OS AGROBOY'S - PAIXÃO INTENSA
img img OS AGROBOY'S - PAIXÃO INTENSA img Capítulo 5 5
5
Capítulo 6 6 img
Capítulo 7 7 img
Capítulo 8 8 img
Capítulo 9 9 img
Capítulo 10 10 img
Capítulo 11 11 img
Capítulo 12 12 img
Capítulo 13 13 img
Capítulo 14 14 img
Capítulo 15 15 img
Capítulo 16 16 img
Capítulo 17 17 img
Capítulo 18 18 img
Capítulo 19 19 img
Capítulo 20 20 img
Capítulo 21 21 img
Capítulo 22 22 img
Capítulo 23 23 img
img
  /  1
img

Capítulo 5 5

Entre Ventos e Silêncios

O vento assobiava forte naquela noite, anunciando chuva. Léo acordou antes mesmo do galo cantar. O cheiro do campo úmido invadia o quarto pela janela entreaberta, e os galhos batiam contra o telhado de zinco como dedos inquietos de uma lembrança ruim.

Levantou-se devagar, vestiu a calça surrada, calçou as botas e desceu para verificar os galpões antes da tempestade. Mas algo dentro dele estava mais inquieto do que o céu lá fora.

Desde o último encontro com Letícia, ele não dormia direito. Não porque sentisse falta dela - mas porque as palavras da ex-namorada haviam tocado um ponto sensível. Um medo que ele carregava em silêncio: e se Laura também fosse embora? E se, no fundo, ele só estivesse servindo de abrigo temporário para outra alma em fuga?

Laura acordou com o barulho de passos na varanda. Pela fresta da cortina, viu Léo com o casaco jogado sobre os ombros, olhando para o céu.

Abriu a porta com um bocejo abafado.

- Madrugou hoje.

- A chuva vem pesada. Vim ver se tu precisa de lona pras tuas coisas ali atrás da casa.

- Já cobri ontem, mas obrigada.

Ele assentiu e ficou em silêncio.

- Aconteceu alguma coisa?

- Não.

Mentira. Mas ela sabia que forçar uma resposta era como tentar colher milho verde demais: só machucava os dedos.

- Vai querer café?

- Aceito.

Enquanto ela entrava, Léo observou a varanda. As botas pequenas de Liz estavam ao lado da porta, com barro seco nas solas. Um vaso com manjericão recém-plantado ocupava a prateleira. Aquilo já era casa. Já era lar.

Sentou-se à mesa da cozinha, o cheiro de café fresco preenchendo os cantos.

Laura pousou duas xícaras. Ele a observou com mais atenção do que deveria. As mãos dela eram firmes, calejadas, e ainda assim delicadas. Era bonita, mas não de um jeito que chamava olhares - era de um jeito que segurava eles. Que prendia.

- Por que você voltou a São João do Triunfo, Léo? - ela perguntou, pegando ele de surpresa.

- Eu nunca fui embora. Nem quando pensei em ir. A terra me prende.

- Isso é bom?

- Às vezes. Outras, parece que a gente tá amarrado num passado que não quer soltar.

- Letícia é esse passado?

Ele a encarou.

- Ela foi. Mas agora... não sei se é arrependimento ou ego. Só sei que você me assusta mais que ela.

Laura riu, confusa.

- Eu?

- É. Porque tu não tá me devendo nada, não tá presa a mim, e mesmo assim... eu quero te prender. E isso é perigoso.

Ela se aproximou da mesa, apoiando os cotovelos.

- Eu não sou uma moça de cidade. Mas também não sou de passar a vida fugindo. E se eu ficar... vai ser porque escolhi. Não por pena. Não por necessidade. Mas porque a tua presença me acalma.

Léo respirou fundo.

- Eu não quero te perder, Laura.

- Então não se apressa. Só cuida da horta, e da minha filha... que o resto a gente planta com o tempo.

Do lado de fora, a chuva desabou de uma vez. Grossa, pesada, encharcando tudo. Mas dentro daquela casa simples, o calor era outro.

Mais tarde, com Liz já dormindo, Léo se preparava para sair quando Laura o impediu com um toque leve no braço.

- Fica mais um pouco.

Os olhos dele buscaram os dela. Não havia dúvida. Nem urgência. Só desejo - calmo, consciente, mútuo.

Ele deixou o casaco cair sobre a cadeira, e quando os lábios se encontraram, foi como se duas almas marcadas finalmente tivessem se reconhecido. Sem pressa, sem promessas, apenas presença.

Laura o conduziu até o quarto como quem conduz alguém ao próprio coração.

E ali, entre lençóis simples e o som da chuva no telhado, Léo sentiu que podia, finalmente, criar raízes em outra coisa além da terra.

Mas o dia seguinte trouxe mais que sol entre as nuvens.

Letícia apareceu na porteira, vestida demais para a simplicidade do campo.

- Preciso falar contigo, Léo. É urgente.

Ele saiu da estrebaria e se aproximou.

- O que foi agora?

- Estou grávida.

O mundo parou por dois segundos.

Ele não respondeu. Não podia. As palavras ficaram presas na garganta como um galho atravessado no curso do rio.

- E antes que diga qualquer coisa... é teu.

Léo sentiu as pernas bambearem.

O passado, que ele achou que tinha enterrado com o pai, estava agora vivo, pulsando, e pedindo explicações.

E Laura... Laura não fazia ideia da tempestade que ainda estava por vir.

                         

COPYRIGHT(©) 2022