Capítulo 2 Jogo de palavras

Nos dias que seguiram, Caio voltou. Sempre com um novo motivo: um café diferente, uma pergunta aleatória, um elogio disfarçado. E Helena, que antes mal notava os clientes, passou a esperar por ele. Disfarçava, claro. Mas ajeitava o cabelo com mais cuidado, escolhia roupas melhores e colocava um toque a mais de batom, como quem prepara um palco sem admitir que há uma plateia esperando.

Caio não era insistente. Era constante. E essa constância começou a quebrar as defesas que ela achava inabaláveis. Ele perguntava sobre cafés, mas também sobre ela. Sobre o que gostava de ler, de ouvir, sobre os sonhos deixados de lado. Helena se via respondendo sem perceber. E gostando.

Uma noite, ao fechar a cafeteria, ouviu batidas leves na porta de vidro. Era ele.

– Tive um dia longo. Preciso de café. E talvez... de você – disse, encarando-a com intensidade.

Ela hesitou. Estavam sozinhos. A cidade parecia dormir. O coração dela batia alto, e o corpo pedia o que a mente ainda tentava negar. O silêncio entre eles era carregado de possibilidades.

– Entre – disse, sem conseguir esconder o sorriso.

Ele entrou. E dessa vez, não havia balcão entre eles. Só dois corpos atraídos por algo que nem o tempo, nem o medo, conseguiam conter.

            
            

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