Capítulo 5 – Limiares
O corredor parecia mais silencioso do que o resto da casa. Cada passo meu ecoava como um aviso - tarde demais para voltar, cedo demais para entender onde estava pisando.
Amélie caminhava à minha frente com elegância felina. Seu perfume preenchia o ar, doce e ao mesmo tempo misterioso. Eu a seguia como alguém atravessando uma ponte estreita sobre o desconhecido. Um passo em falso, e talvez eu me perdesse de mim mesma.
- Nervosa? - ela perguntou, sem virar o rosto.
- Um pouco. - confessei.
- Ótimo. Isso significa que ainda tem algo a perder. - disse, abrindo uma porta dupla com suavidade.
O quarto era amplo, iluminado por luzes quentes e suaves. Cortinas vermelhas caíam pesadas pelas janelas e uma trilha instrumental preenchia o espaço com uma calma quase hipnótica. No centro, uma cama baixa com lençóis escuros e, ao lado, uma bandeja com velas, óleos e vendas.
- Aqui não há pressa, nem obrigações. - disse Amélie, se voltando para mim. - Só uma regra: esteja presente. Deixe o medo na porta. E sinta.
Ela se aproximou, ergueu meu queixo com delicadeza e olhou dentro dos meus olhos como se procurasse algo escondido.
- Você já foi tocada com verdade, Alícia?
Engoli seco. Aquela pergunta me atingiu mais fundo do que imaginei. Não era sobre o corpo. Era sobre tudo que carreguei calada por anos.
- Não sei. - respondi.
Ela sorriu.
- Então talvez hoje seja o primeiro passo.