- Você vai acabar quebrando essa caneta - comentou sua assistente, apontando para a caneta entre seus dedos, que Ethan apertava com força demais.
Ele respirou fundo e a colocou sobre a mesa.
- Alguma novidade?
Sua assistente folheou o tablet antes de responder:
- A Moreau Enterprises confirmou que vai enviar uma resposta hoje. Mas também há rumores de que Adrien está planejando algo grande.
Ethan franziu a testa.
- Algo grande?
- Uma aquisição. Ninguém sabe qual empresa ainda, mas pode mudar muita coisa no mercado.
Ethan fechou os olhos por um instante, sentindo uma pontada de frustração. Claro que Adrien faria algo assim. Sempre buscando uma vantagem, sempre um passo à frente.
Sempre uma provocação maldita.
Levantou-se da cadeira com decisão.
- Diga à minha equipe que quero um relatório completo de todos os movimentos recentes da Moreau Enterprises. Quero saber exatamente o que ele está planejando.
Sua assistente assentiu e saiu da sala.
Ethan soltou o ar devagar, olhando pela janela do arranha-céu.
Se Adrien achava que podia ganhar desta vez, estava enganado.
Porque, embora em privado Ethan pudesse perder para ele repetidas vezes... nos negócios, não cederia nem um centímetro.
O burburinho na sede da Lancaster Corp. era mais intenso do que o normal. Sentia-se a tensão no ar. Funcionários andavam de um lado para o outro com o celular colado ao ouvido, as telas refletiam gráficos em tempo real, e executivos de alto escalão realizavam reuniões improvisadas nos corredores.
Ethan andava de um lado ao outro em sua sala, o cenho franzido, analisando com atenção o relatório que sua equipe acabara de entregar.
Adrien Moreau não estava apenas planejando uma aquisição. Estava comprando uma das empresas-chave na rede de suprimentos da Lancaster Corp., uma companhia pequena, mas fundamental na logística da cadeia de distribuição.
Se Moreau fechasse o acordo, poderia forçar Ethan a renegociar termos. Poderia dificultar as operações.
Poderia tornar sua vida um inferno.
Ethan fechou os punhos. Sabia que Adrien nunca fazia nada sem um propósito oculto. E aquilo não era apenas uma jogada estratégica. Era uma declaração de guerra.
- Senhor Lancaster - sua assistente, Olivia, apareceu na porta - Adrien Moreau está na linha. Quer falar com o senhor.
Ethan semicerrou os olhos. Claro. Adrien nunca perdia a chance de saborear uma vitória.
- Passe a ligação.
Sentou-se calmamente e pegou o telefone.
- O que você quer, Moreau?
Do outro lado da linha, Adrien soltou uma risada suave.
- Que jeito frio de me cumprimentar, Ethan. Quase me faz pensar que você não ficou feliz com a minha ligação.
Ethan apoiou o cotovelo na mesa, massageando as têmporas.
- Não tenho tempo para os seus joguinhos.
- Ah, mas isso não é um jogo - Adrien baixou o tom, a voz quase íntima. - É negócio.
Ethan podia imaginá-lo perfeitamente: sentado em seu escritório luxuoso, com aquele sorriso arrogante e a confiança de quem sabe que tem a vantagem.
- Você vai comprar a Vanguard Logistics, não é? - Ethan foi direto ao ponto.
Houve uma pausa breve antes da resposta:
- Vejo que você tem boas fontes - o tom soava divertido. - Sim, é verdade. E se tudo correr bem, o negócio será fechado esta noite.
Ethan cerrou os dentes.
- Me diga o que você quer.
- Vai se render tão rápido assim? Estou desapontado, Lancaster.
- Não estou me rendendo. Só quero saber o que você está realmente buscando.
Adrien ficou em silêncio por alguns segundos, saboreando o momento antes de responder:
- Um jantar.
Ethan piscou.
- O quê?
- Vamos jantar juntos esta noite - repetiu Adrien, como se fosse apenas um café casual. - Se fizer isso, talvez possamos renegociar os termos da minha compra.
Ethan esfregou o nariz, exasperado.
- Você está me chantageando com um jantar?
- Não chame de chantagem - Adrien riu baixinho. - Chame de... uma oferta de colaboração.
Ethan suspirou. Sabia que era uma má ideia, mas também sabia que não podia deixar Adrien vencer com tanta facilidade.
- Está bem. Mas não espere uma noite agradável.
- Ah, Lancaster - a risada na voz de Adrien era evidente - nossas noites nunca são entediantes.
Ethan desligou sem responder.
Reclinou-se na cadeira, soltando o ar devagar.
Por que sentia que estava caminhando direto para uma armadilha?
⸻***
O restaurante era um lugar exclusivo, com luz baixa e atmosfera sofisticada - feito para negociações privadas e encontros discretos.
Ethan chegou pontualmente, certo de que Adrien já estaria esperando.
E, claro, estava certo.
Adrien estava sentado numa mesa ao fundo, com uma taça de vinho na mão e uma expressão de completa tranquilidade. Vestia um terno preto impecável, com a gravata levemente afrouxada, o que lhe dava um ar de descuido proposital.
- Lancaster - saudou-o com um sorriso ao vê-lo - Fico feliz que não tenha fugido.
- Não se ache tanto - respondeu Ethan, chamando o garçom para pedir um uísque. - Agora diga o que quer.
Adrien apoiou o cotovelo na mesa e o observou atentamente.
- Talvez eu só quisesse te ver.
Ethan revirou os olhos.
- Moreau.
Adrien sorriu.
- Tudo bem, tudo bem - inclinou-se um pouco para frente. - Quero um acordo.
- Não me surpreende.
- Vou fechar a compra da Vanguard Logistics. Isso não vai mudar. Mas... podemos chegar a um acordo onde você não saia prejudicado.
Ethan semicerrou os olhos.
- E o que você quer em troca?
Adrien demorou para responder.
- Uma fusão.
Ethan quase deixou o copo cair.
- Está brincando?
Adrien balançou a cabeça.
- Pense nisso. Se unirmos forças nesse setor, nenhum concorrente poderá nos alcançar. Seríamos imbatíveis.
Ethan ficou em silêncio por um momento.
O que Adrien propunha fazia sentido do ponto de vista empresarial. Seria uma jogada estratégica que garantiria domínio de mercado.
Mas isso também significava trabalhar juntos. Constantemente.
Se ver todos os dias.
De rivais... a algo mais.
Adrien pareceu perceber a hesitação e sorriu com autossatisfação.
- Vou deixar você pensar - disse, erguendo a taça. - Mas sei que a ideia te intriga.
Ethan cerrou o maxilar.
- Não brinque comigo, Adrien.
- Jamais.
E o pior era que, pela primeira vez, Ethan não tinha certeza se Adrien estava mentindo ou não.