Capítulo 4 TRE

Os dias da semana vão passando, e logo o domingo bate à porta novamente. Dessa vez, quando os seminaristas chegarem, preciso dar um jeito de me encontrar com o jovenzinho de cabelos negros. Infelizmente, minha escala de limpeza do pátio caiu no sábado. Isso quer dizer que não terei pretexto para ir observá-los do lado de fora do salão. Levanto-me, espreguiçando-me lentamente. Sinto todos os músculos e ossos do meu corpo trabalhando devagar. Hoje é o dia! Organizo minha cama, coloco meu hábito e continuo minhas tarefas rotineiras: orações, estudos e blá, blá, blá.

As primeiras horas da manhã passam rápido. Logo eles chegarão. Hoje estou na limpeza do salão principal e, por sorte, eles precisarão passar por aqui para irem em direção à capela.

Estou encerando os bancos e mesas quando eles chegam. Levanto meu olhar e logo o vejo. Ele está bem atrás do padre, que é um senhor de idade. Seguindo-o, estão mais dois jovens. Encurto meus passos e vou chegando mais para a ponta dos bancos que, em conjunto com os móveis do outro lado, formam um corredor central. Aguardo o momento certo de agir.

Assim que o padre passa na minha frente, olho bem fundo nos olhos do rapaz de cabelos escuros e caio.

- Por favor, me ajude - peço com a voz falha, enquanto fecho lentamente os olhos.

Desmaio em seus braços e logo ouço a gritaria.

- Ajudem! Ela desmaiou! Rápido, onde é a enfermaria? - pergunta o rapaz.

- Joseph, vá chamar a madre superiora - pede o padre em tom austero.

- Rapaz, a enfermaria fica no quarto corredor à esquerda e, depois, vire à direita. Leve-a para lá que a madre superiora já está a caminho - ouço uma das freiras dizer.

Permaneço o mais imóvel possível enquanto ele me carrega em seus braços de forma apressada. Vamos passando por corredores e portas até que chegamos à enfermaria. Estamos a sós. Ele me deita em uma das camas e abre as cortinas da janela. Posso dizer que foi isso que ele fez porque sinto a luz do sol tocar minha pele. Escuto o barulho de uma cadeira se arrastando e o ouço sentar.

Abro lentamente os olhos.

- Obrigada - sussurro.

- Ah, meu Deus! Você acordou! Como está se sentindo? Está bem?

- Acho que sim. Me sinto um pouco fraca.

- Você vai ficar bem. As freiras já foram chamar a madre superiora.

Meus olhos se enchem de lágrimas e escondo o rosto com as mãos.

- O que foi? Você está sentindo dor? Por que está chorando? - ele pergunta, preocupado.

- Não, não é nada... É que... é a madre superiora. Ela é tão rígida comigo, que eu... - balbucio, enquanto tento enxugar minhas lágrimas com as mãos trêmulas.

- Você o quê?

- Eu tenho medo - respondo, olhando para baixo.

- Medo? Ela faz alguma coisa com você?

Ouço alguns passos se aproximando e vozes ecoando. Eles estão vindo. Preciso fisgar esse peixinho logo.

- Eles estão chegando, não posso falar mais. Aqui, tome este papel - entrego um bilhete rapidamente em suas mãos e as seguro. - Meu nome é Allegra. Não se esqueça de mim - solto suas mãos um segundo antes de eles entrarem no quarto e virem em minha direção.

Ele olha para mim, um pouco confuso, e põe o bilhete ligeiro dentro do bolso.

- Menina, o que aconteceu? O que você está sentindo? - pergunta a madre superiora. - A enfermeira está presente, ela vai tirar sua pressão.

- Eu senti uma leve tontura, madre. Mas agora que deitei estou um pouco melhor. Desculpe preocupar vocês.

A enfermeira se aproxima e toca minha testa. Sua mão está fria. Ela pega meu braço e passa o aparelho de pressão em volta.

- Sua pressão está boa - ela afirma. - Deve ter sido apenas um mal-estar. Fique aqui por mais alguns minutos e depois estará liberada para ir.

Agradeço. Conforme a sala vai se esvaziando, lanço um último olhar para meu salvador. Ele me olha de volta e sai. Apenas uma pessoa fica na sala: a madre.

- Então, você teve um mal-estar. Isso não é mais uma de suas peripécias, não é, irmã Allegra? - ela me lança um olhar firme e direto.

Eu sustento seu olhar, enquanto balanço a cabeça de forma negativa.

- Claro que não, madre. Eu realmente me senti mal. Não tenho por que mentir. Juro perante Nosso Senhor! - rebato de forma convicta.

- Hunf! Então está bem. Mas saiba que estou de olhos bem abertos com a senhorita! Espero que todo aquele estresse que tivemos por anos não venha a se repetir. Seu pai não iria gostar nem um pouco de saber que a senhorita anda aprontando novamente.

- Eu sei.

- Então, estamos conversadas - ela vira as costas e vai embora.

Bruxa velha!

Continuo deitada por mais alguns minutos, enquanto arquiteto o resto do meu plano. Eu esqueci de perguntar o nome do seminarista! Tanto faz. Quando eu estiver conhecendo o seu corpo, a última coisa que me importarei em saber é seu nome.

Não é, lindo peixinho? Logo, logo você vai ser meu!

            
            

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