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Nova York, agora
Ethan
Ela não era mais a irmãzinha de Josh.
E ver isso, ao vivo, e tão de perto, era desconcertante.
Eu sabia que ela voltaria a morar em Nova York - Josh havia me contado, como quem comenta qualquer coisa corriqueira, como se não tivesse peso. Como se não soubesse. Ou como se não quisesse saber.
Mas quando a porta se abriu e eu a vi... foi como levar um soco. Silencioso e preciso.
Lana. A mesma menina que usava rabos de cavalo desalinhados, cheia de curiosidade e perguntas bobas. A mesma que me olhava de longe, achando que eu nunca percebia. Eu percebia. Sempre percebi.
E agora... ela estava ali. Mulher feita. Os olhos mais maduros, o corpo marcado pelas curvas da experiência e da idade, e a postura de quem aprendeu que pode ocupar o próprio espaço.
"- Lana?"
Minha voz saiu antes do que eu queria. Mais baixa do que imaginei. Mas firme o bastante, eu acho.
Ela sorriu. Aquela mesma expressão leve que sempre carregava, só que agora com um brilho diferente. Como se ela soubesse o que causava.
- Ethan - ela pausou. - Você está... diferente.
- E você está... - engoli em seco, com um meio sorriso. - De volta.
Ela me deu passagem, e entrei.
O cheiro da casa era o mesmo - um misto de madeira, lavanda e um toque de nostalgia. Mas havia algo novo ali. Ou talvez fosse ela. A energia. O jeito com que ela se movia, como se não pedisse licença ao passado, mas se impusesse sobre ele.
Olhei ao redor, evitando manter os olhos nela tempo demais.
Ela estava linda. Óbvio. Inquestionável. Mas isso era exatamente o que eu não podia permitir que tomasse espaço em mim.
A sala tinha objetos que eu nunca tinha visto antes. Vasos de cerâmica italianos, livros de design, pequenos quadros com traços minimalistas. Tinha personalidade ali. Tinha Lana. A nova Lana.
- Gostei da nova decoração - comentei, mais pra preencher o silêncio do que por qualquer outra coisa.
Ela apenas acenou com a cabeça. Parecia... calma demais. Como se estivesse esperando alguma reação minha. Como se estivesse me estudando também.
E, de repente, a atmosfera entre nós pesou. Só estávamos nós dois ali. Por alguns segundos que pareceram longos demais.
Dei dois passos em direção à estante. Fingi me interessar por um livro qualquer. Mas minha nuca latejava.
Era o tipo de situação que eu sempre soube evitar. Sempre fui racional, focado, centrado. Mas Lana, ali... era uma equação que eu não queria resolver.
E antes que eu tivesse tempo de me perder ainda mais naquele vácuo invisível entre o certo e o que se deseja, ouvi passos vindo do corredor.
Josh.
Meu corpo aliviou. Um pouco.
Mas minha mente... ainda estava naquela porta. No segundo em que ela abriu. E tudo o que eu achei que tinha superado, apenas adormeceu.