Capítulo 2 - A Primeira Conversa Que Mudou Tudo

O café seguia calmo naquela noite. Algumas pessoas dispersas em suas mesas, sorrisos discretos, o som de jazz misturado com o tilintar de colheres contra xícaras. Patrícia ainda sentia o eco daquele olhar que tinham trocado. Tentou voltar ao livro, mas as palavras dançavam na página, confusas. O cheiro do cappuccino parecia mais forte, o ambiente mais quente.

Sentia o olhar dele, mesmo sem se virar.

Foi então que escutou a voz.

- Com licença... posso me sentar aqui? - perguntou, a voz baixa, rouca, carregada de cansaço e um tom curioso.

Patrícia ergueu os olhos e lá estava ele. Jungkook. A máscara agora abaixada, revelando o rosto que ela só tinha visto em telas e palcos. Mas ali, cara a cara, ele parecia menos inalcançável e mais... real.

Ela manteve o sorriso discreto, aquele de quem sabe que a vida, às vezes, gosta de pregar peças inesperadas.

- Claro - respondeu, tirando o livro de cima da cadeira ao lado.

Jungkook se sentou, ajeitou os fones no pescoço e o copo de café gelado na mesa. Por um instante, os dois ficaram em silêncio. Só o som da música ambiente e o farfalhar das folhas do lado de fora preenchiam o ar.

Ele olhou para o livro na mão dela.

- Gosta de ler?

- Muito - ela respondeu, fechando a capa azul-marinho. - Principalmente à noite... ajuda a desligar.

Ele sorriu, passando a língua pelos lábios antes de perguntar:

- Você não é daqui, né? Seu coreano soava natural, mas tinha uma leve curiosidade embutida.

Patrícia apoiou o cotovelo na mesa, encarando os olhos escuros dele.

- Não. Sou brasileira.

O olhar de Jungkook se acendeu.

- Sério? Brasil... uau. E tá há quanto tempo aqui?

- Quase quatro anos. Me mudei pra Busan depois de morar um tempo em Seul.

- E fala coreano tão bem assim?

Ela riu de leve.

- Além do inglês. Vim pra cá com esses dois na bagagem.

Ele pareceu genuinamente impressionado.

- Caramba... e o que faz aqui?

- Trabalho como assistente pessoal de um artista. Um coreano famoso... - ela brincou, levantando uma sobrancelha, sem dizer quem.

Jungkook deu uma risadinha, aquele sorriso de canto que parecia escapar sem ele perceber.

- E gosta?

- Gosto. Me dá certa liberdade. E além disso... faço academia, danço, toco alguns instrumentos, faço boxe.

- Boxe? - ele arqueou as sobrancelhas, claramente surpreso.

- Uhum. E piano, guitarra e bateria também. Preciso de coisas que me mantenham em movimento.

Jungkook riu baixo, balançando a cabeça.

- Definitivamente não é o que eu esperava encontrar aqui hoje.

Ele a olhou de um jeito que não era de artista pra fã. Era de homem pra mulher. De alguém curioso com o mistério que ela carregava.

- E você? - ela perguntou, fingindo não saber. - Mora aqui?

Ele hesitou, divertido.

- De certa forma... - deu de ombros. - Venho pra Busan quando preciso sumir um pouco. Nasci aqui, sabe?

- Ah... Busan é linda. Tem cheiro de lar.

Jungkook a observou por alguns segundos, como se tentasse decifrar quem era aquela mulher tão segura, tão natural, tão pouco impressionada por ele. E aquilo, ele sabia, era raro.

- Você sabe quem eu sou, né? - perguntou, num tom meio sem jeito, rindo no final.

Patrícia deu um meio sorriso.

- Sei. Mas... hoje você é só mais um cara tentando tomar um café tranquilo.

Ele riu de verdade dessa vez.

- Gostei de você, Patrícia.

Ela sentiu um calor subir pelo rosto, mas manteve a postura.

- Você nem me conhece.

- É... mas acho que quero conhecer. - Jungkook disse, com os olhos brilhando daquele jeito que faz o mundo desacelerar.

E assim, naquela mesa pequena, entre uma xícara de cappuccino e um americano gelado, o destino começou a tecer os primeiros fios de uma história que nenhum dos dois imaginava.

O relógio marcava 23h12.

E nada, dali pra frente, seria só coincidência.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022