Capítulo 3 O Czar sem coroa

O helicóptero de Dmitri Volkov pairou sobre o East River, iluminado pelas luzes noturnas de Manhattan. De cima, a cidade parecia um circuito eletrônico: pulsante, controlável. Mas ele sabia que, lá embaixo, era uma selva. E ele havia sido criado para dominar selvas.

Enquanto bebia um copo de Stoli Elit puro, gelado como o inverno russo, Dmitri deixou sua mente vagar até um apartamento sem aquecimento nos subúrbios de Moscou, anos 90.

- Dinheiro não é poder, Dmitri. - Seu pai, um ex-oficial do KGB caído em desgraça, lhe dizia enquanto limpava uma pistola Makarov na mesa da cozinha. - Poder é saber onde estão os cadáveres enterrados. E ter uma pá na mão.

Aos doze anos, Dmitri já falava inglês melhor que os diplomatas americanos na TV. Aos quinze, traficava softwares piratas para oligarcas em ascensão. Aos dezenove, deixou seu primeiro cadáver em um lago congelado: um contador que ameaçara falar demais sobre os negócios de seu novo "patrão".

Aterrissaram no heliponto da Torre Volkov. No elevador privativo, seu reflexo no espelho mostrava um homem de terno Brioni, relógio Patek Philippe e um sorriso calculado. *Esta* era a persona que Nova York conhecia: o filantropo que doava para museus. O anfitrião de galas em Hamptons. O self-made man que "saiu do nada" e construiu a uma fortuna.

Mas quando as portas do escritório se fecharam, ele arrancou o relógio e jogou-o na poltrona.

- Ela tem documentos de Kiev, rosnou para seu conselheiro, Anatoly.

O velho ucraniano franziu a testa.

- Impossível. Enterramos isso.

- Pois ela desenterrou.

Dmitri abriu um cofre embutido na parede e tirou um dossiê em cirílico. "Operação Fantasma" - o mesmo que Bella tinha. Mas havia algo que ela não sabia: Dmitri não era apenas um intermediário naquelas vendas de armas. Ele fora o arquiteto.

Os oligarcas que Dmitri servira na juventude haviam traído seu pai, deixando-o morrer como um cachorro na neve. Quando ele finalmente subiu ao poder, fez questão de devorar os impérios deles, um a um.

Kovalenko? Morrera em um "acidente" de helicóptero.

Petrovich? Enforcado com sua própria gravata em uma cela em Genebra.

E agora, ele usava o dinheiro e a influência deles para comprar respeito no Ocidente.

- A Moretti Media é a última peça. Ele murmurou, olhando para o horizonte. - Preciso de um veículo legítimo antes que o FBI feche o cerco.

Anatoly tossiu.

- E a garota?

Dmitri sorriu, lembrando da postura desafiadora de Bella, da forma como ela não baixara os olhos.

- A Isabella Moretti acha que está jogando xadrez. Disse ele, servindo dois copos de vodka. - Mas eu inventei esse jogo.

Ele jogou seu copo para Anatoly, que o pegou no ar.

- Então, o que vamos fazer? - perguntou o velho.

Dmitri olhou para a foto de seu pai em cima da mesa, um homem que morrera sem ver a vingança ser concluída.

- Vamos dar a ela mais corda. Deixe-a pensar que está ganhando... até que ela mesma se enforque com ela.

Naquela noite, Dmitri jantou sozinho em seu apartamento na Quinta Avenida. Enquanto mexia em um beef stroganoff, que nunca sabia como a mãe fazia. Ele ligou para um número não registrado.

- Como está minha irmã? - perguntou em russo.

- Ainda no sanatório na Suíça. Ela não reconhece ninguém.

Ele desligou sem responder.

No terraço, acendeu um cigarro Dunhill e observou a cidade. Em algum lugar lá embaixo, Isabella Moretti provavelmente estava comemorando sua pequena vitória.

Deixe-a ter essa noite, pensou.

Amanhã, a guerra começaria de verdade.

            
            

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