Capítulo 4 A cadeira de confissão

No Luna Spa, o salão de beleza era um pequeno templo de vaidade... e segredos. Tinha paredes cor de creme, uma luminária circular que banhava tudo com uma luz suave e uma poltrona reclinável com estofamento de couro branco onde, por algum motivo, as mulheres conversavam sobre tudo. Às vezes, mais do que deveriam.

Aitana já o havia batizado: cadeira de confissão.

Naquela tarde, o ar cheirava a creme de manga, acetona e um pouco de drama. Como de costume.

-Você não sabe o que aconteceu comigo neste fim de semana! - exclamou uma cliente loira, com lábios inchados e unhas quebradas, que pediu "algo discreto, mas com brilho".

Aitana levantou os olhos da caixa de glitter holográfico. Ele reconheceu a garota. Ele veio duas vezes. Sempre com um decote generoso e a energia de quem sabe para quem está sendo olhado. Mas desta vez havia urgência em seus olhos. A necessidade de ser ouvido.

"Diga-me", disse Aitana, como se fosse uma terapeuta e não uma manicure.

-Fui a uma festa de uma agência de modelos, você sabe qual? Glow, o de Iker Valverde.

Aitana sentiu um pequeno nó se formar no estômago, mas manteve a compostura.

-Ah, sim... parece familiar.

-Deus! Esse homem é uma fantasia do caralho. Mas também um desastre emocional. Olhamos um para o outro três vezes e acabei indo embora com ele.Literal. Em seu carro preto, com a música de Rauw Alejandro tocando alto. Você sabe o que ele me disse? Que ele odiava mulheres ciumentas.

Aitana tentou manter uma expressão neutra enquanto desinfetava as ferramentas.

-E o que aconteceu depois?

-A coisa típica. Cama de hotel, luzes fracas e então o clássico: "Não estou pronto para nada sério". Ele me beijou na testa e foi embora antes do café da manhã.

Cama de hotel? Quantas vezes ele disse isso?- pensou Aitana.

"Mas isso não é o mais forte", continuou a garota. É que no banheiro dela... encontrei uma pulseira de barbante vermelha. Uma daquelas que dizem que afasta energias ruins. E não era dele. Era claramente feminino.

Aitana sorriu com os lábios levemente curvados. Ela também usou uma assim. Uma que Iker lhe disse que era "mística".

"Talvez tenha sido de algum outro hóspede", ele disse, tentando parecer indiferente.

-Eu pensei assim. Mas então, vi o telefone dele. Recebi uma mensagem fixada de uma certa "Naty Uñas Spa". Comecei a perseguir... e bum! Outra garota linda que posta fotos com frases como "Quando ele me beija, o tempo para". Tenho certeza de que você está se referindo a ele!

Aitana engoliu em seco. O gel que eu estava aplicando parecia endurecer mais lentamente.

-E o que você fez?

-Nada. Obviamente fingi não me importar. Mas desde aquele dia eu o sigo em todas as suas redes sociais com uma conta falsa. E não sei se estou mais apaixonada ou mais obcecada. Você acha que eu sou louco?

"Não, de jeito nenhum", disse Aitana, embora por dentro se sentisse presa em uma teia de aranha. Iker tinha mais mulheres do que tons de esmalte gelatinoso.

A loira suspirou enquanto conferia seus novos designs: unhas rosa-claro amendoadas com pontas metálicas em ouro líquido.

-Eu adoro estes. Eles são elegantes, mas ainda são picantes, ele disse com um sorriso travesso.

"Como você", respondeu Aitana, enquanto aplicava óleo de cutícula.

Quando o cliente saiu, Aitana ficou sozinha na cabine. Ele ligou a lâmpada UV só para ter algo para olhar enquanto organizava seus pensamentos.

Naty? Cama de hotel? Pulseiras vermelhas? Quantos de nós realmente somos?

O celular vibrou. Era uma mensagem de Iker:

"Almoço amanhã? Quero te mimar um pouco, minha manicure."

Aitana leu sem responder.

Ele se inclinou sobre a mesa e fechou os olhos.

Flashback.

Três semanas antes.

A mesma cadeira.

Outra mulher. Morena. Tom de pele caramelo. Unhas longas em forma de garras.

-Estou jogando com o Iker, sabia? Ele acha que está no controle, mas quem manda sou eu. O truque é não se apaixonar.

Então naquele momento ele não entendeu. Agora tudo estava começando a fazer sentido. Todas essas frases aleatórias, detalhes aparentemente inofensivos. Peças de um quebra-cabeça que estavam tomando forma.

A porta se abriu. Era Camila, a recepcionista.

-Você tem meia hora livre. Você quer um café?

-Sim, com leite de amêndoas, por favor. E... você pode dizer para o próximo cliente voltar um pouco mais tarde?

-Claro. Tudo certo?

Aitana apenas assentiu.

Quando ficou sozinha, ela pegou seu caderno de design, aquele que havia escondido entre as toalhas. Eu não ia desenhar unhas. Desta vez, ele escreveu nomes.

Naty.

Aquele com a pulseira.

A morena com garras.

A loira obsessiva.

Eu também?

Ele sublinhou a palavra "eu" várias vezes.

Ela não sabia se estava com ciúmes, magoada ou apenas furiosa consigo mesma por ter se deixado levar. Iker era tudo o que uma garota ambiciosa poderia desejar... e tudo o que uma mulher inteligente deveria evitar.

Mas o coração não é a cabeça.

E Aitana, por mais firme que quisesse ser, já estava fisgada.

Ele ligou o celular. Ele entrou no perfil de Iker. As últimas histórias mostraram modelos em uma piscina particular, rindo e bebendo. Mas uma foto a fez parar.

Mãos apoiadas em uma pia. Unhas em tom lavanda acetinado com um pequeno detalhe em espiral branco. Seu design.

Mais um?

Não, pior. Aquela era a foto dela. Seu design. A que ela fez para sair com Iker, quando eles passaram aquela noite juntos no apartamento dele e ele pediu a ela uma "foto artística" das mãos deles juntas para guardar como lembrança. Ele fez o upload... sem marcá-lo, sem o rosto, como se fosse anônimo. Como se o que eles compartilhavam não fosse real.

O telefone escorregou de suas mãos. Ele caiu no chão com um baque surdo.

Ele olhou de volta para a cadeira.

"A cadeira da confissão."

O que eu não sabia é que isso também poderia quebrar um pouco sua alma.

            
            

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