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O salão principal do Palazzo di Oro, um dos hotéis mais exclusivos de Miami, resplandecia em opulência. Lustres de cristal em forma de cascata derramavam luzes douradas sobre as mesas perfeitamente alinhadas, e os sons suaves de um quarteto de cordas preenchiam o ambiente com elegância.
Era noite de conferência – mas não uma comum. Esta era a Summit Privée, uma das mais reservadas e seletivas conferências financeiras do planeta. Ali, só entrava quem não precisava provar mais nada: banqueiros invisíveis, herdeiros mimados e estrategistas frios como aço. A elite do capital privado, reunida sob o pretexto de negócios, mas com intenções muito mais complexas.
Nada ali era simples. Nem os trajes, nem os sorrisos, nem os jogos.
Quando Luna Zavarelli entrou, foi como se o salão parasse por um segundo - não de forma literal, mas numa espécie de suspensão coletiva, em que o tempo hesita. Seu vestido vermelho escarlate era uma obra de arquitetura. Modelado com precisão, deslizava sobre suas curvas como fogo. As costas nuas se estendiam até a base da coluna, o decote insinuava poder e não submissão.
Seus cabelos estavam presos em um coque alto, polido, deixando à mostra o rosto simétrico de traços finos, com olhos que diziam mais do que qualquer discurso no púlpito. Olhos que não imploravam por atenção, mas a exigiam.
Ela atravessou o salão com o andar de quem sabe que não deve nada a ninguém - e mais do que isso, de quem já pagou um preço alto demais para se importar com julgamentos. Sapatos de salto fino batiam no chão de mármore como batidas de um tambor de guerra. A cada passo, despertava olhares disfarçados, comentários sussurrados, invejas silenciosas.
E então ele a viu.
Dante Ferrari.
Era o tipo de homem que não passava despercebido - não apenas por sua aparência, mas pela atmosfera que o acompanhava. Alto, imponente, vestindo um terno preto sob medida com gravata escura e abotoaduras em ônix. Ele não se movia muito. Sua força estava na contenção. Nos olhos negros, firmes, que não piscavam. Na expressão que flertava com o desprezo e com o fascínio ao mesmo tempo.
Dante não era apenas um nome em ascensão no mercado europeu. Era um mistério bem guardado. Conhecido por transformar empresas falidas em máquinas de lucro, seu nome era citado com respeito - e medo.
Quando os olhos deles se cruzaram, a música pareceu sumir. O som de taças, de conversas, de risadas - tudo se diluiu. Só havia o olhar. O dele, de aço. O dela, de lâmina.
Ele se aproximou devagar, sem pressa, como um caçador que já sabe que a presa está ciente da sua chegada.
- Você não parece pertencer a esse lugar - disse ele, com a voz grave e arrastada, como quem está acostumado a ser ouvido.
Luna sorriu de lado. Seu olhar percorreu o rosto dele com precisão clínica. Mandíbula marcada, barba por fazer, o tipo de beleza que intimidava.
- Nem você. E é por isso que estamos aqui - respondeu, sem hesitar.
Ele estendeu a mão, sem pedir, apenas oferecendo. E ela aceitou, como quem entra em um jogo sabendo que não há saída.
Foram para a pista de dança. O quarteto tocava uma versão instrumental e sensual de Toxic, de Britney Spears - um toque irônico, talvez proposital, para um ambiente onde todos sabiam o poder da sedução.
Dançaram.
Mas não era uma dança qualquer. Era um duelo.
Os corpos se moviam com uma precisão perigosa. As mãos dele deslizavam pelas costas nuas de Luna, parando exatamente onde terminava o vestido. Os dedos dela arranhavam de leve o tecido do terno, como se testassem a resistência. Os olhos se mantinham fixos, desafiadores, intensos. Sorrisos vinham carregados de segredos.
A pista era o palco, os convidados as testemunhas - mas apenas os mais atentos perceberam que ali não dançavam duas pessoas. Dançavam duas forças, dois universos colidindo, dois predadores que farejavam o perigo com o mesmo prazer com que buscavam o poder.
- Zavarelli - murmurou ele, perto do ouvido dela, sentindo o perfume discreto e luxuoso que ela usava. - Um nome... interessante.
- Ferrari - respondeu ela, com um leve arquejo. - Um nome que acelera... ou destrói, dependendo de quem dirige.
Ele riu. Um riso seco, curto.
- Você sabe jogar.
- Eu sou o jogo.
Naquela noite, algo mudou.
Luna não era mulher de se impressionar facilmente. Já havia conhecido homens poderosos, ricos, bonitos. Mas Dante era diferente. Havia nele uma sombra que sussurrava familiaridade. Um abismo dentro do qual ela já tivera vontade de cair anos atrás, com outro homem, mas se salvara por um fio. Com Dante, talvez ela não quisesse escapar.
Após a dança, ele não tentou beijá-la. Apenas segurou a mão dela por mais um segundo do que o necessário, como quem planta um veneno de intenção e desaparece. Ele desapareceu do salão minutos depois, sem despedidas, sem promessas.
Mas deixou algo no ar.
E Luna soube.
Dante não era apenas mais um nome poderoso tentando atraí-la. Ele era um espelho perigoso, alguém que, assim como ela, sabia que no mundo onde viviam, o amor era só mais uma arma.
E ela adorava armas.