Capítulo 6 Noiva de um britâncio

Ponto de vista do doutor Alex.

Ela virou-se de lado, cruzando os braços com mais força.

- Doutor Alex, não devia fazer isso. Está parecendo patético.

- É mesmo? Patético é o que eu me tornei por tentar entender por que você desapareceu sem dizer uma palavra?

- Patético é o senhor ficar me seguindo por aí e ficar falando que é o pai do meu filho.

O silêncio entre nós se alastrava, mas ela não recuou. Não piscou. Só me encarou, impassível.

- Já disse que o Charlie não é seu filho, - asseverou, a voz firme como pedra. - Ele é filho do meu noivo. Ponto final.

Ri, incrédulo, balançando a cabeça.

- Ficou noiva de um britânico, doutora Welsch.

- Sim, George é um gentleman.

Seu maxilar travado, os olhos ligeiramente umedecidos, as mãos escondendo-se sob os cotovelos como se segurassem uma mentira prestes a desabar.

- Você vai olhar nos meus olhos e manter essa mentira?

Por um instante, a sua fisionomia suavizou. Mas foi apenas um lampejo.

- Você acha que pode invadir minha vida, parar um elevador, me cercar com perguntas e esperar que eu te dê uma chance? - rebateu, dando um passo à frente. - Você não tem esse direito, Alex. Logo vou me casar com o pai do meu filho e você não faz parte disso - mencionou ela, mordendo o lábio inferior logo depois.

- Por que você não me dá outra chance? - retruquei, aproximando-me mais.

Ela me olhou com tanta intensidade que minhas palavras murcharam. O cheiro sutil de seu perfume, o modo como a luz tocava sua pele, como a respiração dela acelerava... tudo em Liz me puxava para ela.

- Você já tem muitas mulheres em sua vida, doutor - sussurrou, tentando passar por mim para tocar no botão e destravar o elevador.

- Não tinha ninguém seis anos atrás.

- E quanto àquela vadia francesa que estava no seu apartamento quando fui lá entregar a minha demissão.

- Espera, ela é minha irmã adotiva... - falei, sem me aprofundar demais, na verdade.

Ela fechou os olhos por um momento, como se tentasse bloquear o que eu dizia.

- Suas mentiras não me convencem - murmurou, com um cansaço que parecia vir do fundo de seu coração. - Vou me casar com George.

- E quanto a mim?

- Você é o homem que parou de atender as ligações, rejeitou as minhas chamadas e sumiu da minha vida quando eu mais precisava...

Havia um brilho nos olhos dela que quase me partiu em dois.

- Quero fazer um teste de paternidade...

- Que loucura é essa, Alex?

- O garoto fez aniversário há poucos dias... as datas coincidem com a última vez que transamos.

- Não me venha com essa. - A voz de Liz falhou. - Você não pode simplesmente aparecer e reivindicar um lugar que nunca ocupou, - disse, sem qualquer preâmbulo.

- Não quero tirar nada de você, Liz. Só quero ter certeza de que o Charlie é meu filho.

Ela deu um passo atrás.

- Não vou permitir que faça isso com meu filho.

O elevador parecia apertado demais para conter nossas mágoas. As paredes de metal refletiam nossos rostos distorcidos, e por um momento, tudo que vi foi a dor que causamos um ao outro.

- Você me odeia, - comentei, quase como uma constatação.

- Odeio você e tudo o que você fez comigo. - As palavras dela ficaram no ar como fumaças densas e ardentes.

Eu me aproximei mais uma vez. Ela não se moveu.

- Eu sei que ainda existe algo entre nós, Liz.

- O que existe entre nós se quebrou no dia em que você virou as costas pra mim, - murmurou, com voz baixa. - Não confunda mágoa com desejo, Alex.

- E se eu disser que nunca parei de pensar em você?

Ela não respondeu. Apenas me olhou, longa e demoradamente. Depois, com um suspiro curto, virou-se e apertou o botão de funcionamento do elevador.

"Porra! Mas que merda!" Xinguei em meus pensamentos.

As luzes voltaram ao normal. O silêncio se instalou de novo, dessa vez com resignação.

- Doutor Alex, eu juro que vou te denunciar por assédio no recursos humanos se o senhor fizer isso outra vez. - Ela me ameaçou e quando as portas se abriram, saiu sem olhar para trás.

Liz caminhou como se estivesse acima de tudo. E, por Deus... eu ia encontrar um modo de fazer com que a verdade viesse à tona.

Nem mesmo o orgulho ferido de Elizabeth Welsch seria capaz de me impedir.

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Ponto de vista de Elizabeth.

Depois de passar meia hora tentando procurar outro mentor que pudesse me dar orientação, suporte e incentivo durante a minha residência no Saint-Mary... eu fui direto para emergência do hospital onde fiquei no serviço braçal. Para minha sorte, o doutor Alex foi bastante profissional e parou de me pertubar, mas por outro lado, estava me designando para tarefas como preparar e transportar equipamentos e auxiliar em alguns procedimentos realizados por meus colegas.

"Esse canalha só está fazendo isso para se vingar". Xingava em meus pensamentos, fuzilando as costas dele com o olhar enquanto ele sorria para uma paciente francesa. "Esse babaca gosta de validação".

Nossos olhos se cruzaram e eu desviei meu rosto para minha amiga Missy que estava se entendendo bem com um antigo residente. O doutor Laporte era um belo homem negro. Devia ter quase 1,80 metros de altura e mesmo com o jaleco, ele parecia ter um porte de atlético de dar inveja.

- Doutora Welsch! - Alex me olha com uma cara feia quando me chama. - Leve aquele paciente para fazer uma tomografia. - Olhou na direção da maca que estava do outro lado.

- O Laporte é mais forte...

Ele me ignora. Tirou os óculos e limpou com um lenço que retirou do bolso do jaleco.

Suspiro o mais alto que consigo, ponho as mãos na cintura e espero uma resposta. O doutor Alex voltou a conversar com a paciente de sotaque italiano.

Resignada, empurrei a maca com força, mesmo sentindo os braços doendo após horas ininterruptas de plantão. O paciente gemia baixinho, e ela tentava ignorar a exaustão enquanto manobrava pelos corredores estreitos da emergência. Ao virar, vi o doutor Laporte dobrado sobre uma paciente enquanto Missy o auxiliava. O rosto sério, os dedos ágeis ajustando um acesso venoso com precisão. Parei por um instante, apenas o tempo suficiente para notar como ele murmurava algo para acalmar a mulher no leito. Depois sacudiu a cabeça, respirou fundo e cochichou algo para Missy antes me acompanhar.

- Evite irritar o chefe... - disse Laporte ao me alcançar. - Doutor Alex é um cara legal, mas odeia insubordinação.

- Valeu pelo conselho.... - falei e suspirei o mais alto que consigo.

- Eu acho que ele está implicando com você porque você faltou e se atrasou.

"Aham!" Mentalmente, eu concordava com desdém. "Alex é um idiota egocêntrico". Sorri satisfeita com esse pensamento.

- Deixa que empurro essa maca pra você. - Gentilmente, doutor Laporte se ofereceu.

- Merci! - Esbocei um sorriso grato e olhei para trás.

"Ah, não!" Virei para frente, quebrando o contato visual quando Doutor Alex tentava nos alcançar com suas passadas largas.