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Nos dias seguintes ao encontro com Raíssa, Mariana tentava afogar a sensação de desamparo na rotina. A casa, com suas paredes de vidro e móveis minimalistas, parecia engolir cada pedaço de sua presença. Cada passo que ela dava ecoava, e ela se sentia mais e mais invisível, como uma sombra que ninguém via ou se importava. A distância entre ela e Vinícius só aumentava, e ela, por mais que tentasse, não conseguia se acostumar com o vazio daquele casamento.
Vinícius continuava sua rotina de compromissos intermináveis, sempre com uma agenda apertada, sempre tão distante. Era como se ele tivesse se perdido em um mundo onde o que importava não eram as pessoas, mas os números, as reuniões, os negócios. Ele nunca falava sobre o que sentia, nunca compartilhava seus pensamentos ou preocupações. Ela sabia que ele era capaz de fazer isso – já havia demonstrado, em raros momentos, uma inteligência emocional contida, mas ele a mantinha à distância, como se a proximidade fosse algo a ser evitado.
Em um dos poucos momentos em que estavam sozinhos na mansão, Mariana se viu observando Vinícius, que estava sentado à mesa de jantar, olhando para seu celular. Ele parecia tão alheio à sua presença, imerso nas mensagens e nos e-mails que chegavam incessantemente. O homem que ela havia se casado, que ela esperava que a olhasse com algum tipo de afeição, agora mais parecia um estranho.
Ela tentou dizer algo, algo que rompesse o silêncio insuportável entre eles. Algo simples, talvez, que o tirasse da bolha em que vivia. "Vinícius," começou ela, com a voz um pouco trêmula, mas determinada. "Podemos conversar?"
Ele levantou os olhos do celular por um segundo, dando-lhe a atenção mínima que sempre dava – o suficiente para fazer com que ela se sentisse reconhecida, mas não o suficiente para gerar uma verdadeira conexão.
"Claro, o que há de errado?" A indiferença na voz dele fazia o sangue de Mariana ferver, mas ela manteve a calma.
"Eu não sei... acho que estou começando a me perder aqui," disse ela, tentando ser honesta, mas sem parecer exigente. "Eu sinto como se... como se não existisse mais nada além do seu trabalho. E eu... não estou me sentindo parte disso. Não estou me sentindo parte de nós."
Vinícius franziu a testa, como se o conceito de "nós" fosse uma palavra que ele mal reconhecia. Ele suspirou, recostando-se na cadeira e olhando para o teto, como se procurasse por algo nas palavras dela, mas não soubesse o que encontrar.
"Mariana, você sabia como era isso. Eu sempre fui assim. Você sabia desde o início que minha vida é focada no trabalho. Não posso mudar isso agora."
Era a mesma resposta de sempre. O mesmo distanciamento que a fazia sentir que não era importante. Como se as necessidades dela não tivessem peso diante da magnitude do que ele considerava ser sua responsabilidade.
"Eu sei, mas..." Mariana se interrompeu, hesitando. "Eu esperava mais. Não... não só disso. Eu esperava mais de nós, de como seria a nossa vida juntos."
Vinícius passou a mão pelo rosto, claramente incomodado. "Não é o momento para isso, Mariana. Eu estou cansado e tenho muitas coisas para resolver. Não podemos ficar nisso agora."
E com essas palavras, ele se levantou, pegou seu celular e saiu da sala, deixando Mariana sozinha com seus pensamentos, mais uma vez cercada pelo vazio que ele havia deixado.
Ela ficou ali por um bom tempo, os olhos fixos na cadeira vazia em frente à mesa de jantar. O que havia acontecido com aquele homem? O que acontecera com o casamento que ela imaginara? Ela pensava em todas as suas expectativas, suas esperanças, e o quão rapidamente elas haviam se desfeito. Ela sabia que tinha se casado com ele por uma combinação de dever e desejo, mas agora não conseguia mais distinguir o que era real e o que tinha sido imposto.
Naquela noite, após o jantar solitário, Mariana se retirou para o seu quarto, onde tentou afastar o peso de sua solidão com um livro. Mas as palavras nas páginas não faziam sentido. Sua mente estava em outro lugar, voltada para o homem distante que compartilhava seu nome e seu endereço, mas não sua vida.
Foi então que a ideia surgiu. Se Vinícius não conseguia vê-la, talvez fosse ela quem precisasse mudar a forma de ver as coisas. Talvez fosse hora de tomar uma atitude. Ela não sabia ao certo o que faria, mas o que estava claro era que ela não podia continuar ali, consumida pela ausência dele, esperando que algo mudasse. Ela precisava de algo mais, algo que fosse genuíno e que a fizesse sentir viva.
Na manhã seguinte, ela decidiu que não iria mais ficar à margem. Mariana sabia que o caminho à sua frente não seria fácil, mas não poderia continuar a viver uma vida de sombras. Ela se arrumou com mais cuidado do que o habitual, não para impressionar Vinícius, mas para se reconectar com sua própria identidade. Era hora de fazer algo por si mesma.
Quando Vinícius chegou à mansão naquele dia, ela o encontrou na entrada da sala, de pé, com os olhos fixos nele. Ele olhou para ela surpreso, como se não soubesse muito bem o que esperar de sua atitude.
"Vinícius, nós precisamos conversar de novo," disse Mariana, com firmeza em sua voz. Ele a olhou com uma expressão vazia, mas algo na maneira como ela falou fez com que ele parasse por um momento.
Mariana sabia que as palavras que ela diria a seguir seriam decisivas. E ela estava pronta.