- Sim... Ela está lá - respondeu ela, desviando o olhar, como se quisesse fugir da minha reação.
Eu me aproximei, controlando meu tom. Não queria assustá-la, mas também não conseguia conter a inquietação. Peguei em seu braço com cuidado e a guiei até a cama.
- Anjo, senta aqui comigo. Preciso que você me explique isso direito. - Falei firme, mas sem dureza, tentando entender.
Ela sentou ao meu lado, suspirando profundamente, os olhos baixos, como se carregassem um peso maior do que o mundo.
- Eu nem sabia que ela ainda estava viva... - Sua voz tremeu, quase um sussurro. - Ela me abandonou, Mattia. Deixou tudo para trás. Só agora apareceu pra me dizer o porquê.
Minha mandíbula se apertou. Era claro que essa história escondia mais do que ela estava disposta a contar. Levantei-me num salto, caminhando de um lado para o outro enquanto esfregava a mão no rosto.
- Não acha isso estranho? - perguntei, girando para encará-la.
- Estranho? - Ela ergueu a sobrancelha, confusa. - O que quer dizer?
- Como ela sabia onde você estava? Como sabia que você estaria comigo? Isso não faz sentido! - Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia.
Ela ficou em silêncio por um momento, mordendo o lábio inferior. Então levantou-se, ainda segurando o lençol que cobria seu corpo.
- Eu não sei, Mattia... Mas ela está aqui. E... - ela hesitou, desviando o olhar novamente. - Ela até me defendeu...
Minha paciência se esgotou. Dei um passo à frente, os punhos cerrados.
- Defendeu de quem? - grunhi, minha voz agora mais grave, cada palavra carregada de ameaça.
- Foi a Guilia! - Ela explodiu, de uma vez.
Meu peito se apertou de raiva.
- A Guilia? - perguntei, tentando controlar o furor que subia como um incêndio. - O que ela fez?
Ela demorou a responder, e cada segundo de silêncio aumentava minha fúria.
- Ela... Ela anda me provocando, me perseguindo quando você não está por perto. Disse coisas... Sobre você... Que você vai a certos lugares todas as noites.
- Merda! - rugi, levando as mãos ao rosto. A traição de Guilia era um golpe inesperado, mas pior que isso era o efeito que suas mentiras tinham causado em Emma.
- E tem mais... - Ela hesitou, sentando-se ao meu lado e segurando minha mão.
- Me fala logo, porra! - exigi, agora sem paciência para rodeios.
E ela contou. Contou sobre as humilhações, as palavras maldosas, as ameaças veladas e o tapa que revidou. Senti um misto de orgulho e raiva - orgulho por ela ter se defendido, raiva por ela ter sido forçada a isso.
Levantei-me imediatamente após ouvir tudo, andei pelo quarto com passos firmes, como se cada movimento fosse uma descarga de energia. Ela me observava com olhos inquietos, talvez com medo de minha reação.
- Vem. Vamos sair daqui. - Falei por fim, minha voz baixa, mas decidida.
- Pra onde vamos? - ela perguntou, me seguindo enquanto eu trancava a porta atrás de nós.
Não respondi. Não havia espaço para palavras agora. Guilia cruzou o limite. Eu precisava resolver isso. E resolveria do meu jeito.
Enquanto caminhamos pelos corredores da casa, meu olhar era fixo e determinado. A calma aparente escondia a tempestade que eu sentia. Cosa Nostra não perdoa traições. E eu também não.
Emma
Mattia desapareceu pelo corredor, sua expressão era como uma tempestade prestes a estourar. Ele disse para eu ficar na sala, mas a tensão no ar não me deixava em paz. Não sabia o que ele faria, mas conhecia aquele olhar. Ele estava furioso, e quando Mattia ficava assim, ninguém saía ileso.
Antes que pudesse decidir se o seguiria ou não, ouvi minha mãe descendo as escadas às pressas.
- Emma! - chamou ela, a voz carregada de preocupação.
Me virei e a encarei. Ela parecia ansiosa, os olhos indo do meu rosto para o lençol que ainda envolvia meu corpo.
- O que aconteceu com as suas roupas? Por que você está assim? - Ela se aproximou, colocando as mãos no meu rosto, tentando me examinar como se eu fosse uma criança.
Me afastei, envolvendo os ombros em um gesto automático de proteção. Como poderia explicar para minha mãe? Não tinha como ela entender.
- Filha, me responda! - insistiu ela, cruzando os braços.
Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos, mas fui interrompida pelo grito de Mattia vindo de algum lugar.
- VAMOS, Guilia! ABRA ESSA MERDA DE PORTA!
Virei o rosto imediatamente, o coração disparando. Só podia ser ele. Dei um passo em direção à origem do som, mas minha mãe segurou meu braço.
- Aonde você pensa que vai? - perguntou ela, os olhos me Analisando com suspeita.
- Vou ver o que está acontecendo - respondi, apontando para o corredor.
- De jeito nenhum! Pode ser perigoso. Pelo que sei, o dono dessa casa é um bandido! - Ela disse isso com desgosto.
- Não é verdade! E quem está lá é o Mattia.
Ela ergueu a sobrancelha, cruzando os braços de novo.
- E como você tem tanta certeza?
- Porque eu conheço a voz dele.
Sem esperar mais, me desvencilhei dela e caminhei em direção ao barulho.