Capítulo 4 O senador e o pecado original

A chuva caía em diagonal sobre Washington D.C. quando Daniel Carter recebeu a mensagem criptografada no seu telefone descartável:

- Ela sabe. TSAR CIRCLE. Prepare-se.

O senador americano mais charmoso desde Kennedy não perdeu o sorriso, mas seus dedos apertaram o copo de bourbon até as juntas ficarem brancas.

No Capitol Hill, Carter era conhecido como "o Príncipe de Nova York" - um democrata progressista com um passado impecável: Yale, Peace Corps, promotor anticorrupção. Sua campanha para a presidência já estava sendo planejada nos bastidores.

Mas Bella Moretti acabara de descobrir o segredo que destruiria tudo.

Dois dias depois, Bella recebeu um convite anônimo para a exposição "Poder e Devassidão: Arte na Era dos Czares"* no Metropolitan Museum. Quando chegou à sala dos tesouros imperiais russos, encontrou Carter parado diante de um ícone de São Miguel esmaltado em ouro.

- Sabe por que os santos russos sempre seguram uma espada? - ele perguntou, sem se virar. - Porque até a virtude precisa de violência para sobreviver.

Bella cruzou os braços.

- Falando como especialista em violência, senador? Ou em santidade?

Ele finalmente a encarou. Seus olhos azuis, tão famosos nas capas de revista, estavam frios como o mármore sob seus pés.

- Você tem informações que podem arruinar minha carreira. Eu tenho informações que podem salvar seu império de mídia. Vamos negociar?

No jardim interno do museu, longe de câmeras e ouvidos indiscretos, Carter contou uma história que nem os arquivos da KGB possuíam:

- Há 20 anos, Dmitri não era ninguém. Sabe como ele conseguiu seu primeiro milhão? Vendendo uma menina de 16 anos para um sheik em Dubai.

Bella sentiu o estômago embrulhar.

- Provas?

Carter abriu a pasta de couro que carregava. Dentro, fotos desbotadas de uma jovem loira em um cassino de Mônaco

- Alina Volkov, a irmã desaparecida de Dmitri. Ela não está em um sanatório na Suíça. Está morta. E Dmitri matou-a quando descobriu que ela ia testemunhar contra ele.

Bella estudou as fotos. Algo não batia.

- Por que você tem isso? O que ganharia expondo Dmitri AGORA, depois de anos sendo seu cúmplice no Tsar's Circle?

Carter sorriu, lento como um tubarão farejando sangue.

- Porque eu não era seu cúmplice. Trabalho para o Departamento de Justiça há uma década. Esta - ele tocou a medalha de São Jorge sob seu colarinho - é minha arma contra homens como Volkov.

Bella riu, descrente.

- Então por que não o prendeu?

- Precisava que ele cometesse um crime em solo americano. E você, querida Bella, é a isca perfeita.

Antes que Bella reagisse, luzes de holofotes invadiram o jardim. Homens de terno preto avançavam. Carter apertou seu pulso com força repentina.

- Neste momento, Dmitri acredita que você está me vendendo segredos DELE. Ele virá atrás de você. E quando o fizer...

Um dos homens abriu o paletó, revelando um distintivo do FBI.

- ...nós o pegamos.

Bella arrancou o braço com um puxão.

- Você me usou como isca sem meu consentimento?

Carter ajustou o relógio, impávido.

- Bem-vinda à liga dos grandes, Moretti. Aqui, todo mundo é peão e jogador ao mesmo tempo.

Quando ele saiu, deixando-a cercada por agentes federais, Bella percebeu a verdade: nenhum deles - nem Dmitri, nem Carter - era quem parecia ser.

E agora, ela estava no meio do fogo cruzado.

                         

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