Capítulo 4 O gosto da saudade

Na manhã seguinte, Helena acordou com o cheiro dele ainda em sua pele e o gosto da noite passada nos lábios. Os olhos ainda fechados, um sorriso involuntário. Por instantes, deixou-se flutuar naquela lembrança recente. Cada toque. Cada beijo. Cada gemido abafado entre os sacos de grãos e as prateleiras silenciosas.

Mas Caio havia partido antes do sol nascer, deixando apenas uma xícara usada na bancada e um bilhete:

"Você tem o gosto do que eu nem sabia que precisava. Volto logo. – Caio"

Ela leu e releu aquele papel amassado como se fosse poesia. Tentou ignorar a ansiedade que se aninhava no peito. Era só uma ausência breve, dizia a si mesma. Ele voltaria. Ele disse que voltaria.

Mas os dias passaram. Três. Quatro. Uma semana. E nada de Caio.

Cada toque do sino da porta da cafeteria fazia seu coração saltar. Mas não era ele. Nunca era ele. O perfume dele parecia ter ficado em algum canto, feito fantasma, enquanto o tempo escorria lento como café coado.

A saudade vinha misturada ao medo: teria sido apenas uma noite para ele? Um impulso passageiro?

Ela se odiava por pensar tanto. Por se permitir sentir.

Até que, em uma noite chuvosa, ele reapareceu. Molhado da cabeça aos pés. Os olhos cansados. A barba por fazer ainda mais densa. O mesmo Caio. Mas diferente. Carregado de algo que ela ainda não entendia.

– Me desculpa. Eu precisei resolver algo... mas não consegui tirar você da cabeça nem por um segundo.

Ela o olhou, firme, mas por dentro, o coração tremia.

– Então prove – disse ela, com a voz baixa, mas cheia de significado.

E naquele instante, soube: a saudade era só o intervalo entre dois atos do mesmo desejo.

            
            

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