Capítulo 5 Você não é o único

O esmalte deslizou suavemente sobre a unha, formando um delicado tom de rosa quartzo. Aitana o conhecia bem. Era um dos favoritos no Spa Luna. Os clientes pediam isso quando queriam projetar "elegância inocente", aquele ar de ternura calculada que, no final, quase sempre revelava uma história obscura por trás dele.

-Você sabe quem me escreveu ontem? - disse a garota na frente dela, cruzando as pernas enquanto falava ao telefone. Iker Valverde.

Aitana piscou uma, duas vezes. O nome ainda lhe dava aquela sensação calorosa misturada com arrepios. Ele não olhou para cima. Ele apenas moveu o pincel com precisão cirúrgica.

-Quem? -ele fingiu.

-Iker! O da Glow Agency, a dona. Ele me escreveu diretamente no Instagram. Ele disse que tinha visto minhas fotos e queria que eu participasse de uma campanha exclusiva. -O cliente deu uma risadinha-. Embora a "campanha" pareça uma desculpa. O que eu queria era outra coisa, se é que você me entende...

Aitana cerrou os dentes, segurando o pincel no meio do caminho entre o frasco de esmalte e sua unha.

-E você foi?

-Óbvio. Você não faria isso? É uma delícia. Ele tem aquele tom arrogante que faz você querer destruí-lo... ou beijá-lo.

As palavras caíram sobre ele como pedras. Dentro do seu peito, algo estava se quebrando, embora o exterior de Aitana permanecesse impecável: um sorriso mínimo, um olhar profissional, um tom neutro.

-Foi... ontem?

-Sim. Às dez horas. No apartamento dele. Vista para o mar, amigo! E essas luzes! Tudo tão... íntimo.

Íntimo. Que palavrão quando você não é o único.

A cliente, alheia ao terremoto interno que estava causando, falou sem filtro.

-Ele me deu vinho, colocou uma playlist de músicas do The Weeknd e então... bem, você sabe. -Ele riu, baixando a voz-. Não direi mais nada. Mas juro que pensei: esse homem deve ter muitas garotas. É bom demais para ser exclusivo.

E aí estava a ironia: Iker não era exclusivo. Era um universo aberto cheio de salas com nomes diferentes... e Aitana era apenas mais uma porta.

Dez segundos, pensou ele, ativando a lâmpada UV.

Dez segundos para parar de chorar.

Dez segundos para o esmalte secar e o coração também.

Quando o cliente foi embora, deixando uma gorjeta e prometendo "voltar logo", Aitana se trancou no pequeno banheiro dos funcionários. Ele colocou as mãos na pia e se forçou a olhar no espelho.

Olhos opacos.

Sobrancelhas perfeitamente desenhadas.

O rímel estava começando a desbotar.

-O que você fez, Aitana? - ele sussurrou suavemente, como se a pergunta pudesse ser respondida pelo reflexo.

E então a lembrança veio.

FLASHBACK

Uma semana antes.

Evento privado.

Velas perfumadas, unhas vivas, modelos andando de lingerie. A festa Glow.

Aitana foi contratada para pintar unhas rápidas e "visualmente impactantes" em meninas que seriam fotografadas com anéis, óculos e acessórios. Uma estratégia de publicidade viral de beleza.

E ele estava lá.

Iker Valverde.

Com uma camisa preta, óculos de grife e aquele ar de perigo gentil que era inebriante.

"Gostei do jeito que você faz os detalhes", disse ele enquanto ela usava um pincel fino para decorar uma unha estilo gelatina em um tom pêssego vibrante.

Ela, lisonjeada mas nervosa, apenas respondeu:

-Obrigado.

-E você faz visitas domiciliares?

-Só se eu gostar do cliente.

-Então tenho esperança.

Daquela frase até a taça de vinho que compartilharam duas horas depois, tudo foi uma sequência de movimentos sutis, olhares lentos e sorrisos persistentes. Nada foi desajeitado, tudo foi calculado. E ela, tola ou humana, caiu.

Mais datas vieram depois. Tardes no escritório, cafés da manhã secretos, mensagens de texto à meia-noite.

E uma noite, aquela noite, sem camisinha.

"Relaxe, estou com tudo sob controle", ele disse a ela em voz baixa, colocando as mãos em suas costas nuas.

De volta ao presente, Aitana procurou sua pequena agenda. Lá ele escreveu tudo. Todos. E entre as páginas marcadas com adesivos de flores, marcadores de texto e clipes de papel, também estavam suas datas pessoais: ciclo menstrual, ovulação, doenças.

Dia 14. Só naquela noite.

Ela sentia como se o mundo estivesse girando sem ela. Ele desabou em uma das cadeiras no vestiário do spa, com o rosto entre as mãos e o coração pesando no peito como uma pedra molhada.

-E se eu estiver grávida? - ele disse em voz alta, não querendo se ouvir.

A porta se abriu. Era Camila, a recepcionista, com seu uniforme branco imaculado e celular na mão.

-Aitana! Iker está aqui! Ele veio perguntar se você poderia ajudá-lo. Ele diz que quer organizar uma sessão de unhas exclusiva para suas modelos e que você é "a melhor".

Aitana sentiu falta de ar.

Agora ele passou a usar como se nada tivesse acontecido? Depois de usá-lo também em metade da cidade?

"Diga a ele que não estou disponível", ele disse, levantando-se lentamente. Estou ocupado.

-Mas...

-Fala pra ele, Camila. Por favor.

Camila assentiu, embora seus olhos permanecessem nela por mais um segundo. Sabia. Eu sabia de algo. Todos estavam começando a ficar desconfiados.

Aitana ficou sozinha novamente. Ele caminhou até os fundos do spa, onde o sol entrava por uma claraboia e tudo cheirava a lavanda e acetona. Havia um canto onde ela às vezes descansava, com uma cadeira de veludo rosa.

Ele sentou-se. Ele fechou os olhos. Ele encostou a cabeça no encosto.

E ele chorou.

Não apenas por causa da traição. Não apenas por causa do engano. Ela chorou por si mesma. Por causa de sua ingenuidade. Por ter acreditado em palavras disfarçadas de promessas. Por ter confundido carícias com compromisso.

Ela chorou por todos aqueles que, como ela, pensavam que eram os únicos.

E enquanto ela secava o rosto, uma ideia criou raízes como uma semente:

"Isso não vai ficar assim."

Ele se levantaria.

Ele terminaria o seu dia.

Mas não seria a mesma coisa.

Agora fiquei com uma dúvida enorme.

E talvez, só talvez, ele não quisesse saber a resposta.

                         

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