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Capítulo 3: A Marca da Lua
Lysenna não sabia o que esperar ao ouvir aquelas palavras, mas algo dentro de si tremeu. Não era medo, mas uma sensação profunda de que sua vida estava prestes a mudar para sempre.
Kael observou cada uma de suas reações com olhos cautelosos, como um predador à espera do momento certo para atacar. Ele não era como os monstros das histórias - ou talvez fosse, mas havia algo mais, algo que ela não conseguia decifrar.
- A maldição - disse ela, sentindo uma leve pressão no peito. - O que ela significa? O que você quer de mim?
Kael deu um passo à frente, mas não se aproximou demais. Seu olhar era penetrante, como se lesse sua alma, mas sem a arrogância de um ser imortal. Era uma dor antiga que se refletia em seu olhar dourado.
- Fui amaldiçoado por um feiticeiro há muitos séculos. Ele me fez prisioneiro da lua, condenando-me a viver entre dois mundos, sem jamais encontrar paz. Uma vez por mês, sou forçado a me transformar - não apenas em lobo, mas em algo mais selvagem, algo irreconhecível. Cada vez que a lua cheia nasce, perco o controle. E no entanto... o feitiço poderia ser quebrado.
Lysenna o encarou, sem saber o que responder. A sombra de uma ideia surgiu em sua mente, mas ela não queria acreditar.
- E você acha que... eu posso salvar você? - perguntou, tentando não parecer incrédula.
Kael deu um sorriso amargo, seus dentes brancos refletindo a luz suave da lua que entrava pela janela.
- Não sou o único prisioneiro, Lysenna. Você carrega o sangue de antigos reis, e em sua linhagem repousa um poder que pode selar ou quebrar o feitiço. Mas... para isso, você terá que se entregar a mim de uma maneira que jamais imaginou.
Ela recuou um passo, o peito apertado. Ele queria mais do que sua ajuda. Queria algo mais íntimo, mais doloroso.
- Você me vê como uma solução, uma chave para o seu sofrimento. Mas eu não sou um objeto, Kael. Não sou um feitiço a ser quebrado.
Ele a olhou com intensidade.
- Eu não disse que você era um objeto, princesa. Mas você será parte de tudo isso. O amor, o ódio, o sacrifício - tudo isso será necessário para que a maldição cesse. Quando a lua se alinha, o feitiço se enfraquece. A magia antiga exige um preço... e o preço, Lysenna, é você.
Aquelas palavras a atingiram com o peso de um golpe. Ele não estava falando de sua liberdade. Ele estava falando de algo muito mais profundo. Ela não seria só escrava. Ela seria a resposta para uma vida que ele não sabia como viver sem a transformação.
- Você não tem direito de me fazer isso - ela sussurrou, o rosto queimando de indignação.
Kael, no entanto, se aproximou mais, como se fosse inevitável. A presença dele, algo quase palpável, tomava o espaço ao seu redor. Ele não tocou nela, mas algo dentro dela se aqueceu, um impulso primitivo que a fazia querer mais, mesmo contra sua razão.
- Eu sei o que você sente, Lysenna. Não sou o único prisioneiro aqui.
Ela sentiu um calafrio, mas não conseguiu desviar o olhar. Seus corações, de maneiras diferentes, batiam em um ritmo que parecia cada vez mais em sintonia.
Kael se afastou então, um lamento sutil em seu rosto.
- Eu não vou forçar você. Mas uma escolha precisa ser feita. E logo, a lua estará no seu ponto mais alto.
A tensão no ar era palpável. Ele não a tocou, mas as palavras ficaram entre eles, pesadas, imutáveis.
Lysenna sabia que sua vida, sua alma, estavam prestes a se entrelaçar com a dele de uma maneira que não poderia mais controlar. Mas a verdadeira questão era: até onde ela iria para salvar uma criatura tão monstruosa... e, mais importante, até onde ela iria para se salvar?