Capítulo 2 O Mistério do Piano na Praia

O vento noturno enroscava-se nos cabelos de Isadora enquanto ela descia a escadaria de madeira que levava à praia. Cada passo fazia a madeira velha gemer, como se protestasse contra sua presença após tantos anos de abandono. A música do piano ainda ecoava na areia, mas agora em tons mais suaves, quase melancólicos.

- Você está louca? - Clara sussurrou, segurando seu pulso. - A gente não pode simplesmente chegar nele assim!

- Por que não? - Isadora respondeu, sem conseguir tirar os olhos de Rafael.

- Porque ele é... diferente. As pessoas dizem que ele não gosta de visitas.

Isadora ignorou o aviso. Havia algo naquele piano solitário na praia, naquele homem tocando para as estrelas, que a chamava de uma forma que ela não entendia.

Quando estavam a poucos metros de distância, a música parou.

Rafael levantou a cabeça. Seus olhos - um verde tão claro que quase pareciam translúcidos - estavam fixos em um ponto além dela, como se enxergasse algo no escuro.

- Boa noite - ele disse, a voz tão suave quanto suas mãos sobre as teclas.

Isadora engoliu seco. Ele sabia que elas estavam ali.

- Nós... nós não queremos incomodar - ela começou, sentindo-se repentinamente tola.

- Não está incomodando - Rafael sorriu levemente. - A música é melhor quando compartilhada.

Clara deu-lhe um leve cotovelada, como quem diz "eu avisei", mas Isadora ignorou.

- Por que você está tocando aqui? - a pergunta saiu antes que ela pudesse pará-la.

Rafael hesitou por um segundo, os dedos pairando sobre as teclas.

- Porque o mar me ouve - ele respondeu, como se isso explicasse tudo. - E você? Por que está aqui, Isadora Monteiro?

Ela estremeceu. Ele sabia seu nome.

- Como você...?

- Sua avó falava muito sobre você - ele inclinou a cabeça. - Eu moro na casa ao lado da sua. Ou melhor, morava, antes de você voltar.

Isadora sentiu um frio na espinha. A casa ao lado estava vazia há anos.

- Você conheceu minha avó?

Rafael não respondeu imediatamente. Em vez disso, seus dedos começaram a dançar sobre as teclas novamente, uma música que Isadora reconheceu instantaneamente. Era a mesma melodia que sua avó costumava cantarolar quando a colocava para dormir.

- Ela me ensinou essa música - ele finalmente disse. - Há muito tempo.

Clara apertou o braço de Isadora, os olhos arregalados.

- Isso é impossível - ela sussurrou. - Sua avó morreu há dez anos.

Rafael parou de tocar novamente.

- O tempo é relativo - ele murmurou, levantando-se do piano. - E alguns segredos não foram feitos para serem descobertos.

Antes que Isadora pudesse responder, ele fechou a tampa do piano com um baque suave e começou a se afastar pela praia, desaparecendo na escuridão como um fantasma.

- Isso foi... assustador - Clara exalou.

Mas Isadora não conseguia tirar os olhos do piano. Algo brilhava sob a luz da lua - uma pequena chave de metal pendurada em um cordão, deixada para trás no banco.

Quando ela a pegou, seu coração parou.

Era idêntica à chave que sua avó sempre usava no pescoço.

A chave do baú.

            
            

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