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Capítulo 1: A Rosa e a Presa
Os sinos do reino de Eldoria dobraram três vezes ao amanhecer. Um som grave, frio, como se o próprio céu chorasse. Na aldeia de Varen, todos sabiam o que isso significava: o tributo anual para o Reino Sombrio de Kaelthar havia chegado. E, naquele ano, o tributo seria de sangue real.
A princesa Lysenna observava pela janela do castelo. Seus olhos azuis, como o lago de gelo do norte, estavam fixos nas montanhas distantes, onde as sombras dançavam sob a luz da lua cheia. Ela ouvira as histórias sussurradas pelos criados - sobre o Príncipe-Lobisomem que governava além das florestas escuras, sobre seu exército de bestas, sobre o pacto selado há um século: em troca da paz, Eldoria ofereceria uma jovem todo ano. Nenhuma jamais retornou.
Mas nenhuma delas era filha do rei.
- É você - disse a rainha, com os olhos marejados. - A profecia exige sangue nobre. Só assim o monstro poupará nosso povo.
Lysenna não chorou. Ela não gritou. Apenas assentiu. Não por coragem, mas por resignação. No fundo, sempre soubera que seu destino seria uma moeda em jogo entre reinos e monstros.
Na calada da noite, escoltada por soldados que mal ousavam olhá-la, foi levada pelas trilhas gélidas da floresta. O luar banhava a carruagem com uma luz prateada e cruel.
Ao chegar ao Portão Sombrio de Kaelthar, os guardas recuaram com medo. As portas se abriram por si, como se reconhecessem o cheiro do sacrifício.
E então ela o viu.
O príncipe lobo.
Alto, envolto em um manto negro, seus olhos dourados brilhavam como brasas. Era belo de uma forma terrível. Selvagem. Majestoso. Perigoso.
- Você é minha agora - disse ele, sua voz grave como trovão abafado. - Mas não como pensa.
Ela ergueu o queixo, desafiadora. - Sou princesa de Eldoria. Não sou sua presa.
Ele sorriu, expondo presas brancas como marfim.
- Veremos quanto tempo resistirá antes de implorar por minha marca.