxalmente, parecia tudo.

Sofia estava sentada na pequena clareira observando o fogo crepitando lentamente. Victor estava à sua frente, organizando alguns materiais que havia conseguido coletar – bambus e pedras que usaria para aprimorar a armadilha para peixe. Ele não era um homem de palavras desnecessárias, mas Sofia sabia que ele sentia a tensão crescente entre eles, a maneira como as sombras da solidão começava a se estender ainda mais.

Toda aquela calma parecia algo de outro mundo, algo que ela nunca havia experimentado antes. Sofia, por outro lado, lutava contra a própria mente. Os desafios da ilha a faziam sentir-se como se estivesse se desfazendo aos poucos.

A pressão de estar ali, sem saber o que o futuro traria, sem saber se realmente conseguiriam sair dali, pesava sobre seus ombros como uma rocha imensa. Ela não conseguia se livrar da ideia de que perder o controle significava falhar. E falhar era algo que ela nunca permitirá.

"Você está bem?" A pergunta de Victor cortou o silêncio que ela tentava afastar.

Ele havia se aproximado silenciosamente, sem que ela percebesse, mas não parecia incomodado com a distância que ela criava.

Ele havia aprendido a respeitar os momentos em que ela se fechava.

Sofia levantou os olhos, buscando os dele. "Estou cansada," ela respondeu, sua voz mais suave do que ela gostaria.

"Mas não é só isso. Eu... sinto que estou perdendo algo. Não consigo mais controlar as coisas."

Victor olhou para ela com uma intensidade que Sofia não sabia como interpretar. "Eu sei o que você quer dizer. A sensação de não estar no controle, de não saber o que fazer.

"Você tinha uma boa vida, e der repente se encontra nessa situação, aqui com alguém que não conhecia. Não é fácil."

Mas é justamente isso que nos mantém vivos. A capacidade de nos adaptarmos, de deixar o medo nos guiar, mas não nos dominar."

Ele se sentou ao lado dela, mais próximo do que Sofia esperava. Sofia ficou em silêncio, tentando processar suas palavras. "Você sempre soube lidar com isso?" Ela perguntou, um pouco desconcertada, porque suas palavras traziam uma verdade crua que ela não estava pronta para ouvir.

Victor deu um suspiro, parecendo ponderar sua resposta. "Não. Na verdade, não. O medo sempre esteve lá. Mas o que importa não é o medo. É o que você escolhe fazer com ele."

Sofia fechou os olhos por um momento, tentando entender o que ele queria dizer. Sua vida sempre fora sobre respostas rápidas, sobre decisões claras, tomadas sem hesitação. Mas aqui, não havia manual de instruções. Não havia atalhos. E, acima de tudo, não havia nada para esconder atrás da fachada de CEO imbatível.

"É difícil..." ela disse, olhando para o fogo que se formava diante deles. "Eu fui construída para ser imbatível. Mas, aqui... tudo o que eu tenho é minha fraqueza."

Victor não respondeu imediatamente. Ele sabia que suas palavras precisavam ser processadas, absorvidas. E, enquanto o silêncio os envolvia, Sofia percebeu que não sentia a necessidade de esconder sua dor. Não com ele. Ele estava ali, sentado ao seu lado, e, embora não dissesse nada, seu simples fato de estar presente trazia uma paz inesperada.

"Eu não sou imbatível, Sofia," Victor disse por fim, quebrando o silêncio. "Eu também tenho minhas fraquezas.

A diferença é que, aqui, ninguém está tentando ser mais do que é. Você é quem você é. Eu sou quem eu sou. E só podemos seguir em frente assim: sendo reais um com o outro."

Ela havia sempre se escondido atrás de sua imagem de força, mas, ali, naquela ilha, essa força parecia pouco diante do abismo emocional que estava começando a encarar.

"Victor, e se não conseguirmos sair daqui?" Sua voz estava carregada de uma angústia que ela nunca permitirá sair antes. "E se todo o esforço for em vão?"

Augusto tentou me matar, e não morri por que você me salvou. Não vejo saída para conseguirmos, a não ser esquipes de buscas, mas a essa altura, Augusto já não faz mais questão.

Ele olhou para ela, os olhos firmes, mas não duros. "Não vamos saber até tentarmos. E mesmo que não consigamos sair, temos que viver, sobreviver. A única maneira de encontrar uma saída é seguir em frente."

A noite caiu sobre a ilha, e o céu se estendeu em um manto de estrelas. O fogo crepitava à sua frente, e, apesar de todas as incertezas que cercavam o futuro, Sofia sentiu pela primeira vez que talvez ela pudesse aceitar a ideia de ser vulnerável. Ao menos por um momento. E, ao fazer isso, sentiu algo dentro de si se aquecer.

Victor ficou em silêncio, os olhos no fogo, como se estivesse refletindo sobre as mesmas coisas que ela. O som das ondas quebrando suavemente na costa era o único som que os envolvia, mas naquele silêncio, havia uma sensação de compreensão mútua, de algo profundo sendo forjado entre eles. Não sabiam o que o amanhã traria, mas ali, naquela noite, estavam apenas vivendo. E, de alguma forma, isso era o suficiente.

                         

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