Capítulo 2 Coração da lua escarlate

Capítulo 2: O Castelo da Besta

O castelo de Kaelthar não era feito de pedra, mas de ossos. Ossos trançados com raízes negras, cobertos por musgo que pulsava como carne viva. Quando Lysenna atravessou os portões, sentiu o ar mudar - mais pesado, denso, impregnado de magia antiga e medo.

Lá dentro, o silêncio era quebrado apenas pelo estalar das chamas nas tochas e pelos uivos distantes. O príncipe a conduziu por corredores longos, até uma câmara escura onde a lua iluminava um trono esculpido em rocha negra.

- Aqui é onde decidirá seu destino - disse ele, parando diante dela. - Há duas escolhas: viver como minha serva... ou morrer como uma tola.

Lysenna manteve os olhos fixos nos dele. - Prefiro morrer de pé a viver de joelhos.

- Então ajoelhe-se por vontade própria - ele respondeu, aproximando-se com lentidão felina. - Pois não tomarei nada de você... até que deseje dar.

Essas palavras, ditas com um toque de ameaça e curiosidade, deixaram-na mais confusa do que assustada.

- Qual o seu nome? - ela perguntou.

- Kael - respondeu, com surpresa. - E o seu não me importa... ainda.

Mas naquela noite, ele não a tocou. Em vez disso, deixou-a num quarto alto da torre leste, trancado por encantamentos. Não havia guardas - apenas lobos que vigiavam os corredores como sentinelas.

Dias se passaram. Kael não a maltratava, nem forçava nada. Mas tampouco a libertava. Observava-a de longe, às vezes em forma humana, outras como lobo cinzento de olhos dourados. Havia algo quebrado nele, ela percebia. Algo faminto. Mas não só por carne.

Por compreensão. Por aceitação. Por redenção, talvez.

Lysenna, aos poucos, deixava o ódio dar lugar à curiosidade.

E então, certa noite, quando a lua tingiu o céu de escarlate, Kael veio até ela com uma verdade.

- Você não é só humana, Lysenna. O sangue antigo corre em suas veias... e só você pode quebrar a maldição que me aprisiona entre homem e fera.

Ela o encarou, com o coração acelerado.

- Então... você precisa de mim?

Ele se aproximou, com um sorriso torto.

- Não, princesa. Eu desejo você. E isso é muito mais perigoso.

            
            

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