Capítulo 2 A Primeira Regra

Capítulo 2 – A Primeira Regra

O silêncio entre nós era espesso, quase palpável. Damian me encarava como se procurasse alguma rachadura, uma falha, um ponto fraco. Eu sentia a pele arrepiar sob o tecido leve do robe. Meu instinto gritava para fugir, mas minhas pernas não obedeciam.

- Você parece nervosa. - Ele disse, andando lentamente ao meu redor, como um predador farejando a presa. - Isso é bom. Sinal de que ainda tem algo a perder.

Meu orgulho, talvez.

- É a minha primeira noite - confessei, forçando-me a manter a postura.

- E mesmo assim te colocaram comigo. - Ele soltou uma risada curta. - Helena é mais ousada do que eu pensava.

Damian parou na minha frente. Seus olhos cinzentos cravaram nos meus, como se testassem até onde eu aguentaria sem desviar. Não desviei. Não podia.

- Tire o robe - ordenou, sem elevar a voz.

Meu coração disparou. As palavras ecoaram dentro de mim, contradizendo tudo o que Helena havia dito sobre "nenhum toque além do acordado". Aquilo era parte da massagem? Parte do acordo? Eu não sabia. Só sabia que ele me testava.

- Pensei que... - comecei, mas parei ao notar o modo como ele arqueou uma sobrancelha, paciente e perigoso.

- Você pensou errado - respondeu com calma. - Aqui, quem dita as regras sou eu. Mas não se preocupe... - ele se aproximou mais um passo, até eu sentir o calor do seu corpo - ...ainda não estou cobrando nada que você não possa recusar.

O robe escorregou dos meus ombros. Um movimento lento. Um gesto de coragem ou desespero? Eu já não sabia distinguir. Estava vulnerável, mas não derrotada.

Ele não me tocou. Nem uma vez.

- Corajosa - murmurou. - Isso é raro aqui.

Damian voltou para o sofá, cruzou as pernas e me observou com um olhar clínico.

- Sente-se.

Obedeci. Meus joelhos quase cederam, mas me mantive firme. A tensão entre nós era como um fio prestes a arrebentar.

- Diga-me, Alícia... o que trouxe você até aqui? - Sua voz era baixa, quase gentil. Mas eu sabia que não havia bondade naquela pergunta. Era um interrogatório com verniz de curiosidade.

- Dívidas. Sobrevivência. Não tive escolha.

Ele riu de leve, como se tivesse ouvido a mesma resposta mil vezes.

- Sempre há escolha. A diferença é o preço que se está disposto a pagar.

Ele se levantou novamente. Pôs a taça de lado e estendeu a mão até meu rosto, mas não me tocou. Seus dedos pairaram próximos à minha pele.

- A primeira regra, Alícia, é simples: nunca confunda prazer com poder. Um você pode vender. O outro... sempre pertence a quem sabe dominar.

Engoli em seco. Era isso. Ele não queria meu corpo. Não naquele momento. Queria algo mais perigoso: controle.

- Você quer trabalhar aqui? Quer vencer nesse lugar? - Sua voz ganhou firmeza. - Então aprenda a fingir. Aprenda a seduzir sem se entregar. Ou será engolida.

A campainha da casa tocou, quebrando a tensão.

Damian se afastou, indo até a porta lateral.

Antes de sair, virou-se e disse, quase como um aviso:

- Vista-se. Sua noite termina aqui. Mas a próxima... começa quando eu quiser.

E então ele se foi.

E eu fiquei ali, sentada, com o corpo exposto e a mente em chamas. Porque, pela primeira vez, entendi que aquele mundo não era apenas feito de toques e acordos - era um jogo.

E eu acabara de ser colocada em campo.

            
            

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