Ethan lutava para se concentrar na conversa. Em vez disso, estava fascinado com a maneira como Adrien gesticulava ao falar, seu cabelo levemente bagunçado e aqueles olhos escuros que pareciam brilhar com um segredo que só ele compreendia.
- E, claro, você sabe que meus contatos na indústria poderiam beneficiar sua empresa - disse Adrien, tomando um gole de vinho. - Uma fusão significaria acesso imediato a recursos e redes que seriam valiosos pra você.
- Eu sei - respondeu Ethan, tentando soar indiferente. - Mas também há riscos.
Adrien recostou-se na cadeira, cruzando os braços.
- Tem medo de que não consigamos trabalhar juntos?
Ethan sentiu o rubor subir pelo pescoço. A ideia de compartilhar um espaço de trabalho com Adrien lhe causava calafrios - mas não pelas razões que ele gostaria de admitir.
- Não tenho dúvidas sobre sua competência profissional, Moreau. Mas nossas personalidades são... conflitantes.
- Conflitantes? - Adrien arqueou uma sobrancelha, divertido. - Às vezes sinto que isso é mais do que apenas conflito.
Ethan o encarou, consciente de que o jogo que estavam jogando estava prestes a se tornar perigoso.
- Não me faça dizer o que eu não quero.
Adrien se inclinou para frente, aproximando-se ainda mais.
- E o que é que você não quer dizer, Ethan? Que, no fundo, você gosta dessa rivalidade?
Ethan sentiu o coração bater com força. Ele tinha razão. A emoção da competição, a adrenalina de cada encontro, e agora, aquela tensão palpável entre eles. Mas havia uma linha que ele não podia cruzar, e era isso que o mantinha afastado.
- Não é isso - retrucou, mais ríspido do que pretendia.
Adrien riu, um som baixo e sedutor.
- Você é um péssimo mentiroso. Mas tudo bem. Vou te dar um tempo pra pensar na proposta.
Enquanto continuavam jantando, Ethan se viu preso entre o desejo de avançar na carreira e o medo do que isso poderia significar para sua vida pessoal. A mistura dos dois mundos era explosiva - e Adrien sabia disso.
⸻***
Ao sair do restaurante, o ar noturno lhe bateu no rosto. A brisa estava fresca, e a luz da lua iluminava as ruas. Ethan se sentia mais lúcido - e ao mesmo tempo, mais confuso do que nunca. A fusão era uma ideia tentadora, mas também significava abrir a porta para uma nova dinâmica com Adrien que ele não sabia se estava pronto pra enfrentar.
- Eu te acompanho - disse Adrien, aproximando-se enquanto colocava o casaco.
Ethan franziu a testa.
- Não precisa. Tenho meu carro.
- Eu insisto - Adrien lançou-lhe um olhar divertido. - Não posso te deixar ir embora sozinho depois de um jantar tão agradável.
Ethan bufou, sentindo uma mistura de irritação e um impulso de se deixar levar.
- Tudo bem, vem. Mas não diga que não te avisei se se entediar.
Adrien sorriu.
O caminho até o carro pareceu mais longo do que o normal. A proximidade de Adrien era avassaladora. Cada vez que seus braços se tocavam, um arrepio percorria a espinha de Ethan. Era como se a tensão do restaurante tivesse se transformado no ar entre eles.
Dentro do carro, Adrien recostou-se no banco, olhando para Ethan com uma expressão que misturava curiosidade e desafio.
- E o que você achou da nossa conversa de hoje?
Ethan dirigia pelas ruas iluminadas, tentando pensar com clareza enquanto o som do motor preenchia o silêncio.
- Estou considerando - disse finalmente. - Mas não consigo parar de pensar no que isso significaria pra nós.
- Você acha que isso é só um jogo pra mim? - perguntou Adrien, com um tom mais sério. - Isso é uma oportunidade real.
- Sim, mas... - Ethan hesitou, buscando as palavras certas. - Também significa que teríamos que lidar com nossas diferenças num nível muito mais profundo.
Adrien assentiu, olhando pela janela.
- Eu sei. Mas às vezes, o que mais tememos é exatamente o que mais precisamos.
Ethan o olhou, sentindo o peso daquelas palavras. Havia algo mais ali, uma verdade que tocava fundo.
Finalmente, chegaram à entrada do prédio de Ethan. Ele estacionou e desligou o motor.
- Não consigo evitar - disse, quebrando o silêncio. - Sinto que isso pode dar errado.
- E se der certo? - Adrien virou-se para ele, com aquele olhar intenso que sempre o deixava sem fôlego. - E se nos encontrarmos num lugar onde não se trata apenas de competição, mas também de colaboração?
Ethan sentiu um nó no estômago.
- É arriscado.
- Tudo na vida é - Adrien fez uma pausa, como se procurasse as palavras certas. - Mas talvez devêssemos parar de lutar um contra o outro e ver o que podemos construir juntos.
Ethan ficou em silêncio, processando o que ele dissera. Não era apenas um desafio profissional. Era algo mais pessoal - uma proposta que o empurrava para o desconhecido.
Por fim, virou-se para Adrien.
- Eu preciso de tempo.
- Pegue o tempo que precisar - disse Adrien, com um tom mais suave. - Mas não esqueça que também há algo aqui que vale a pena explorar.
Com isso, Adrien saiu do carro e se despediu com um leve aceno.
Enquanto Ethan o observava se afastar, a sensação de incerteza e excitação o envolvia por completo. Tinha a impressão de que estava prestes a tomar uma decisão que mudaria tudo - e isso o aterrorizava e empolgava ao mesmo tempo.