Capítulo 2 A entrevista

Pressionei o dedo hesitante no interfone, e enquanto aguardava que a porta se abrisse para a tão esperada entrevista, meus olhos percorriam cada detalhe daquele lugar que parecia saído de um sonho.

A casa não era apenas grande, era imponente, uma verdadeira mansão que evocava as páginas de um livro de contos de fadas. Dois andares de pura elegância, com portões e janelas adornados por detalhes dourados que cintilavam como ouro à luz do sol. Uma sacada espaçosa se estendia em direção a um lago sereno, e a propriedade era abraçada por uma cortina verde de árvores majestosas. O jardim, uma explosão de cores e aromas, ostentava uma diversidade impressionante de flores, criando uma atmosfera de beleza e paz.

Finalmente, a porta se abriu, revelando uma senhora de postura impecável. Seus cabelos estavam presos em um coque tão perfeitamente apertado que parecia esculpido, e seu vestido social de comprimento médio irradiava uma elegância discreta.

- Bom dia, senhorita Garcia - sua voz era firme, mas acolhedora, embora as palavras tivessem sido proferidas em um fluxo quase contínuo. - Meu nome é Luciana Albuquerque. Seja bem-vinda à residência do meu filho, Ricardo Albuquerque. Infelizmente, ele não pôde estar presente no momento, e serei eu a conduzir a entrevista. Por favor, entre.

Com um sorriso que eu me esforçava para manter calmo e confiante, respondi com um bom dia e segui Dona Luciana para o interior da casa.

O interior era ainda mais deslumbrante, superando todas as minhas expectativas. Grandes portais com arcos suaves e detalhes dourados emolduravam os espaços, e os móveis clássicos pareciam ter saído diretamente de filmes sobre a realeza, emanando uma aura de história e sofisticação.

- Perdoe-me pela ligeira demora em atender - disse ela, oferecendo um sorriso amarelo, carregado de um pedido implícito de desculpas. - O dia começou um pouco agitado.

- Sem problemas, a espera foi breve e aproveitei para admirar as flores. São realmente impressionantes. E, por favor, sinta-se à vontade para me chamar de Amélia - respondi, adentrando uma sala que se revelou um elegante escritório. Uma vasta coleção de livros preenchia inúmeras estantes atrás de uma imponente mesa, sobre a qual repousavam um computador, alguns papéis soltos e pastas organizadas. Acomodei-me em um longo sofá de veludo que ficava de frente para Dona Luciana, e ela começou a folhear meu currículo, sua atenção concentrada nas informações ali contidas.

- Amélia, devo dizer que recebemos um número considerável de candidaturas para esta vaga. No entanto, sua formação em enfermagem se destacou como um diferencial significativo. Meu filho é extremamente zeloso com a saúde da minha neta. Você possui experiência com crianças? - uma onda de ansiedade percorreu meu corpo, apertando meu estômago. Eu precisava desesperadamente daquele emprego. Tentando projetar confiança, respondi:

- Além do estágio curricular e dos dois anos de trabalho na clínica, durante a adolescência tive a oportunidade de cuidar de uma criança de oito anos por algumas horas em diversas ocasiões. Apesar de minha experiência formal ser limitada, tenho grande facilidade em interagir com crianças, e geralmente elas demonstram gostar da minha companhia.

Um leve zumbido ecoou em meus ouvidos, uma manifestação física da minha crescente ansiedade. Senti um temor repentino de ter me expressado de forma inadequada, de ter perdido a chance com palavras mal escolhidas. Fui examinada por olhos de um verde penetrante, carregados de uma curiosidade contida. Com um sorriso suave, Dona Luciana finalmente falou:

- Em até 48 horas, entraremos em contato para informar o resultado da sua candidatura. Enviaremos um e-mail com todas as informações, caso seja selecionada para a próxima etapa. Adianto, porém, que devido à sua menor experiência, teremos que realizar alguns testes práticos, caso seu currículo seja aprovado nesta fase inicial. Tenho mais algumas entrevistas agendadas para hoje, e meu filho tomará a decisão final após conhecermos todos os candidatos. Boa sorte, Amélia.

Com um sorriso que mal consegui sustentar, acenei e agradeci pela oportunidade. O encontro não havia transcorrido como eu imaginara. Longe disso. A sensação era de que aquela vaga já não me pertencia. Deixei que o nervosismo toldasse minhas palavras, e a falta de experiência parecia ter aniquilado qualquer chance que eu pudesse ter tido. Caminhando lentamente pelo extenso e exuberante jardim, deixei para trás aquela casa imponente, carregando comigo uma pesada dose de desesperança. A exaustiva busca por um emprego ainda não havia chegado ao fim.

            
            

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