Com o namorado errado
img img Com o namorado errado img Capítulo 5 Sob o mesmo teto
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Capítulo 6 A Primeira Noite img
Capítulo 7 A fricção img
Capítulo 8 Milímetros do Abismo img
Capítulo 9 Algo mudou img
Capítulo 10 Olhos que aprendem a ver img
Capítulo 11 Marés altas img
Capítulo 12 A sete chaves img
Capítulo 13 Entre Lençóis Invisíveis img
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Capítulo 5 Sob o mesmo teto

Naquela tarde de terça-feira, o calor parecia grudar na pele como uma segunda camada. O ar condicionado do carro mal conseguia lidar com a umidade, e mesmo assim Nico não conseguia parar de sorrir enquanto dirigia. Ele teve uma ideia que estava sendo elaborada há semanas e finalmente a colocou em prática. Uma oportunidade perfeita, ele pensou.

"Vai ser ótimo", disse ele entusiasmado, sem tirar os olhos da estrada. Um lugar maior, com pátio, a meia hora do aeroporto. Você consegue imaginar domingos com churrasco e vinho sob as estrelas?

Camila virou a cabeça lentamente em direção a ele.

-Do que você está falando?

Nico lhe deu um sorriso cúmplice, como alguém que lhe dá um presente surpresa.

-Eu não te contei? Recebi o aluguel daquela casa que mostrei a vocês no mês passado, aquela da esquina com o jardim. Julian e Sofi vêm morar conosco. Vamos compartilhar.

Silêncio.

Camila piscou. Várias vezes. Como se eu precisasse reiniciar.

-Juliano... e Sofi?

-Sim, amor. Quatro quartos, bastante espaço, dois banheiros. Vai ser como viver de férias o ano todo. Imagine... você e Sofi preparando coquetéis, nós fazendo um churrasco. -Nico riu, encantado com sua própria visão-. E também economizamos muito. Todas as vantagens.

Camila não respondeu. Ela apenas voltou o olhar para o para-brisa, tentando controlar a náusea repentina que a invadiu.

Morando com Julian?

Depois daquela noite, eles mal trocaram palavras. Ele não havia escrito. Ela também não. Ambos sabiam que se aproximar novamente era como tocar uma chama viva. Eles juraram para si mesmos que aquilo tinha sido um erro, um impulso... uma brecha que se fecharia com o tempo.

Mas agora, eles iriam comê-lo na cozinha. No quarto. No chuveiro ao lado. No pátio.

Diariamente.

-Há algo errado? - perguntou Nico, abaixando um pouco o volume do rádio.

Ela tentou sorrir, mas seu maxilar estava tenso, como se ela estivesse segurando um grito.

-Não... isso só me pegou de surpresa.

-Achei que você adoraria. Você vem dizendo há meses que esse departamento está sufocando você.

-Sim, claro... é que... Julián e Sofi, nossa. É muita coisa.

Nico estendeu a mão e acariciou a perna dela.

-Vai ficar tudo bem. Eu confio em você, em mim... em nós quatro. Somos como uma família.

Camila sentia o mundo girar com uma lentidão insuportável. Família. Aquela palavra caiu sobre ele como uma piada cruel.

Julian, por sua vez, estava sentado na beira da cama, olhando para a tela do celular sem ver nada. Nico lhe enviou o contrato do novo local, com emojis comemorativos e um "Vai ser épico, mano!"

E ele, como um covarde, respondeu com um "Sim, vai ficar bom".

Mas por dentro eu estava devastada.

Que porra eu fiz?

Quando Nico sugeriu que eles dividissem uma casa, pareceu lógico. Confortável. Natural. Eles foram amigos por anos. Julian disse sim quase sem pensar, como quem aceita mais uma cerveja.

Mas isso foi antes.

Antes do beijo. Diante do olhar de Camila na escuridão. Antes do armário. Diante do desejo não resolvido que agora o seguia como um eco sujo.

E agora... eles iriam morar juntos.

Como eu poderia suportar isso?

Como eu poderia tê-la perto de mim, ver como ela ria com Nico, como ela o beijava na cozinha, como ela dividia a cama com ele? Como ele poderia resistir sem se entregar? Sem olhar muito para ela. Sem procurá-la quando ela caminhava pelo corredor de roupão.

E o pior... como eu iria viver com essa tensão se Camila também sentia isso?

Porque eu a conhecia. Ele sabia ler seus silêncios. E na última mensagem que eles trocaram - apenas um "você está bem?" dele e um "sim, está tudo bem" dela, algo estava vibrando atrás. Não estava certo. E ele também não.

Naquela mesma noite, eles se conheceram.

Nico reuniu os três para assinar o contrato e brindar com pizza e cerveja. Camila não teve escapatória.

Ao entrar no apartamento de Julian, ela o viu parado ao lado de Sofi, que falava animadamente sobre as cores para pintar as paredes do quarto. Ele ficou em silêncio. Os olhos dele a procuraram assim que ela entrou pela porta.

Camila sentiu como se o tempo tivesse parado.

Julian engoliu em seco.

Ela desviou o olhar.

A tensão pairava no ar como um perfume invisível que ninguém mais notava.

-Cami! -Sofi disse entusiasmada, dando-lhe um abraço. É ótimo que seremos colegas de quarto. Você não sabe o quanto estou feliz!

"Sim... eu também", disse Camila, fingindo uma alegria que não sentia.

Julian não disse nada. Ele simplesmente se aproximou, beijou-a na bochecha - uma linha invisível que tremeu entre eles - e foi embora.

Durante toda a noite, eles se evitavam como se estivessem jogando um jogo secreto que os outros não podiam ver. Uma coreografia medida, onde cada toque acidental era um fogo contido.

E enquanto Nico brindava entusiasmado a "uma nova etapa", Camila olhava para sua taça de vinho e depois olhava para Julián.

E ele sabia que tudo estava prestes a sair do controle.

                         

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