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O sol nascia timidamente, como se quisesse hesitar antes de iluminar o caos daquela ilha deserta. O ar puro penetrava a pele de Sofia, mas sua mente ainda estava atolada na confusão dos acontecimentos da noite anterior. O som suave das ondas quebrando na areia, o gosto amargo de sal em seus lábios e o corpo dorido como se tivesse sido estraçalhado pelas forças do mar.
Sofia se mexeu lentamente, os músculos protestando a cada movimento, e seu olhar se fixou no céu. Tinha a sensação de que a imensidão ao seu redor refletia o vazio que ela carregava dentro de si. Mas, por mais que o mar fosse vasto, ali não havia controle. Ali, ela era apenas uma mulher perdida, sem rumo.
Victor estava de pé, com o olhar fixo no horizonte, imerso em seus próprios pensamentos. Sua postura era firme, como a de um homem que sabia exatamente onde estava e o que deveria fazer. Sofia não sabia se se sentia frustrada ou intrigada com isso. Ele parecia ser tudo o que ela não era naquele momento: focado, tranquilo, imperturbável.
Ela forçou-se a sentar, e a dor se espalhou pelo corpo. A visão ainda estava turva, mas ela conseguiu distinguir os contornos de Victor, e a maneira como ele olhava para o mar a incomodou. Não era apenas o olhar atento de alguém que tinha sobrevivido a um desastre; era o olhar de quem estava sempre em controle, quem sabia como se manter acima da situação.
Victor virou-se para ela, o sol refletindo em seus olhos. "Bom dia!" disse ele, mas o tom de urgência em sua voz fez Sofia questionar suas intenções.
"Como você está?" Victor perguntou, tentando parecer casual, embora a preocupação fosse evidente.
"Precisamos procurar água e comida," ele continuou. "Não sabemos quanto tempo vamos ficar aqui."
Você consegue andar? Perguntou Victor.
Sofia, sim!
Ela se forçou a se levantar, seu corpo gritando contra o esforço, mas não permitiu que a dor a dominasse. "Você acha que vai ser fácil sair daqui? Encontrar água e comida não vai ser o suficiente para sobreviver a isso."
Ele virou-se para ela, seus olhos claros e insondáveis. "Não é sobre o que é fácil ou difícil. É sobre o que precisamos fazer para ficar vivos." Sua voz não era fria, mas também não carregava empatia. Era uma voz militar, direta e pragmática. "E se você achar que sabe o que é melhor, pode liderar. Eu vou te seguir."
Sofia olhou para ele, desafiando-o com seu olhar imperturbável. Por dentro, ela estava se perguntando como alguém como ele, tão simples, poderia parecer tão seguro, tão capaz de ser... vivo quando ela sentia que sua própria vida parecia ter desmoronado. Ela tinha o poder do mundo corporativo, mas aqui, naquele momento, tudo isso não significava nada. Na ilha, ela era vulnerável. Mas ela não admitiria isso tão facilmente.
Eles começaram a caminhar pela praia, o som constante das ondas agindo como um pano de fundo para a crescente tensão entre eles. Sofia sentiu o peso de sua própria respiração, cada passo uma luta contra a incerteza que se apoderava de sua mente.
Enquanto avançavam pela densa vegetação, Victor parou e virou-se para ela. Seus olhos, agora ainda mais focados, analisavam cada detalhe do ambiente e de Sofia.
"Temos que ser rápidos e cautelosos," ele disse com uma calma que contrastava com a urgência da situação. "A vegetação aqui pode esconder fontes de água e comida, mas também pode abrigar perigos. Precisamos ficar atentos."
Sofia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. A forma como ele falava, com autoridade e confiança, era ao mesmo tempo reconfortante e perturbadora. Ela ainda não conseguia entender de onde vinha aquela segurança toda.
"Você já esteve em situações assim antes?" ela perguntou, tentando quebrar o silêncio e sua própria desconfiança.
Victor hesitou por um momento, como se estivesse avaliando quanto deveria revelar. "Digamos que eu tenho experiência em sobreviver," respondeu ele, de forma enigmática. "Mas não se preocupe, vamos sair dessa."
Sofia queria acreditar nele, queria se agarrar àquela esperança que ele parecia oferecer. Mas a ilha ainda era um mistério, e a verdadeira natureza de Victor também.
Sofia olhou para o céu, tentando se concentrar em algo que a fizesse se sentir no controle, mas a sensação de estar perdida era esmagadora. Ela sentia o peso da responsabilidade de sua própria sobrevivência pressionando sobre seus ombros, e quanto mais olhava para a ilha, mais percebia que tudo o que ela conhecia não importava mais.
Quando chegaram à parte mais densa da vegetação, Victor se virou para ela.
"Você tem alguma experiência em caçar, Sofia?" Ele perguntou, a pergunta sendo mais um teste do que uma real curiosidade.
Ela franziu a testa, desafiadora. "Eu sou CEO de uma das maiores empresas do país. Não tenho tempo para essas coisas."
Ele sorriu, mas não de maneira zombadora. Era uma expressão de alguém que sabia o que ela estava pensando, mas não se importava. "Então você vai aprender."
Ela se sentiu desconfortável com aquela afirmação. Mas o que mais poderia fazer? Ela não poderia sair e caçar sozinha. E, por mais que resistisse, o conhecimento de Victor sobre a ilha e suas habilidades militares era a única coisa que os colocava em movimento.
Logo, eles estavam em uma parte mais afastada da praia, onde o terreno se tornava mais acidentado, aquele olhar distante em seus olhos parecia sempre alerto, sempre calculando os próximos passos.
Ele parou de repente, e Sofia quase esbarrou em seu corpo. "Ouça," disse ele em voz baixa, e Sofia prestou atenção.
Está ouvindo, Sofia? Ele perguntou, é o som da água, parece ser uma cachoeira.
Foram poucos minutos até avistarem a cachoeira, o cenário era deslumbrante, um dos mais belos da natureza.
Fascinados pela beleza natural, correram em direção ao riacho cristalino, sentindo a água fresca respingar em seus rostos. Sem hesitar, Victor mergulhou na piscina natural formada pela queda d'água, se deliciando com a sensação revitalizante.
Victor olhou para Sofia com um sorriso encorajador.
"Vamos, a água está incrível!", disse ele, estendendo a mão para ela. Sofia hesitou, sentindo o coração acelerar, a ideia de entrar ali na frente de Victor a deixava nervosa.
Victor se aproximou. "Você consegue, só mais um passo." As palavras de Victor a reconfortaram. Sofia entrou completamente na água, sentindo a correnteza envolvê-la. A princípio, a sensação era desconfortável, aos pouco seu corpo começou a se acostumar com a temperatura.
Victor a observava atentamente, "viu? Não foi tão ruim assim". Sofia sorriu timidamente, sentindo-se mais confiante na presença dele. "Você estava certo", admitiu, rindo nervosamente. "A água é realmente revigorante."
Sofia decidiu sair da água, ao pisar em uma pedra escorregadia, perdeu o equilíbrio. Em um instante, sentiu o chão sumir debaixo de seus pés.
Victor, sempre atento, rapidamente estendeu os braços, segurando Sofia antes que ela caísse. Seus olhos se encontraram, e por um momento, tudo ao redor pareceu desaparecer.
Sofia olhou nos olhos de Victor, ainda sentindo o impacto da surpresa e do susto. Victor, por sua vez, mantinha um olhar suave, cheio de cuidado e preocupação.
"Você está bem?" ele perguntou, sua voz cheia de ternura.
Sofia assentiu, ainda um pouco ofegante. "Sim... obrigada," ela murmurou, sentindo seu coração acelerar, não apenas pelo susto, mas também pela proximidade de Victor. Ela percebeu o quanto estava se apoiando nele, tanto física quanto emocionalmente.
A intensidade daquele primeiro olhar compartilhado parecia dizer mais do que qualquer palavra poderia. Lentamente, Victor ajudou Sofia a se equilibrar novamente, seus braços fortes ainda a segurando firmemente.
"Obrigada, Victor", disse Sofia. Aquele momento parecia ter criado uma conexão especial entre eles
E assim, enquanto o sol começava a se pôr, eles continuaram a explorar a ilha juntos.
Ali mesmo próximo a cachoeira e não muito distante da praia, encontraram uma caverna, era o que precisavam para ficar. Victor com suas habilidades, buscou lenhas, e verificou se a caverna estava segura.
Do outro lado, Sofia sentada sobre uma pedra, olhando para o Horizonte, pela primeira vez em muitos anos, seus olhos se encheram de lagrimas, seu coração estava apertado e angustiado. Lembrava da cidade, do movimento constante, dos desafios diários de gerir seus grandes negócios.
Victor, ao voltar com lenhas, percebeu a expressão melancólica de Sofia.
"Está tudo bem, Sofia?", perguntou ele, com preocupação na voz.
Sofia enxugou as lágrimas e sorriu levemente. "Estou bem, Victor.
A noite chegou, e uma vasta escuridão tomou conta do lugar. Victor conseguiu acender uma fogueira, usando suas habilidades de militar. Iluminando a caverna e criando um ambiente acolhedor. Sofia, sentada ao lado dele, observava com curiosidade.
"Victor, quanto tempo você passou no serviço militar?", perguntou ela, intrigada.
Victor olhou para o fogo, pensativo, antes de responder. "Passei seis anos nas Forças Especiais. Foi uma experiência intensa, cheia de desafios e... lembranças difíceis."
Sofia sentiu a seriedade na voz de Victor e percebeu que havia muita história por trás de suas palavras. "Deve ter sido muito difícil", comentou, com empatia. "Como você lida com isso agora?"
Victor suspirou. "Há dias bons e dias ruins.
"Eu entendo um pouco disso", disse ela. "Minha vida na cidade, como CEO, é cheia de pressão e responsabilidades.
Eles passaram o resto da noite conversando sobre suas vidas, sonhos e desafios, compartilhando histórias pessoais. Sofia percebeu que Victor viveu desafios que o moldaram profundamente. Ele, por sua vez, ouviu com atenção os relatos de Sofia sobre sua trajetória como CEO, as pressões e responsabilidades que a acompanhavam.