Capítulo 10 Apenas uma chance

POV Doutor Alex.

Meu coração saltava. A ansiedade me corroía por dentro enquanto esperava por uma resposta, mesmo depois que tinha obtido a confirmação de Viviane. Mesmo assim, eu ainda esperava ouvir a resposta sair dos lábios de Liz quando ela abriu as pálpebras. Ela simplesmente deu as costas e saiu.

Porra! Liz continuava se negando a admitir. Fui atrás e a encontrei.

Deixei o controle escorrer pelos dedos e fui atrás. Não podia, não conseguia deixá-la escapar de novo.

Encontrei Liz no corredor, tentando recuperar a própria compostura enquanto prendia os cabelos no alto da cabeça com os dedos trêmulos. O rosto dela exibia um tom pálido, quase fantasmagórico.

- Vai ficar aí calada? - indaguei, sem conseguir esconder a aspereza da minha voz.

Ela virou devagar. Havia um desafio velado nos olhos quando me encarou.

- Não permiti que você colhesse nenhum material para o teste de paternidade... - Ela disparou com firmeza.

O que era aquilo? Orgulho ou desespero?

Dei um passo à frente.

- Eu não realizei o teste ainda... mas nem precisa, já que você acabou de confessar. - Afirmei, atento ao modo como seus ombros cederam, traindo a resistência verbal. - Por que continua tentando negar?

Elizabeth desviou os olhos e passou a alternar o peso do corpo entre os pés, como se o salto estivesse castigando-a por dentro.

- Charlie estava queimando em febre e você foi passear com o britânico. - Disse.

- O nome dele é George. E ele é meu noivo. - enfatizou, comprimindo os lábios.

Sem me conter, esbocei uma risada seca, olhando para o lado oposto enquanto duas enfermeiras passavam. Uma delas acenou para mim.

" George é um babaca e se fosse realmente o pai do Charlie, ele estaria aqui", pensei, e minhas sobrancelhas se estreitaram num gesto involuntário.

- Aliás, o Charlie não estava com febre quando saí de casa... - retrucou ela, semicerrando os olhos. - Quer saber? Não tenho que te dar satisfações.

Ela se virou novamente, determinada a fugir daquela conversa.

- Espera. - Interpus meu corpo diante do dela, bloqueando o caminho com a urgência que latejava nas veias. - Essa conversa ainda não acabou.

Elizabeth cruzou os braços, jogando o quadril levemente para o lado como.

- Não tenho mais nada pra falar com o senhor, doutor Alex... - mencionou com desprezo.

Liz continuava agindo com aquela indiferença irritante.

Apesar da maneira como me tratava, estávamos tão próximos que pude sentir o aroma do perfume sutil e adocicado em sua pele. O mesmo cheiro que impregnava os lençóis do meu apartamento quando beijei todo o seu corpo pela primeira vez.

Estávamos tão próximos que precisei controlar o impulso de abraçar Liz e beijá-la ali mesmo naquele corredor frio e impessoal.

- No dia em que você foi ao meu apartamento há seis anos... - comecei, em voz baixa - A Marcelly te atendeu e você só entregou a sua carta de demissão. Por que não ficou para conversar comigo?

- Não sou boba, Alex. - disse ela. - Eu sabia o que estava rolando entre você e sua irmã adotiva naquele apartamento. Antes de te procurar, tentei te ligar. Mandei mensagem. Queria te contar e você simplesmente me ignorou. - As palavras saíram entrecortadas.

Diante dos meus olhos, uma lágrima ousou escapar do canto de seu olho esquerdo. Porém, Liz foi mais rápida. Secou com o dorso da mão.

Aquele casaco trench coat mal cobria o decote do vestido que exibia o colo do seio que subia e descia com a respiração alterada.

Alguns fios de sua franja haviam caído ao lado de sua testa, emoldurando o rosto com delicadeza. A boca estava trêmula. A mesma boca que um dia sorriu por minha causa e que gemia nas vezes que transamos apaixonadamente.

"Porra, fui tão estúpido!" Absorto, eu me julgava.

Liz deu orgulho para pais quando se formou em medicina; no entanto, ela estava ressentida comigo. Engoli em seco ao observar os seus olhos cheios de rancor e mágoa.

- Sua família estava passando por um momento difícil e achei melhor esperar um pouco... - murmurei, com as mãos suspensas entre nós, sem saber se tocava ou recuava. - Liz, você podia ter falando sobre a gravidez por mensagem.

Ela permaneceu calada, mas os olhos ainda se cintilavam com as lágrimas.

- Por que escondeu isso de mim por tantos anos? - Perguntei.

- Porque não queria te ver - retrucou, encarando-me. - Você estava por aí se divertindo, postando fotos em viagens e vivendo intensamente a sua vida de solteiro. Inclusive, tinha colegas brasileiras que estuvam em Londres. Algumas conversavam com você por mensagem - Liz fez uma pausa, e logo concluiu: - nem preciso enumerar tudo o que eu descobri sobre você nos últimos anos.

Ela arfava. As mãos tremiam, mas o que me desmontou foi o modo como o queixo dela cedeu, revelando um cansaço que anos de silêncio não conseguiram curar.

- Eu queria te odiar. - confessou. - Queria mesmo.

- Liz... - estendi a mão - Me deixa fazer parte da vida de vocês.

Ela recuou um passo e negou com a cabeça.

Nunca quis tanto uma chance de redenção. Por anos, jurei que nunca cometeria o mesmo erro do meu pai e acabei fazendo a mesma merda.

Naquela noite, Liz deixou claro que eu era uma ameaça à estabilidade que ela construiu em volta de Charlie.

- Você diz isso agora, Alex... - ela murmurou, desolada. - Mas e quando mudar de ideia?

- Não vou mudar. - falei, determinado. - Só quero ficar perto de vocês.

Elizabeth piscou várias vezes. O rosto estava ruborizado, o peito arfava sob o casaco.

- Apenas uma chance, Liz. - Aproximei-me um pouco mais. - Só uma!

O seu olhar percorria meu rosto. Então, baixou os olhos. Respirou fundo.

- Não! - Com a voz embargada, murmurou a resposta. - Vou voltar para Londres e casar com George.

Assenti lentamente. O corredor parecia estar se comprimindo ao meu redor.

- Está bem... - aceitei, saindo de seu caminho.

Elizabeth passou por mim e entrou no quarto. Fiquei encarando a porta fechada.

"Mas que merda!" Gritava em minha mente conforme a minha face queimava com a onda de emoções que tomavam conta de mim. Comecei a esfregar o meu rosto com as minha mãos enquanto dava um fora dali,

Pela primeira vez em anos... eu só queria ter de volta a mulher que deixei escapar.