- Sim, Mattia. Ela me bateu, deu vários tapas no meu rosto... do nada! - disse, abaixando a cabeça como se estivesse envergonhada.
Aquilo me irritou ainda mais. A Emma? Agredir alguém sem motivo? Não fazia sentido. Não podia acreditar nela assim, de olhos fechados.
- Do nada? Não posso acreditar nisso. Quer saber? Vamos resolver isso agora mesmo!
Avancei e peguei no braço de Guilia, puxando-a com força.
- Ai! Pra onde você está me levando? - ela reclamou, tentando se desvencilhar.
- Pra sala. Quero saber quem tá falando a verdade.
Minha voz era um aviso. Não tinha mais espaço pra joguinhos. Continuei puxando Guilia até abrir a porta e levá-la para a sala. Quando chegamos lá, vi Emma sentada ao lado de uma mulher. Ah, então é ela. A mãe de Emma. Bem-vestida, mas com uma expressão tão rígida quanto a da filha. Algo aqui não me cheira bem...
Guilia reclamou de novo, sua voz alta e irritante.
- Mattia, está me machucando! Me solta!
Atendi ao pedido, mas não como ela queria. Soltei seu braço com um empurrão leve, jogando-a à frente. Ela quase perdeu o equilíbrio, mas conseguiu se firmar. Mesmo assim, virou para me olhar, cheia de ofensas.
- O que essa louca tá fazendo aqui? Já não basta o que ela me fez? - gritou, apontando para Emma. Sua voz começou a falhar, e eu notei que ela parecia prestes a chorar. Drama. Mais uma tentativa patética de me manipular.
Antes que eu pudesse falar algo, a mãe de Emma interveio, sua voz cortante:
- O que essa mulher está fazendo aqui? Já não basta as coisas que ela falou da minha filha?
Coisas? Meu olhar ficou ainda mais sério. Dei um passo à frente, ficando ao lado de Guilia, que desviou o rosto como se quisesse evitar a verdade. Virei para a mãe de Emma, esperando uma explicação.
- O que ela falou? - perguntei, minha voz firme.
A mulher hesitou por um instante, mas me encarou com coragem.
- Fala logo o que ela falou. Não estou com paciência pra rodeios! - Cruzei os braços, esperando, enquanto minha raiva fervia sob controle.
Ela soltou o ar pesadamente, como se reunisse coragem. Olhou para Emma, que balançou a cabeça levemente, pedindo para ela não falar. Mas a mulher ignorou.
- Então fala de uma vez, porra! Estou esperando!
Minha voz saiu mais alta, cortando o ambiente. O silêncio caiu sobre a sala. Todos pareciam prender a respiração, como se a próxima palavra fosse acender uma faísca e explodir tudo.
Eu estava pronto para a verdade. Seja ela qual fosse.
Guilia
Estava diante delas, a puta e a putinha, como se fossem um espetáculo de autocomiseração montado só para mim. Uma tragédia encenada, digna de risos, se não fosse tão revoltante. A cada olhar trocado entre elas, minha raiva crescia, mas eu me segurava. Meu jogo era outro: paciência, persuasão e manipulação.
Não entendia por que o Mattia estava tão empenhado nessa história. O que tinha de especial nessa garota e nessa mãe patética que ele parecia proteger? Será que estava em dúvida? Ótimo. Isso só joga a meu favor.
Ele cortou o silêncio com sua voz grave, carregada de autoridade e impaciência:
- Fala logo o que a Guilia fez! Porra, estou esperando!
Minha respiração acelerou, mas meu rosto permaneceu imóvel. Sabia que precisava escolher minhas palavras e expressões com cuidado. Eu tinha vencido antes; podia vencer de novo.
A mãe da Emma, hesitante, começou a falar. O som da voz dela era como uma faca arranhando vidro, insuportável, mas útil.
- Ela começou a chamar a minha filha de puta e disse que o lugar dela não é aqui! Eu vendo aquilo não podia deixar barato...
Ela terminou abaixando a cabeça, como uma verdadeira covarde. Claro que abaixou. Até ela sabia que estava num território perigoso, brincando com fogo que não podia apagar.
Senti os olhos do Mattia queimando sobre mim. Olhos castanhos intensos, tão cheios de julgamento, como se pudesse enxergar tudo o que eu tentava esconder. Mas eu já tinha enfrentado situações piores. Mantive a postura ereta, minha expressão intocada, e fiz o que fazia de melhor: esperei.
Quando o silêncio se prolongou, inclinei a cabeça ligeiramente, deixando a sombra de uma lágrima se formar no canto dos meus olhos. A vítima perfeita.
- Mattia... eu só estava defendendo você e esta casa. - Minha voz saiu baixa, trêmula, carregada de dor encenada. - Ela veio para cima de mim. Essa mulher é uma manipuladora! E olha o que ela fez!
Toquei de leve meu rosto, como se houvesse um golpe imaginário ali. Os olhos dele permaneceram fixos em mim, mas não entregavam nada.
A mãe da Emma me encarou, furiosa, mas isso só me deu mais força. Eu sabia que o Mattia odiava quem perdia o controle, e ela estava prestes a explodir.
- Você é uma mentirosa! Uma cobra! Minha filha nunca faria isso se você não tivesse começado!
Deixei um sorriso quase imperceptível escapar, o suficiente para que só ela visse.
- Eu? Mentirosa? Olha pra mim, Mattia. - Fiz questão de me virar para ele, buscando sua atenção. - Tudo que eu faço é por você. Por esta casa. Por nosso nome. Mas elas... elas só querem te destruir.
O ar ficou mais pesado. O silêncio era cortante, e eu podia sentir o jogo mudando. Agora, era tudo ou nada.
- Se quiser me acusar, então faça. Mas eu sei onde minha lealdade está. Será que elas podem dizer o mesmo?
A mãe da Emma abriu a boca para falar, mas ele levantou a mão, ordenando silêncio. O poder que ele emanava naquele momento era quase palpável, e me fez lembrar por que eu precisava ser tão cuidadosa.
O jogo ainda não estava ganho, mas a mesa começava a virar. E, quando vencesse, aquelas duas aprenderiam da pior maneira que ninguém, absolutamente ninguém, cruzava meu caminho e saía ileso.