Capítulo 4 Lampejo

Estou no meio de uma floresta, me sinto assustada e corro entre as árvores, procurando por alguém, mas não vejo ninguém, de repente escuto um grito de um homem.

- ELLIE, ELLIE! CADÊ VOCÊ? - A voz grita perguntando. - ELLIE SE TIVER ME ESCUTANDO, GRITA DE VOLTA!

Eu só consigo escutar a pessoa gritar, mas não falo nada, por que não estou falando nada? Deveria estar gritando, pedindo ajuda...

Abri os olhos e estava em uma sala branca que não era o meu quarto, mas também não era o local onde estava realizando o exame. Olho mais nitidamente e vejo uma mulher asiática me olhando, eu ia abrir a boca para falar com ela, mas ela sumiu da minha vista antes que pudesse falar algo a ela. Como escutei os seus passos rápidos, presumi que está indo atrás de alguém. A cena da Floresta estava na minha cabeça, eu tive um sonho ou uma lembrança? Como classificar isso? E o mais importante, se for uma lembrança, eu sou a Ellie? As perguntas ecoavam na minha cabeça e não aparecia ninguém, a única coisa que via do espaço era o teto e parte de uma parede, tudo branco. Esperei, mas devido à demora, decidi chamar alguém.

- TEM ALGUÉM AÍ? - Gritei o mais alto que podia. Alguns segundos se passam e eu vejo uma mulher negra com o jaleco branco se aproximar, ela olha a pulseira de identificação no meu braço e faz uma careta, deve estar procurando pelo meu nome. - Eu não sei o meu nome.

- Obrigada pelo esclarecimento. – Ela fala agradecendo. - Você passou mal durante o exame de ressonância magnética, então você veio para o CTI.

- CTI? - Pergunto confusa.

- Centro de Terapia Intensiva. Local onde ficam pacientes de média complexidade. - Ele explica o significado da sigla. - A Doutora Nikkei foi informar a sua médica, a Doutora Carter, que você acordou, ela está em uma cirurgia de emergência.

- Sabe se vai demorar muito? - Pergunto.

- Possivelmente. - Ela me responde.

- Consegue chamar a Doutora Albany? - Pergunto sobre a possibilidade de a psicóloga vir, as minhas dúvidas estavam me matando.

- Albany, Albany... Julie, sabe se tem alguma doutora chamada Albany aqui? - Ela pergunta a uma colega que não consigo ver.

- Albany? Não. - A mulher responde.

- Sabe o primeiro nome? - A enfermeira que está ao meu lado me pergunta.

- Doutora Priscila Albany. - Respondo.

- Não conheço alguém com esse nome, mas vou pesquisar no computador e já te respondo. - Ela fala e sai andando.

- Ela é psicóloga. - Falo uma informação que elas provavelmente não sabem.

- Aaaaaaaaah, por isso que nunca ouvi falar nesse nome. - Ela para e responde para mim. - Vou procurar o contato dela e ver se ela está disponível para vir aqui.

- Obrigada. - Agradeço.

- De nada. - Ela fala e sai do meu campo de visão.

Estou esperando por um tempo, parece que está demorando uma eternidade para a enfermeira trazer alguma resposta. Começo a me lembrar novamente da floresta que eu estava, densa cheia de árvores e o clima era ensolarado e bem úmido, o que fazia com o ar ficasse abafado. Continuo correndo e ouvindo os mesmos gritos.

- ELLIE, ELLIE! CADÊ VOCÊ? ELLIE SE TIVER ME ESCUTANDO, GRITA DE VOLTA! - O homem grita.

A minha reação continua sendo a mesma, não falar nada, apenas continuar correndo entre as árvores, por quê? Será que essa pessoa quer fazer mal a mim e eu estou tentando me esconder dela? Essa sensação de não lembrar de nada é absolutamente horrível.

- Ei, eiiii... - Abro os olhos e tomo um susto. Vejo a enfermeira me chamando. - A doutora Albany já está vindo.

- Obrigada. - Falo ainda assustada.

- Sonhou com algo ruim? - Ela pergunta.

- Boa pergunta, eu não sei se é um sonho ou uma lembrança. - Respondo. - Por isso que pedi a presença da doutora Albany aqui.

- Certo, daqui a pouco ela chega. - A mulher fala. - Quer que eu ajeite sua cama para ficar mais confortável?

- Por favor, não aguento mais olhar pra esse teto branco. - Respondo a ela, que ri.

- Então, vamos lá. - A enfermeira fala.

Ela aperta alguns botões da cama que começam a me elevar e deixam a parte onde minha cabeça e o meu tronco superior inclinados. Conforme vai subindo consigo ver mais da CTI, o quarto era pequeno, sem TV e cheio de aparelhos que estavam monitorando o meu coração e outros sinais vitais. A porta era transparente e do outro lado tinha um balcão em forma de círculo, que dava para observar todos os pacientes, que ficavam em quartos ao redor do balcão circular. A cama está na altura certa para mim, só faltava ajeitar o travesseiro na minha cabeça, mas não podia fazer sozinha, pois tinha um acesso com soro no meu braço direito e o esquerdo está imobilizado.

- Pode me ajudar a ajeitar o travesseiro, por favor? - Peço a enfermeira.

- Claro! - Ela exclama em resposta. Me desencosto da cama um pouco e ela ajeita o item. - Pode voltar.

- Obrigada. - Falo, agora bem mais confortável. - Qual é o seu nome?

- Victoria, ao seu dispor. - Ela responde.

- Obrigada Victoria. - Falo agradecendo juntamente com o seu nome.

- De nada, querida. - Ela fala com um sorriso no rosto. - Aqui está o botão para nos chamar.

- Obrigada. - Falo pegando o item na minha mão e mantendo próximo a mim.

- Agora preciso voltar ao meu posto, qualquer coisa é só me chamar apertando o botão. - Ela fala.

- Está bem, obrigada. - Falo e ela sai do meu quarto.

Fico um tempo sozinha, sem ter muito o que fazer, passo a observar o trabalho de Victoria e outras enfermeiras no CTI, elas monitoram cada paciente e vão até os quartos quando é necessário dar remédio ou chega algum médico para fazer procedimentos nos pacientes. Os quartos que consigo ver, em todos estão desacordados, possivelmente sou a única paciente consciente da ala. Vejo a Doutora Albany se aproximar do balcão e provavelmente conversa com as enfermeiras sobre mim. Em seguida, ela vem até o meu quarto.