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Os primeiros dias após o casamento passaram de forma estranha e desoladora. Mariana se viu presa em um novo mundo, um mundo que, embora estivesse cheio de luxo e conforto, parecia vazio e sem alma. A mansão onde agora morava com Vinícius era uma verdadeira obra-prima da arquitetura moderna, mas ao mesmo tempo, a imponência do lugar fazia com que ela se sentisse como se estivesse vivendo dentro de uma vitrine. Havia grandes janelas de vidro que ofereciam uma vista deslumbrante da cidade, mas elas também serviam para lembrar Mariana de que ela estava ali como um simples observador.
Ela não fazia parte da cena, apenas olhava.
Vinícius, por sua vez, parecia não perceber o quanto isso a afetava. Ele estava sempre em movimento, imerso em reuniões intermináveis, com compromissos e telefonemas que a mantinham à margem de sua vida. Ele não demonstrava nenhum interesse em descobrir quem ela realmente era, ou até mesmo em tentar fazer com que ela se sentisse em casa. O casamento deles parecia ser, para ele, apenas mais uma responsabilidade a ser cumprida. Para Mariana, isso era uma condenação silenciosa, uma prisão feita de silêncio e distância emocional.
No entanto, havia algo sobre Vinícius que a fazia questionar. Ele não era um homem ruim. Nunca a tratou com crueldade. Ele era educado e cortês, mas ao mesmo tempo tão impenetrável que Mariana se sentia uma estranha na própria casa. Em algum lugar dentro dela, ela sabia que ele possuía uma complexidade, uma história que ela não conhecia e que, talvez, estivesse à espera de ser descoberta. Mas, como descobrir algo sobre alguém que nunca se revela?
Em um desses primeiros dias, enquanto tentava se acostumar com a ideia de estar vivendo com um homem que mal conhecia, Mariana decidiu sair para um passeio pela cidade. Ela queria se afastar um pouco da casa, do vazio que começava a pesar sobre ela. Foi quando, por acaso, encontrou-se com sua amiga de infância, Raíssa, em um café local.
Raíssa era tudo o que Mariana não era: espontânea, extrovertida e sempre com uma palavra amiga pronta para qualquer situação. Elas haviam sido muito próximas durante a infância, mas os compromissos de Mariana com os negócios familiares e o casamento arranjado haviam afastado as duas ao longo dos anos. Ao vê-la, Mariana não conseguiu esconder o sorriso.
"Mariana! Eu não acredito! Que surpresa boa!" Raíssa exclamou, ao ver sua amiga entrar no café. "Você está linda! Como está o novo casamento?"
Mariana hesitou, mas sorriu timidamente. "Está... bem. É só diferente do que eu esperava."
Raíssa não parecia entender muito bem o que ela queria dizer, mas continuou. "Eu sei que casamento é uma coisa complicada, mas esse seu casamento, com o Vinícius Almeida... ele é tipo o rei do mundo dos negócios! Eu sei que deve ser difícil se ajustar, mas vai ser bom para você. Sabe, sempre admirei como você seguiu esse caminho com a sua família. Não deve ser fácil, mas você está fazendo o que é certo."
Mariana olhou para Raíssa, sentindo uma mistura de culpa e frustração. Ela queria que a amiga entendesse a complexidade da situação, mas, ao mesmo tempo, sabia que não poderia esperar que alguém que não estivesse vivendo aquilo realmente a compreendesse. "Eu sei, Raíssa, eu sei. Às vezes, parece que tudo está sendo feito por mim, mas eu não estou no controle de nada. E é estranho. Eu pensei que fosse ser diferente, que algo mais aconteceria. Mas parece que... ele é só um homem de negócios. Ele está sempre ocupado. Não sei se vou conseguir me adaptar a isso."
Raíssa olhou para Mariana com uma expressão de compreensão, mas também de preocupação. "Talvez você tenha que dar um tempo. Não é porque vocês estão casados que precisa ser tudo perfeito logo de cara, sabe? Às vezes, a gente precisa deixar as coisas fluírem."
Mariana suspirou. Ela queria acreditar nisso, mas o que ela mais desejava era que Vinícius olhasse para ela, falasse com ela com mais interesse do que o necessário para cumprir as obrigações sociais. Ela queria uma conexão genuína, não uma existência compartilhada por obrigação.
Quando voltou para casa naquela tarde, sentiu o peso do silêncio no ambiente. Vinícius ainda não havia chegado, e ela sabia que ele estava envolvido em alguma reunião que provavelmente duraria até a noite. Ela tentou ocupar sua mente com livros, com algumas tarefas simples, mas o vazio da casa parecia consumi-la. Ela caminhava de um cômodo a outro, como uma alma perdida, até que ouviu a chave na porta.
Vinícius entrou, com sua postura implacável, vestido com um terno escuro e uma expressão cansada. Ele olhou para Mariana, que estava sentada no sofá, tentando parecer ocupada.
"Você está bem?" perguntou ele, com a mesma indiferença que sempre demonstrava. A pergunta, no entanto, foi acompanhada por um breve momento de hesitação, como se ele realmente estivesse tentando se conectar com ela.
"Sim, estou só um pouco cansada. Andei dando uma volta mais cedo... fui encontrar uma amiga", respondeu ela, tentando soar natural. Mas a sensação de estar fora de sintonia com ele ainda estava ali, persistente.
Vinícius fez um aceno, como se aprovasse a ideia de que ela tivesse algo para fazer. "É bom que você tenha suas próprias atividades. Eu, infelizmente, não consigo fazer mais do que trabalho."
Mariana tentou disfarçar a decepção. Não que ela esperasse algo mais, mas era como se ele estivesse dizendo que nada mais além de trabalho valesse a pena. Como se, ao colocar a empresa em primeiro lugar, ele estivesse dizendo, sem palavras, que sua presença ali não tinha importância.
Naquela noite, enquanto jantavam juntos, o silêncio era mais profundo do que nunca. Eles não falavam sobre o casamento, nem sobre o futuro. Conversavam apenas sobre assuntos triviais, como o clima e a agenda de compromissos de Vinícius. Mariana tentou falar sobre algo mais pessoal, mas ele desviou o assunto rapidamente. Parecia que, para ele, o casamento não era um espaço para compartilhar emoções, mas uma formalidade que precisava ser cumprida. Era como se ela fosse apenas uma extensão de sua vida de negócios, e não uma pessoa com necessidades e desejos próprios.
Mariana tentou manter a compostura, mas o vazio estava tomando conta dela. Ela estava casada, mas sozinha. Casada com alguém que parecia mais um desconhecido do que um marido. E, enquanto ela olhava para Vinícius, tentando encontrar qualquer sinal de humanidade em seu olhar distante, ela se perguntava se algum dia conseguiria realmente conhecê-lo.
Ele, por sua vez, parecia estar tão imerso em seus próprios pensamentos que mal notava a solidão crescente que se instalava entre eles. E enquanto o silêncio tomava conta daquela noite, Mariana sentiu, pela primeira vez, que o casamento arranjado não estava apenas isolando-os fisicamente. Ele estava os separando de maneiras mais profundas e invisíveis.